Carlinhos morreu na segundaÁlbum de Família

Rio - Morreu na tarde da última segunda-feira (19), aos 75 anos, vítima de insuficiência cardíaca, o empresário Carlos Cadavez, responsável pelo bolinho de bacalhau mais famoso do Cadeg, em Benfica, na Zona Norte. Dono do Cantinho das Concertinas, tradicional restaurante do mercado, ele também era conhecido por promover festas típicas portuguesas no local. Seu Carlinhos, como era mais conhecido, estava internado no Hospital Samaritano, na Barra da Tijuca.
Sempre disposto e cheio de energia, Seu Carlinhos, era famoso pela alegria que transmitia aos frequentadores do Cadeg, que completou 60 anos de fundação neste ano. João Vieira, genro de Cadavez, fez questão de exaltar o carinho que o sogro tinha com o público. "Ele era muito, muito, muito solícito, ajudava a todos, não tinha tempo ruim, estava sempre animado e sempre querendo animar quem estivesse a sua volta. Ele fazia aquilo tudo com amor e nunca estava desanimado. Construiu tudo com amor e bom humor".

Segundo João, a programação do restaurante será mantida, agora com a família no comando. "Nós vamos continuar o Cantinho e a festa por lá. Esse é o legado dele e nós vamos continuar por ele! Pode ter certeza que ele está revoltado por nós não termos aberto o restaurante hoje (terça)", revelou o genro.
Amor por Portugal
O empresário também era torcedor do Vasco da Gama e do Futebol Clube do Porto, de Portugal. Suas maiores paixões, no entanto, além do restaurante, eram sua neta e a terra natal. "Ele havia acabado de retornar ao Brasil após uma viagem ao Vale de Salgueiro, lugar onde nasceu, em Portugal. Reviu todos os familiares e estava muito feliz. Ele sempre dizia que, para ele, era o Cadeg aqui e o Vale de Salgueiro lá", contou João.

Seu Carlinhos tinha a mesma rotina todas as semanas, chegava ao Cadeg ainda nas primeiras horas de sábado, aprontava o bacalhau e iniciava os preparativos da festa, que começa ao meio-dia. Às 13h, músicos sobem ao palco com as tradicionais concertinas e dão o tom da celebração, animando as tardes com músicas tipicamente portuguesas e muito bolinho de bacalhau. Ainda que improvisada, a pista de dança está sempre lotada.

A história e o patrimônio de Cadavez são reconhecidos por diversos guias especializados em turismo gastronômico, que frequentemente recomendam aos turistas que visitam o Rio uma ida ao Cantinho para saborear os pratos portugueses.

Segundo Armed Sarieddine, vice-presidente do Cadeg, a diretoria do lugar já estuda homenagens a serem feitas para o amigo querido. "Por mim, colocava um busto do Carlinhos ali. Ele merece isso! O cara foi uma das maiores, se não, a maior figura do Cadeg. Era meu irmão de verdade e fez muito, tanto pessoal quanto profissionalmente, por todos ali. É uma perda tão gigante que não dá para descrever. Lá onde ele está, sei que papai do céu está fazendo uma festa para recebê-lo porque o Carlinhos era isso, uma verdadeira festa o tempo todo".

Sarieddine também destacou a ação de Cadavez para transformar o mercado na referência gastronômica que é hoje. "Quero contar que o Carlinhos era um grande empresário, um grande articulador, cheio de vontade de fazer acontecer, uma grande figura, um grande homem. Ele era o cara do Cadeg e um ser humano incrível, um irmão que eu tenho. Quando a gente fala de Cadeg, é obrigação falar de Carlinhos. Ele fez o Cadeg ganhar o tamanho que tem, ele transformou aquilo num polo gastronômico e é parte da alma daquele lugar", revelou Armed.

Diretor do Cadeg, André Luis Lobo, também lamentou o falecimento do empresário. "A festa portuguesa, criada há mais de 20 anos, é uma das referências do Cadeg e deu uma energia especial ao lugar porque ela envolve músicas portuguesas, folclore português, gastronomia portuguesa e a colônia portuguesa se encontra lá. O Seu Carlinhos era uma pessoa muito alegre e a esperança é que a festa e o restaurante continuem porque ele vai estar sempre lá e nos nossos corações com certeza. Já estamos pensando em homenagens para ele, tanto nas redes sociais do Cadeg quanto lá no mercado".
Além do grande número de clientes que comparecem ao estabelecimento aos sábados, para prestigiar as celebrações tipicamente portuguesas, o lugar fica lotado de clientes durante as épocas de Páscoa e Natal à procura do bolinho mais famoso do mercado.
Muitos portugueses e descendentes têm o restaurante como um ponto de encontro. "Fui muito ao Cadeg com a minha família, por causa desse restaurante. Até 2010, íamos umas cinco ou seis vezes por ano, depois fomos diminuindo, com a chegada da idade. Sou portuguesa e somos todos portugueses ou descendentes aqui na família. Não éramos próximos do dono, mas ele sempre estava por lá, no meio de todos, transmitindo alegria e deixando as pessoas à vontade. É realmente um pedacinho da minha terra, aqui do outro lado do oceano. Meu marido comentava que a festa nos ajudava a matar um pouco da saudade", recordou Laura Pereira, portuguesa que vive no Brasil há 64 anos e já frequentou a festa em diversas ocasiões.

A cremação de Carlos Cadavez acontecerá nesta terça-feira (20), às 16h, no Memorial do Carmo, no Caju. O empresário deixa mulher, filha e uma neta.
 
*Estagiário, sob supervisão de Raphael Perucci