Cônsul alemão diz que marido teve mal súbito; na foto, belga está de camisa clara, ao lado do companheiroArquivo Pessoal

Rio - O cônsul alemão Uwe Herbert Hahnn afirmou que enviou uma foto do seu marido, o belga Walter Henri Maimilien Biot, 52, caído no chão do seu apartamento a um amigo residente em Nova Iorque, nos Estados Unidos. O diplomata está preso acusado do homicídio, que teria ocorrido dentro do apartamento do casal, em Ipanema, na Zona Sul, na noite de sexta-feira, dia 5. Enquanto estava caída, A vítima emitia gemidos de dor, mas Hahnn disse achar que se tratava de embriaguez, o que seria de costume. A foto, obtida pela reportagem, foi enviada após o amigo perguntar "como ele estava". 
A informação consta no depoimento realizado na 14ªDP (Leblon), ao qual O DIA teve acesso. No documento da investigação, um policial citou a declaração. "(...) De forma repentina, seu marido teve um surto, se levantou, começou a gritar e correu apressadamente em direção ao terraço; que acredita que seu marido tropeçou no carpete e caiu com o rosto no chão; que seu marido caiu entre a sala de estar e o terraço com o rosto no chão; que permaneceu caído emitindo gemidos; que não sabe informar se eram gemidos de dor ou se eram gemidos desconexos; que o declarante fotografou o corpo do seu marido caído ao chão e enviou a foto para o seu amigo Gilbert, que reside em Nova Iorque; que em verdade seu amigo havia lhe mandado mensagem perguntando como ele estava; que o declarante respondeu com o envio da foto do seu marido; mostrando que o mesmo estava bêbado novamente".   
Cônsul enviou foto do marido caído no chão para amigo em Nova Iorque - Agência O DIA
Cônsul enviou foto do marido caído no chão para amigo em Nova IorqueAgência O DIA
O diplomata afirmou, ainda, que por achar se tratar de embriaguez demorou a acionar o socorro. Os bombeiros receberam a ligação com o pedido de ajuda médica às 19h07; o surto teria ocorrido a partir das 17h, segundo o depoimento. A polícia está com a foto enviada e poderá mensurar exatamente qual foi o tempo de demora do socorro.
Confira a versão do diplomata para o dia da morte do seu marido, baseado no depoimento:
 Mudança para o Haiti foi gatilho para bebida e remédios, diz cônsul
No mês de maio, o diplomata disse que tomou conhecimento que seria transferido para o Haiti, mudança que ocorre a cada quatro anos devido ao seu trabalho. Inicialmente, seu marido "estava feliz", mas "há um mês seu marido passou a ingerir bebida alcoólica de forma excessiva e a consumir medicamentos para dormir (calmantes); que seu marido estava nervoso e angustiado com a organização da mudança, razão pela qual passou a beber e ingerir remédios desordenadamente". (...) "que seu marido passou a ter reações irracionais, começou a dormir demais, acordar durante as madrugadas gritando, tendo pesadelos frequentes". 
Ainda de acordo com o diplomata, nessas ocasiões o seu marido se debatia e se machucava. "Seu marido tropeçava na mobília, caía da cama", diz o depoimento. Conforme revelado pelo DIA, a perícia encontrou pelo menos 30 lesões no corpo do belga, com origens de diferentes datas. 
Diarreia intensa e surto no banho
"Na madrugada do dia 05, seu marido teve uma diarreia intensa, a ponto de sujar a casa toda, o banheiro, a cama, o chão. (...) que por volta das 11h seu marido saiu para passear com o cachorro, com as roupas sujas, sem se alimentar, em completo desalinho, que seu marido caminhou com o cão por cerca de 20 minutos e regressou ao apartamento; que pediu para o seu marido tomar um banho; que o declarante continuou a trabalhar na sala de estar". O diplomata conta que, nesse momento, durante o banho, seu marido sofreu um surto, gritando palavras desconexas. 
Champanhe após o surto
Após acalmar o marido, o diplomata disse que o ajudou a terminar o banho e a se vestir. O cônsul teria voltado para a sala, onde realizava home office, momento em que seu marido apareceu com um champanhe e ambos beberam. Seu marido, então, teria adormecido.
Segundo surto do dia, segundo o cônsul:
O diplomata afirma que, entre 16h e 17h da tarde de sexta-feira, ele saiu de sua casa e foi comprar mais bebida e comida, além de passear com o cachorro. Ao retornar para casa, foi cozinhar uma massa, momento em que seu marido passou a ter outro surto. Foi nesse segundo surto, que ele teria caído entre o terraço e a sala, no qual ele enviou uma fotografia ao amigo de Nova Iorque. 
Sangue perto da cabeça e socorro
O cônsul alega que percebeu ter sangue ao lado da cabeça do marido, que ele havia deixado deitado no chão do apartamento. Ele, então, tenta reanimar o parceiro, dando tapas em suas nádegas. Segundo os bombeiros, eles foram acionados às 19h07. 
O diplomata segue preso pelo homicídio do marido. A delegada Camila Lourenço, responsável pela investigação, apura se o crime foi doloso (com intenção) ou culposo (sem intenção) e procura saber a motivação das lesões.