Dia Internacional do Luto e Luta da População em Situação de Rua, no Largo da Carioca nesta sexta-feira(19).Vanessa Ataliba/Agência O Dia

Rio - O Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua, nesta sexta-feira (19), é marcado pela memória do Massacre da Sé, em São Paulo, que completou 18 anos em meio a mortes invisíveis da população de rua. Fruto de movimentos sociais, a data propõe reflexão sobre a responsabilidade social por essa população, inclusive quanto à atenção à saúde. No Rio, com apoio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS-Rio), o Consultório na Rua (CNAR) se espalhou por lugares estratégicos do município do Rio, e conta atualmente com nove equipes que atuam em 55 bairros de todas as áreas da cidade. E hoje, a ação se concentrou no Largo da Carioca, no Centro do Rio, com serviços diversos como distribuição de alimentos e oferta de empregos.
Para Fabiana Antunes, enfermeira que hoje atua como gerente técnica do CNAR no município, os espaços urbanos são uma extensão do consultório.

"O trabalho itinerante de acompanhamento feito pelas equipes é fundamental para ofertar o cuidado integral à população em situação de rua, identificando suas necessidades e buscando construir uma atenção compartilhada e em rede, combatendo estigmas que reduzem essas pessoas à margem da sociedade. O objetivo do CNAR é promover amplo acolhimento e a redução de danos desse grupo populacional, que se encontra em condições de vulnerabilidade e com os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados. A equidade é um dever cívico e a promoção, proteção e recuperação da saúde são as bases fundamentais do CNAR", explica Fabiana.
Uma equipe composta por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, agente social, psicólogo e assistente social atenderam a população no Largo da Carioca. Aliado à saúde, o lado cidadão também esteve presente na ação. Cristiane Xavier, defensora pública do núcleo dos direitos humanos da defensoria, contou que as pessoas em situação de rua podem ter acesso à emissão de documentos básicos para identificação, acesso a serviços públicos e a benefícios, como o Auxílio Brasil.
"É importante que olhemos para essa população tão vulnerável. São pessoas que, apesar de sua situação, têm os mesmos benefícios que qualquer outro cidadão. Não são delinquentes. São brasileiros que tiveram o vínculo familiar rompido ou estão desempregados e não têm condições de arcar com um aluguel, sobretudo no atual custo de vida. O que fazemos aqui, de certa forma, é tentar, através das nossas ações, reinseri-los na sociedade civil", disse Cristiane.
Também estavam presentes Cláudia Poggio e Juliana Telles, participante e idealizadora, respectivamente, da ONG A Nova Chance, que também colaboram na emissão de documentos, como segunda via de certidão, identidade e no auxílio em questões que podem ser facilitadas com a posse de documentos.
"Para as pessoas que, eventualmente, não são do Rio e desejam voltar para suas cidades, nós buscamos ajudar. Como também auxílio na procura de um emprego. Em síntese, fazemos tudo aquilo que está ao nosso alcance através da documentação", explicou Cláudia.
"A nossa missão é a de resgatar a cidadania dessas pessoas. Em parceria com a prefeitura, atuamos dentro dos abrigos com o programa de empregabilidade. Com a captação de empresas parceiras, conseguimos vagas para traçar um planejamento com objetivo que, dentro de três ou quatro meses, essa pessoa saia do abrigo e possa se restabelecer, tendo o nosso acompanhamento por mais dois anos", declarou Juliana.
Janaína Serqueira, assistente social e coordenadora da Tenda Franciscana do Rio de Janeiro e da Ação Social Franciscana (Sefras), é mais grupo presente durante o evento. Janaína relatou que a ONG teve início na cidade em 2015, devido à crise econômica que explodiu no Rio e aumentou ainda mais a população que vive na rua. Desde então, eles distribuem, diariamente, cerca de 400 quentinhas, no estacionamento da Catedral Metropolitana, para as pessoas em situação de rua da região.
"Por mês distribuímos mais de 11.500 quentinhas, mas agora estamos buscando dar um passo a mais, através da campanha #CidadeMaravilhosaParaTodos para a compra do nosso prédio, fazendo com que paremos de ajudar de forma emergencial e se torne algo permanente. Com a aquisição do prédio, poderemos atender com comida mais de mil pessoas, além de propiciar banho, café da manhã, atendimento social e jurídico, além de encaminhamento para o mercado de trabalho", explicou.
Para tirar esse sonho do papel, a Sefras recebe doações por meio do PIX: sefrasrj@sefras.org.br