Cine Leblon fica na esquina da Avenida Ataulfo de Paiva com a Rua Carlos GoisSandro Vox
Após oito anos fechado, Cine Leblon reabre totalmente repaginado
Rebatizado como Kinoplex Leblon Globoplay, espaço agora conta com três salas VIPs e cardápio sofisticado. Moradores e antigos frequentadores festejam
Rio - Após oito anos fechado, o Cine Leblon reabre suas portas nesta quinta-feira (7) com tudo novo; até o nome. Construído em 1951 na esquina da Avenida Ataulfo de Paiva com a Rua Carlos Gois, ele passou por reforma ampla e agora faz parte de um edifício comercial. Apesar disso, as características e o charme arquitetônico do térreo foram mantidos. Moradores do bairro e antigos frequentadores comemoram a volta do histórico cinema de rua da Zona Sul.
Rebatizado de Kinoplex Leblon Globoplay, a reabertura é fruto de parceria da rede de cinemas Severiano Ribeiro com a plataforma de streaming. O local conta com três salas Platinum, o 1º no Rio a ter 100% das salas com conceito VIP: poltronas reclináveis, descanso para pés e bandeja para lanche, além de projeção a laser, sendo uma delas com tecnologia 3D. Com 1.246,32 metros quadrados, o lugar tem capacidade para 168 pessoas. Nesta quinta, o espaço receberá um evento fechado, com artistas e outros convidados.
A edificação precisou de um destombamento para passar por obras. Agora, abrigará o Centro Empresarial Luiz Severiano Ribeiro, edifício com sete pavimentos, 58 salas comerciais, além de lojas. Construído inicialmente na década de 50, o térreo, de arquitetura em estilo art déco e lindas peças em mármore assinada por Jonas da Fonseca Torres de Saules, genro de Luiz Severiano Ribeiro, fundador do grupo, foi preservado.
O que segue intocável também é a memória de antigos frequentadores que desconheciam a reabertura. Um exemplo é o aposentado Dauro Pedras, de 71 anos, todos eles vividos no Leblon. Pedras afirma que sua história de vida se confunde com o local. "Assisti aqui ao meu filme favorito, 'Era uma Vez no Oeste', em 1969, quando tinha somente uma sala. Eu moro aqui na rua de trás e é muito bom ter de volta essa opção de lazer, sem a necessidade que nos desloquemos até o shopping para ir ao cinema. É bom para mim e talvez melhor ainda para o bairro", declara.
Residentes na Tijuca, Eliseu Cardoso e Esther Gutierez, 30, são grandes entusiastas dos cinemas de rua. Pela falta desse tipo de local em seu bairro, afirmam frequentemente vir até Botafogo, onde ainda vive a cultura das salas fora de shoppings. Apesar do streaming estar cada vez mais presente, o cinema de rua é visto por eles como elemento de "resistência". "Os cinemas de rua costumam, por vezes, passar filmes que não entram no catálogo dos streamings ou que são muito difíceis de encontrar. É a oportunidade de assistir a algo que não está necessariamente dentro do circuito tradicional ou hegemônico", comenta.
Iza Fiterman, 62, confessa não saber dizer qual foi o último longa que assistiu no antigo Cine Leblon, local frequentado constantemente com seu marido. Amante de cinema, ela afirma ter ficado surpresa com a quantidade baixa de público nas últimas sessões que foi. "Coisa de uns cinco ou seis casais espalhados pela sala do Shopping Leblon e da Gávea que fui e só. Confesso que fiquei muito surpresa. Como fã de cinema, eu torço muito para que essa tradição retorne com força, apesar de ainda vivermos o período da pandemia e a necessidade do distanciamento social. Cinema é uma experiência que precisa ser vivida. Cinema de rua, então, nem se fala! Eu confesso que não gosto de shopping. E, pra ir ao cinema do shopping, você necessariamente precisa entrar. E nada se compara a um bom filme, posteriormente acompanhado de café próximo ou ao Clipper, bem aqui ao lado", ponta.
Vizinho de esquina, o restaurante Clipper "assistiu" aos bons tempos do Cine Leblon. Inaugurado seis anos antes do cinema, o estabelecimento é um dos mais tradicionais do bairro, seja pelo prato de picanha servida ou do tradicional chopp. Apesar de toda história, o comércio é mais um daqueles que sofreu em cheio os efeitos da pandemia. Funcionário desde 1980, João Evangelista, 63, que lembra com carinho das idas ao cinema para ver filmes da Vera Fischer, recorda que, em função das sessões vespertinas, à noite, o movimento era muito bom. Ele torce para que isso se repita agora com o local reaberto. "Ficou fechado por muitos anos e isso foi sentido aqui; não só aqui, como em toda a redondeza. Com a volta, a gente torce para que a clientela cresça novamente", aposta.
Quem também comemora esse retorno é Evelyn Rosenzweig, presidente da associação de moradores e comercial do Leblon. "É um efeito em cascata: a volta de um marco como o Cine Leblon leva mais pessoas para a rua, trazendo vida ao bairro. Mais do que isso, devolve ao Leblon, cheio de bares frequentados por um pessoal mais jovem, uma opção de lazer a uma faixa etária mais elevada. Além disso, dinamiza o comércio que terá interesse em revitalizar a área, enfim. É uma conquista, não só dos moradores, como a preservação de uma tradição carioca", enfatiza.
Para além da apelo à volta de um cinema de rua, há outro atrativo. O cardápio da nova bombonière é um capítulo à parte. Traz opções gourmet, como pipoca com azeites saborizados, fondue de pipoca doce com chocolate e de pipoca salgada com queijo. Bebidas como vinhos, espumantes, cerveja, milk-shake de pipoca e outros "comes e bebes", inclusive, com opção vegana.
Na estreia, a expectativa é da transmissão de filmes nacionais nas três salas, além de exibições especiais do primeiro episódio de 'Rio Connection', previsto para estrear na plataforma somente em 2023.
Odeon fora de cartaz'
Enquanto os moradores do Leblon voltam a sorrir com a revitalização do cinema mais importante do bairro, no Centro o histórico Odeon segue fechado. Questionada por O DIA, a assessoria do grupo Severiano Ribeiro confirmou que o mais tradicional cinema de rua do Rio não tem previsão para reabertura. Sem sessões diárias, a sala continuará voltada somente para eventos e festivais de cinema. No entanto, não há nenhum deles à vista programado.
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