Após serem despejadas para reintegração de terreno do INSS, famílias passam a noite na rua.Sandro Voxv

Rio - No perigo da rua ou no frio do banco da praça. Foi assim que muitos moradores da ocupação de terreno do INSS, em Inhaúma, na Zona Norte, passaram a primeira noite e amanheceram nesta quarta-feira (24), após terem sido retirados do local, na manhã de terça (23). A reintegração de posse autorizada pela Justiça retirou mais de 150 pessoas de seu único lar.
"Infelizmente, eles só nos pegaram e nos jogaram em frente à uma praça. E, sim, deixaram a gente aqui, não deram uma opinião em nada sobre onde nós vamos morar", desabafou Leonardo Fonseca, de 32 anos. Além do desamparo que sente sobre a situação de incerteza sobre o futuro, Fonseca trava outra batalha: o câncer. "Esse foi o maior susto que passei na minha vida. Preciso de uma moradia para sobreviver e fazer meus tratamentos. Faço tratamento de câncer de pele e tenho outro problema de saúde também, que é sigiloso. Isso tudo vem afetando meu psicológico", contou.
O líder da ocupação, Leonardo da Silva, de 40 anos, falou sobre o drama dessas famílias, que se estendeu pela noite. "Algumas famílias ficaram aqui, não tinham para onde ir e não têm. Algumas foram para casa de familiares. Mas tem muitas famílias aqui ainda, vendo o seu dinheiro investido ser jogado fora, que está ali em cima do caminhão", disse.
Para Silva, o sentimento é de abandono. "Não vem ninguém da prefeitura, não vem ninguém aqui para dar um suporte para a gente. A gente é tratado igual animal, igual bicho", contou, abatido.
Ainda na terça, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) encaminhou um ofício em caráter de urgência para a Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio, solicitando "ao local [uma] equipe especializada para o atendimento da população - que a partir desta ação de reintegração está desabrigada - a fim de evitar a violação de um dos direitos mais básicos: a dignidade humana".
"Estamos acompanhando para tentar ver alguma via de ajuda para essas pessoas, para que direitos básicos, às vezes como recebimento de algum auxílio, sejam implementados. Nesse momento, o nosso esforço é de contatar as instâncias do município e do estado, que lidam diretamente com assistência social, para ver se as equipes irão mesmo, se conseguem efetivar essa essas medidas, esses direitos", explicou o advogado e membro da comissão Thiago Salles, completando que: "a ordem foi cumprida, mas não foi pensado em como como manejar a situação de uma forma que não deixasse as pessoas absolutamente desamparadas".
Ao DIA, o Governo do Estado informou, nesta quarta-feira (24), que a posição oficial permanece a mesma de terça, no qual o governo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, afirmou que esteve no local para fazer o atendimento de 158 pessoas, que tiveram seus dados colhidos. "Esse levantamento será encaminhado à Prefeitura do Rio para dar prosseguimento às demandas destes moradores. A Secretaria Estadual está em contato direto com a Prefeitura da capital para agilizar o atendimento destas famílias".
Procurada, a Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou que "não foi acionada oficialmente para esse caso".
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes. Colaborou Sandro Vox