Pedro Miranda, Antonio e o público que acompanha o show da dupla no Parque da Cidade, na Gávea Claudia Miranda
Pais famosos celebram tradição musical do Rio acompanhados dos filhos
Apaixonados por seus bairros, Paulão Sete Cordas, Pedro Miranda e Juninho Thybau falam da relação entre samba e família
Rio - Paulão Sete Cordas, Pedro Miranda e Juninho Thybau aprenderam desde cedo que "vive melhor quem samba", como já dizia Candeia em uma de suas mais célebres canções. Por isso, os três fazem questão de transmitir aos filhos um pouco do que aprenderam com a música. E não só aos herdeiros. Paulão, Pedro e Juninho também gostam de reunir amigos, vizinhos e quem mais quiser chegar em seus eventos culturais. Da Zona Norte à Zona Sul, seja no parque, na praça, no bar ou até na porta de casa, o Rio é o palco perfeito.
Considerado um dos maiores músicos brasileiros, Paulão Sete Cordas, que está há 36 anos na banda do cantor Zeca Pagodinho, é morador ilustre da Glória, na Zona Sul, onde criou seus filhos. "Minha relação com o bairro é o melhor possível. Pessoas amigas, relação de amizade entre os vizinhos. Gosto muito dessa característica acolhedora. Além de ter tudo à mão e você sempre pode contar com as pessoas", diz o artista.
De tão apaixonado pela Glória, onde foi morar em 1982, Paulão viu que poderia promover um agito no quintal de casa. Assim surgiu a Gloriosa, roda gratuita que acontece na feira, na altura da Rua Cândido Mendes, todo terceiro domingo do mês, das 16h às 22h. O nome é uma homenagem não só ao bairro, como também ao Botafogo, clube do coração do músico. Outro festejado encontro acontece no bar, na Rua Conde de Lages, 31, onde fica o Espaço Cultural Paulão Sete Cordas. No local, o veterano, de 15 em 15 dias, reúne amigos para tocar, segundo ele, o "lado B" do samba.
Quem também está sempre por lá é o flamenguista e bacharel em violão Ramon Araújo, 34, filho de Paulão. O pai, orgulhoso, conta que, o amor dos herdeiros pela música não foi uma imposição. "No caso do Ramon, por exemplo, eu nunca pedi que tocasse comigo, ou fiz algum tipo de força. Foi um tipo de vocação que se desenvolveu naturalmente nele", revela o mestre.
Ramon confirma e diz que é um prazer tocar com aquele que é seu maior exemplo. "Meu pai nunca insistiu para que eu seguisse a mesma carreira. Sempre me apoiou, mas a partir do momento em que eu tomei a iniciativa de buscar a música e o instrumento, ter ele ao meu lado foi e é muito importante", afirma.
Muito entrosados, pai e filho gostam de se apresentar juntos. No dia 11 de setembro, eles estarão no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília, no show "Conversa de Violão", em que irão tocar clássicos. Hoje, Dia dos Pais, vão se reunir para um grande almoço em família.
Em Irajá, na Zona Norte, Juninho Thybau, cria do lugar, quis resgatar a característica festeira do bairro em tempos de pandemia. Ao notar as pessoas mais reclusas, mesmo no período pós-vacina, Thybau, que é sobrinho de Zeca Pagodinho, resolveu levar o samba para a porta da sua casa. Literalmente.
Todo segundo domingo do mês, ele organiza a roda gratuita "Na porta de Casa", onde recebe amigos, ajuda as pessoas do bairro e estende a linhagem dos amantes do samba na família.
"Por causa da pandemia e também da violência que tomou conta do bairro e da cidade, como um todo, eu não via mais as pessoas sentadas nas calçadas, ruas desertas. Essa iniciativa buscou, eu acredito, trazer vida de volta à rua, alegria para o nosso bairro. Ajudar também o morador que quer vender uns petiscos no seu carrinho de churrasco. Mas, sem dúvida, a minha maior felicidade é todo esse amor pelo samba ter passado do meu avô para o meu pai; do meu pai para mim e agora eu estar podendo passar para o meu filho Heitor, de 3, que está todo samba ali comigo e é um prazer inexplicável ver essa continuidade", comenta.
Na casa do Thybau, por sua vez, o almoço de Dia dos Pais é sagrado, mas, segundo ele, logo será seguido de muito samba e gente querida.
Na Zona Sul, mais precisamente no bairro da Gávea, o forró, o chorro e a MPB dão o tom nos eventos liderados pelo cantor, compositor e músico Pedro Miranda. Pai de três filhos, ele sempre fez questão de envolver os pequenos. Pai de duas gêmeas, Amelia e Olivia, de 12, e Antonio, de 7, Pedro está sempre acompanhado dos pequenos.
"A música une, estreita os laços. Muitos pais, por força do trabalho, precisam, muitas vezes, ver seus filhos através de uma tela de celular ou de computador. Eu sou muito feliz por ter meus filhos ao meu lado constantemente no trabalho", comenta.
Todo domingo às 11h, o músico, que fez parte do histórico musical "Sassaricando", se apresenta no Parque da Cidade, na Gávea, em frente ao Museu Histórico da Cidade, em concorridas sessões de voz e violão. Com entrada gratuita, o evento tem reunidos centenas de famílias, que levam suas cadeiras de praia e cangas para curtir a boa música, num verdadeiro paraíso, pouco conhecido pelos cariocas.
Em seu último álbum, "Da Gávea para o Mundo", o artista contou com participação dos filhos em uma das faixas. O mais novo dos pequenos é o mais ligado à música. "Quando ele era menor, me ajudava passando o chapéu durante meu show. Associou a questão que aquilo ali é um trabalho e precisa ser remunerado. O que me trouxe um problema hoje em dia, pois, sempre que passamos por um artista na rua, ele diz que precisamos depositar um dinheiro no chapéu da pessoa. Ele está sempre no Parque comigo. Brinca com alguns instrumentos e, às vezes, dá até uma canja", diz Pedro, que também se destaca por promover o Choro na Gávea, na Praça Santos Dumont, e o Forró da Gávea.
Neste domingo, Pedrinho, como é mais conhecido no meio musical, tem um show em Belo Horizonte. Por causa disso o almoço de Dia dos Pais vai virar jantar. "Eles já entendem. Vida de músico é assim. Eles até sentem, mas entendem. Retorno ao Rio às 19h e vamos comer juntos. A partir daí, eu sou novamente todo deles", finaliza.
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