Reintegração de posse no antigo galpão do INSS em Inhaúma Sandro Vox / Agência O Dia

Rio - "Eu morava de aluguel e tive que escolher o aluguel ou a fome". A frase de Ana Cristina de Oliveira, de 46 anos, uma das moradoras de ocupação de terreno do INSS, em Inhaúma, na Zona Norte, reflete o drama de outras famílias retiradas do local, no fim da manhã terça-feira (23). O imóvel, que pertence à União, teve a reintegração de posse autorizada pela Justiça e, por isso, removeu mais de 30 famílias — totalizando 158 pessoas — que viviam no local. 
"Tomo remédio controlado, estava passando fome, então o dinheiro não estava dando para pagar aluguel. Eu pagava aluguel ou comprava coisa para comer. Como a situação está tão difícil, nem o gás dava para comprar, né? Eu morava de aluguel e tive que escolher o aluguel ou a fome. Eu estava passando dificuldade porque o aluguel hoje em dia está 600, 700, 800. E Eu compro remédio controlado, porque na clínica da família às vezes não tem", disse Ana Cristina, que está na ocupação há quatro meses. 
O terreno ocupado pelas famílias fica na Estrada Adhemar Bebiano, no bairro de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. A reintegração de posse foi realizada com o apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar, que acompanhou a saída das famílias do local. No início da tarde, pilhas e pilhas de pertences das famílias foram colocadas em praça que fica próxima ao terreno.
Assim como Ana Cristina, Fernanda Gomes, de 32 anos, também está na ocupação há cerca de quatro meses. Ela e dois filhos aguardavam a ajuda do poder público, já que sem o suporte da Prefeitura do Rio ou do Governo do Estado, não terão para onde ir. 
"A gente está esperando uma atitude deles. Se vão levar a gente para um abrigo, porque se não vamos para debaixo da ponte. A gente invadiu aqui para ter uma moradia, morávamos de aluguel, mas com essa pandemia ficamos sem emprego. Vivemos de auxílio e não temos como pagar aluguel. Por isso tivemos que vir morar aqui. Fica difícil, porque a gente não sabe o que vai fazer", comentou Fernanda, que trabalha como manicure. 
Até o fim da manhã, apenas um grupo de trabalho da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio havia passado pelo local. Maria José, de 36 anos, também aguardava o suporte do governo na busca de um local para ficar. "Estamos esperando a prefeitura nos dizer para onde vamos, poque não temos para onde ir", disse.
De acordo com o líder da ocupação, Leonardo da Silva, o local serve de moradia para a população há pelo menos seis meses. "Aqui estava abandonado, cheio de lixo, uma sujeira só, entramos aí para dentro querendo moradia. Do nada, chegam assim e colocam todo mundo para fora. Muitas crianças sem ter para onde ir", comentou Silva.
Procurado pela reportagem, o INSS explicou que o processo de reintegração de posse respeitou os processos legais e fazia parte do Fundo de Patrimônio do Trabalhador. "O processo seguiu o trâmite legal até sua reintegração. O INSS está em tratativas com o Governo do Estado para uma futura parceria na utilização do imóvel", finalizou o órgão.
A reportagem de O DIA procurou a Prefeitura do Rio para saber qual o destino das famílias retiradas da ocupação, mas foi informada de que o município não foi acionado para intervir. 
O Governo do Estado informou que, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, foi até o local e fez o atendimento de 158 pessoas, que tiveram seus dados colhidos. "Esse levantamento será encaminhado para a Prefeitura do Rio para dar prosseguimento às demandas destes moradores. A secretaria estadual está em contato direto com a prefeitura da capital para agilizar o atendimento", pontuou.