'Tentei voltar pela minha família', diz jardineiro isolado por cinco dias em ilha no Rio
Nelson Nedy Ribeiro, de 50 anos, contou que comeu limão e pedaço de carvão para sobreviver. Ele foi arrastado por uma onda na Praia de Grumari, na Zona Oeste
Nelson Nedy Ribeiro, de 50 anos, jardineiro que ficou cinco dias ilhado - Reprodução
Nelson Nedy Ribeiro, de 50 anos, jardineiro que ficou cinco dias ilhadoReprodução
Rio - Nelson Nedy Ribeiro, 50 anos, viveu experiência digna de filme. O jardineiro ficou cinco dias literalmente preso na Ilha de Palmas depois de uma onda o arrastar para o mar na Praia de Grumari, na Zona Oeste do Rio. Alimentando-se de dois limões com casca e tudo e um pedaço de carvão, o homem relatou que se abrigou em tenda deixada por pescadores e se feriu ao tentar sair do local em uma prancha improvisada. Ilhado, ele achou que fosse morrer.
Segundo o Corpo de Bombeiros, Nelson teria relatado aos agentes que escorregara de uma pedra na última segunda-feira (8) e acabou sendo levado pela correnteza até a ilha, onde esperou socorro.
Ao DIA, Nelson deu detalhes da primeira noite que passou na ilha após uma onda o arrastar para o mar em um local chamado Roncador, em Grumari. "Caiu uma chuvinha e eu colocava a mão nas gotinhas de chuva e apanhava, para poder, ao menos, molhar a boca. Eu estava com muita sede", disse.
Nelson conseguiu abrigo em uma espécie de alojamento deixado por pescadores no local, onde conseguiu, sob as ripas improvisadas, encontrar colchonete e um cobertor.
No segundo dia, terça-feira (9), o jardineiro decidiu desbravar a localidade para tentar a sorte de encontrar coisas que o pudessem ajudar ou a permanecer ali da melhor forma possível ou até mesmo que o tirasse dali. Ele contou que revirou o mato e encontrou duas garrafas d'água, uma delas de água limpa. Com medo de acabar com o líquido todo de uma vez, ele bebia aos poucos, misturando-a com água salgada.
Comida mesmo não havia. Tudo que encontrou foram dois limões com casca, que comeu. Na sexta-feira (12) o desespero foi tanto que Nelson disse ter comido um pedaço de carvão. Segundo o jardineiro, o carvão só deixou a boca dele mais seca.
Emocionado, Nelson narrou que na quarta-feira (10) tentou improvisar uma prancha com isopores e uma porta de compensado. Ele se lançou no mar, mas a corrente o arrastou de volta para a ilha, não antes sem ser jogado contra as pedras e machucado, sobretudo, as costas.
"Eu sinceramente achei que fosse morrer lá. Não tinha condições de tentar fazer uma fogueira, porque estava com as mãos machucadas da tentativa de escalar as pedras. Então, o frio era um problema. Quando eu tentei fugir e fui jogado de volta, apesar de saber nadar, as ondas estavam muito fortes. A chance de acabar afogado era real. Para piorar, quando fui jogado nas pedras, senti que minha cabeça chegou a raspar em uma. Foi uma aflição enorme. E a única coisa que eu pensava era voltar para casa e estar com a minha filha e minha neta, de um ano e oito meses", desabafou.
Bombeiros resgataram Nelson no último sábado (13). Ele foi avistado por um banhista numa moto aquática, que em seguida acionou o socorro. Segundo a corporação, Nelson teve escoriações leves e foi levado de helicóptero para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade, onde foi liberado após atendimento médico.
Família aflita no continente
Desde o desaparecimento, a família divulgou fotos e pedidos de ajuda para encontrar o jardineiro. A irmã do homem, Elaine, contou que chegaram a pensar em várias coisas que poderiam ter acontecido com ele, que, neste domingo (14), passou o Dia dos Pais ao lado da filha e da neta.
"Foi angustiante demais. Pensamos em absolutamente tudo que poderia ter acontecido com ele. Só não ventilamos a hipótese dele estar isolado numa ilha", afirmou.
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