Clailton Jorge Pereira da Costa morreu com um tiro na cabeça no dia 28 de janeiroReprodução

Rio - "Eu achei que o meu marido ia ser só mais um, que nada ia ser concluído, que ninguém ia ser preso e iria ficar por isso mesmo", desabafou Kelly Cristina Silva, viúva do pedreiro Clailton Jorge Pereira da Costa, de 40 anos, após a Polícia Civil concluir o inquérito sobre a morte do trabalhador. 
Clailton Jorge morreu após ser baleado na cabeça no, dia 28 de janeiro deste ano, em um condomínio de luxo da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde trabalhava. Com o fim do inquérito, os vigilantes Felipe Oliveira Vieira e Eduardo do Nascimento Gonçalves, responsáveis pelos disparos, foram indiciados por homicídio, posse ilegal de arma de fogo e usurpação de função pública
Além disso, Michel Borges da Silva, representante legal do Grupo Hawk Segurança e Vigilância Ltda., foi indiciado pelos crimes de homicídio por omissão, porte ilegal de arma de fogo, fraude processual e favorecimento real.

Segundo as investigações, os funcionários da empresa estavam atuando de forma irregular, utilizando revólveres em um local considerado logradouro público, atiraram cinco vezes contra Clailton e ainda alteraram imagens das câmeras de segurança. A Civil também pediu a prisão preventiva dos três. O inquérito foi enviado ao Ministério Público.

Para Kelly, o resultado das investigações a fez voltar a acreditar que a justiça pudesse ser feita em nome do seu marido.

"Para mim, o que mudou é que agora a justiça está sendo feita e estou começando a ficar confiante, porque no início eu achava que de tanto o advogado correr atrás, trabalhando pela causa, e a gente via que nada estava sendo feito, que a gente estava sem resposta, que esse caso não ia ser solucionado", contou.

Em maio, as investigações haviam sido encerradas e o inquérito arquivado após agentes da 16ª DP (Barra da Tijuca) concluírem que o pedreiro "teria cometido furto de materiais de obras das residências localizadas no condomínio". Segundo a viúva, foi nesse momento em que ela perdeu as esperanças.

"Eu perdi a esperança quando o inquérito foi arquivado, só que o tempo todo o meu advogado e dos meus filhos falava que não era para eu perder, que ele ia conseguir revogar e fazer com que desse uma reviravolta nisso tudo. E graças a Deus ele conseguiu. E graças a mídia também, que se não fosse a mídia a gente não iria estar aonde estamos hoje", falou.

Naquele momento, segundo seu relato, o medo tomou conta da família. "Eu tive medo porque ele não tomou um tiro na cabeça dentro de uma simples comunidade, ele tomou um tiro na cabeça dentro de um condomínio de luxo, o Clailton era um pedreiro pobre e negro. E a gente aqui, somos todos pobres, sem recurso para muita coisa, eu estava achando que a justiça ia ficar do lado deles [os indiciados], sinceramente. Como, na verdade, ficou, no começo da história. A justiça acreditou em tudo que eles falaram, ele faleceu e a justiça simplesmente arquivou o caso. Mas eu sempre acreditei na índole do meu esposo", lamentou.

Pouco tempo depois do arquivamento, as investigações foram reabertas por determinação do Ministério Público devido a morte violenta. “Para a apuração da morte de Clailton, deve ser aberto novo processo em outra vara com atribuição, tratando-se de uma morte violenta, essa instauração é obrigatória, e deve ser feita pela polícia, automaticamente”, disse o MPRJ.

Agora, com o inquérito concluído, a família deseja que a justiça seja feita e os culpados punidos pelo crime.

"O que eu mais quero nesse momento é que eles [os indiciados] vão a julgamento e que a justiça seja feita. Eles tiraram a vida de um trabalhador, pai de família. Eles acabaram com a com a nossa família. Isso não pode ficar impune, não pode. Eles têm que ir a julgamento e pagar por tudo que fizeram, por ter tirado a vida dele [do Clailton], ter deixado os meus filhos sem pai, eu sem meu esposo. Eles têm que pagar".

Clailton deixou oito filhos e trabalhava há 19 anos no mesmo condomínio, onde foi morto. Para seus filhos, é um alívio saber que podem ter justiça pelo pai.

"No momento [em que descobriram sobre a conclusão do inquérito], a gente comemorou muito. A gente aqui em casa, na hora que o advogado ligou pra avisar, começamos a glorificar e agradecer, porque se não fosse Deus ali junto com o advogado, nada estaria sendo resolvido. Estamos muito confiantes, eu e meus filhos", afirmou Kelly.