Rio – Alunos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) denunciam a fixação de cartazes de cunho racista em um banheiro de alunos da instituição no campus São Gonçalo, na Região Metropolitana. Os papéis colados na parede, nesta quarta-feira (10), exibiam as mensagens "estupro de pretas" e "fim das cotas".
Segundo a universidade, o fato aconteceu três dias após o protesto a favor das cotas raciais "cota não é esmola", feito no campus para reclamar de ofensa racial sofrida por uma aluna do curso de Pedagogia em sala de aula.
De acordo com a vítima, cotista racial, uma discussão generalizada começou em uma aula de geografia quando uma aluna passou a atacá-la pessoalmente. "Ela se levantou, veio até a minha mesa e falou: 'você não foi à Uerj Maracanã buscar as suas bolsas?'". As estudantes não tiveram as suas identificações divulgadas.
A estudante contou que foi ameaçada após se defender: "Ela começou a falar assim: 'você é favelada? Eu também sou'. E começou a fazer ameaças citando o nome de comunidades. Eu não teria problema nenhum em morar em favela. O problema é quando usam isso para nos atacar. Nos xingar de forma pejorativa", disse a aluna.
A denúncia de injúria racial e ameaça foi registrada pela vítima na 73ª DP (Neves).
A reação da instituição de ensino foi divulgar uma nota de repúdio em suas redes sociais e por circular, em que ela diz que "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade" e "A Universidade Pública tem como função social fundamental defender esses princípios". A nota cita ainda que não existe normativa interna para a apuração da conduta de alunos.
A delegada da 73ª DP, Camila Pegorim, esclareceu que agentes da unidade foram ao local e fizeram perícia no banheiro. No momento, a investigação está colhendo depoimentos de testemunhas.
Sobre o caso dos cartazes criminosos fixados no banheiro masculino do bloco A, a Uerj afirmou que identificou o aluno autor da foto e o horário do crime, e que ele "conversou informalmente com os agentes da polícia". Ainda de acordo com a universidade, os policiais fotografaram o local de afixação dos cartazes.
Ex-aluna da Faculdade de Formação de Professores da Uerj, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL) se manifestou em uma rede social:
A Faculdade de Formação de Professores da UERJ de São Gonçalo tem um histórico de preparar discentes críticos e combativos, além de transformar pela educação o futuro de jovens das periferias. Foi lá que me formei professora e é inaceitável que esse tipo de ataque ocorra! +
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