É incrível como a gente vai permeando os tempos a todo instante no pensamento, tentando entender o que passou, como vivemos e até o que virá. Como se um dia pudéssemos realmente dominá-losArte: Kiko
O meu papo com ele, no entanto, se situou no presente, ou para mim, num futuro ainda distante. É incrível como a gente vai permeando os tempos a todo instante no pensamento, tentando entender o que passou, como vivemos e até o que virá. Como se um dia pudéssemos realmente dominá-los.
Confesso, no entanto, que esse novo universo ainda é muito abstrato para mim, uma amante do jornal e do livro impressos. E o sentimento não é apenas meu. Conversando com amigos da mesma idade ou mais velhos, a sensação é compartilhada de tal forma que não nos sentimos desatualizados a sós.
Mas ouvir o novo— e também o que passou — é o que permite que diferentes gerações se entrelacem. Ficou nítido na cena que eu fotografei no Parque Lage naquele domingo: a da família da minha amiga Camilla. Estavam lá o seu filho de 14 anos, a sua mãe, e o seu sobrinho, João Vittor, acompanhado da namorada. João, inclusive, integrou o projeto de criação de NFTs de Gilberto Gil, um ícone datado apenas pelo nascimento, em 1942, mas para sempre imortal na nossa memória.
Particularmente, ouso dizer que carrego várias gerações no meu DNA, muito além do ano de 1977 da minha certidão. Às vezes, vou buscar lá atrás um gosto musical para chamar de meu. Da mesma forma que as novas tecnologias encontraram abrigo ao serem expostas no sexagenário Parque Lage. Assim, o nosso nascimento seria apenas uma referência, mas nunca uma sentença definitiva.
Ao fim da conversa com o JP na cozinha, mesmo após várias explicações sobre as novas tecnologias, eu seguia fixada à imagem ali bem perto de nós, mais precisamente nos quadros pendurados na parede do corredor. Sabiamente, ele constatou que a minha cabeça ainda está lá em 1.500, em Leonardo da Vinci e na sua Monalisa. Mas, quando resolvi provocar e perguntei se não tinha adiantado nada eu ter ido a um rolé de jovem, ele respondeu: "Claro que sim. É uma transição!" Realmente, sábio é quem não se prende a nenhum tempo, mas circula entre as épocas disposto a conhecê-las.
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