Homenagens ao sargento Carlos Eduardo Sant´annaFoto: Paulo Sergio Costa / Agência O Dia
Familiares e amigos se despedem de bombeiro morto a tiros em Irajá
Enterro, que aconteceu no Jardim da Saudade, em Sulacap, teve honras militares
Rio - Foi sepultado, na tarde deste sábado (27), o corpo do bombeiro Carlos Eduardo Sant'Anna de Oliveira, 43 anos, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio. Ele foi morto a tiros em Irajá, na Zona Norte, na manhã da última sexta-feira (26), após bandidos o reconhecerem como militar durante um assalto. O velório, que contou com a presença de familiares e diversos colegas de farda, teve honras militares.
Carlos Eduardo trabalhava no 2/24º GBM (Parada de Lucas) e, segundo amigos e familiares, era um homem caseiro, que não gostava de sair à noite por medo da violência. O militar, que era casado e deixou dois filhos, um de oito e outro de 21, tinha duas paixões: o Flamengo e um terreno em Jaconé, distrito de Saquarema, na Região dos Lagos, onde estava construindo uma casa.
O terceiro sargento Assis, que estava trabalhando com ele na noite anterior ao crime, lamentou a perda do amigo. "Ele era um cara do bem. Eu sempre ia a jogos do Flamengo com ele. Naquele dia, antes dele sair do batalhão, nós tínhamos comprado ingressos para dois jogos: contra o Botafogo, domingo no Engenhão, e o jogo de volta da Copa do Brasil, contra o São Paulo. É uma pena que isso tenha acontecido", disse.
Outra alegria na vida do militar era que o filho mais velho, Jean Carlos, 21, havia passado no último concurso da corporação, para o quadro de soldados temporários. O jovem, lotado no Grupamento Técnico de Suprimento de Água para Incêndios (Gtsai), no Caju, relembrou quando o pai perguntou o que ele queria ser no futuro. "Eu disse que queria ser bombeiro, igual a ele. Quando passei na prova para soldado, meu pai ficou muito feliz. Até queria que eu fosse trabalhar com ele, mas preferi não ir. Brincava que só iria pro quartel dele quando fosse oficial, para poder dar ordens nele", contou.
Muito emocionada, Tatiana Santanna, 41, se desesperou com a perda do irmão e precisou ser confortada por amigos e parentes. Segundo ela, Carlos Eduardo, que era o mais velho entre os homens, fez um atendimento na mesma manhã em que foi assassinado. "O meu irmão não merecia estar naquele lugar, ele salvou uma vida às 6h30 de ontem (sexta). Às 9h, ele estava morto no carro", desabafou Tatiana, que continuou:
"Ele amava a vida. Ele queria ir embora dessa cidade porque não aguentava mais essa violência. Deixou dois filhos, mãe, sobrinha e uma vida inteira pela frente, porque essa bandidagem não consegue ser controlada. Ele não vai ser mais um, eu quero justiça pela vida dele".
A viúva de Carlos Eduardo, Suelem Sant'anna, 37, passou grande parte do velório sendo amparada por amigos e familiares. Já a mãe do militar se sentiu mal durante à tarde e foi atendida em uma ambulância de socorro da corporação. Ambas não quiseram falar com a imprensa.
Amiga da família, Ana Teresa Menezes, 69, também foi se despedir do militar. "Eu quero saber até onde vai essa violência, porque pais de família, como o Carlos Eduardo, saem para trabalhar e não voltam. Deixam para trás uma família inteira sofrendo. Sinto por todo mundo essa dor", criticou.
Ainda segundo Jean Carlos, filho do militar, o Corpo de Bombeiros prestou atendimento à família e, inclusive, pagou o aluguel, pelos próximos três anos, do jazigo. "Nós não precisamos fazer nada. Uma equipe dos Bombeiros resolveu tudo e pagaram as despesas. Daqui a três anos, poderemos levar meu pai para um túmulo da família", revelou.
Durante o enterro, militares deram uma salva de tiros e um músico da corporação fez uma homenagem ao sargento. No momento em que funcionários do cemitério iniciaram a descida do caixão, familiares, emocionados, aplaudiram a despedida do corpo. A irmã do homem precisou, novamente, ser amparada.
Reportagem de Paulo Sérgio Costa
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