Rio - "Como que ela vai voltar para casa com um estuprador lá dentro?". A pergunta desesperada foi feita por Jéssica Souza, tia de uma adolescente, de 13 anos, que procurou a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Jacarepaguá, nesta segunda-feira, para acusar o padrasto da menor por abusos sexuais cometidos contra a vítima. De acordo com a tia, a violência acontecia na casa onde a menor vive com a mãe, irmãs e o suposto abusador, em Curicica, na Zona Oeste do Rio.
A tia e a menor de idade estiveram, nesta terça-feira (13), no Instituto Médico Legal (IML), na região central do Rio, para realizar exame de corpo de delito. Segundo ela, os abusos contra a menor podem ter começado quando ela tinha apenas 4 anos.
"Quando ela tinha quatro anos de idade, minha mãe, avó dela, contou que em uma ocasião em que dava banho nela percebeu que ela sentia ardor na região genital. Minha mãe conta que então perguntou: 'Por que está ardendo? Alguém tocou em você? Conta para a vovó'. Então, ela disse que a (x) falou que o padrasto dela tocava nela, tocava nas partes intimas dela. Até então, por minha mãe beber, as pessoas não levavam fé no que minha mãe dizia", contou Jéssica.
Segundo a tia, o padrasto privava a menor de contato mais próximos com familiares e amigos. Foi em uma dessas saídas, no último fim de semana, quando a adolescente foi para a casa da tia que ela relatou os abusos sofridos pelo marido da mãe.
"Ele não deixava ela sair de casa, nunca dormir na casa de amigas, mas não sei o que aconteceu que nesse fim de semana, graças a Deus, ele deixou ela dormir comigo. Um milagre que ele e a mãe dela permitiram. Aonde ela falou: 'Tia, eu não quero ir embora. Queria morar com a senhora'. Perguntei o que estava acontecendo, se ela estava apanhando, tentando entender. Então ela disse: 'Não, tia, é porque o meu padrasto me estupra'", relembrou a tia.
A tia conta que sempre estranhou o comportamento da sobrinha, que era muito introspectiva, fechada e não tinha facilidade de criar amizade com outras crianças. O comportamento em dado momento motivou ela a comentar com a própria irmã, mãe da adolescente, que talvez fosse necessário buscar um psicólogo para ela.
"Eu estranhava o comportamento. Teve até uma vez que eu falei para minha irmã levar ela no psicólogo. Era para saber o porque ela não gostava de brincar, se envolver com crianças, estava sempre no seu mundinho. Você fala com ela e ela não consegue conversar contigo (...) Era isso que estava acontecendo com ela e eu não sabia", lamentou.
Depois de conversar com a sobrinha, Jéssica conta que a própria mãe da menina não acredita no relato da menor sobre os abusos. "Eu fico revoltada porque a mãe dela é pior que ele. Ela em nenhum momento parou para conversar com a filha, nenhum momento ela parou para ouvir a história dela, ouvir o lado dela. Ela a todo momento fala que é mentira, fala que ela está numa rebeldia", disseJéssica.
A tia ainda questiona a falta de ação da Polícia Civil em ir até a casa onde o acusado vive. Até a tarde desta quinta-feira, segundo ela, ele ainda não havia se quer ouvido.
"Falaram que isso ia acontecer quando tivesse ocorrência, mas até isso acontecer? Como que ela vai voltar para casa com um estuprador. Ele tem outras filhas. Meu medo é que quem faz isso com a enteada, faz com as filhas também", comentou.
Erica Arruda, representante da Secretaria Municipal de Assistência Social, entidade responsável pela administração dos Conselhos Tutelares no Rio, foi ao IML prestar apoio à vítima.
"O conselho (tutelar) de Jacarepaguá vai atuar e então serão adotados os procedimentos legais para que ela seja protegida", disse Arruda em entrevista ao RJ2, da TV Globo.
De acordo com a Polícia Civil, um inquérito foi instaurado para apurar o crime de estupro de vulnerável. Diligências estão em andamento para elucidar o fato.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.