Sepultamento de Bruno Gomes Valentim, no cemitério do Caju. Ele foi baleado a queima-roupa ao tentar proteger a esposa de um assalto. Na foto, irmã de Bruno, com as mãos no caixão.Cleber Mendes/ Agência O Dia
"A gente planejava sair dali, mas estávamos esperando acabar o ano letivo para não mudar as crianças da escola no meio do ano. Já estávamos procurando apartamento, já tínhamos até alguns em vista. Ele queria realizar essa mudança. Ele falava que queria se mudar antes do Natal para comemorar na casa nova", disse.
"Todos os dias eu buscava ele, entre 19h e 20h. O que aconteceu é que eu deixei o carro ligado e estava atenta. Quando olhei pelo retrovisor, vi uma pessoa se aproximando com gesto suspeito e fui tentar engatar o carro, mas fiquei nervosa. Ele [o criminoso] foi rápido e começou a bater na minha janela. Não desliguei o carro e falei 'toma'. Estava com muito medo, abaixei a cabeça e dei o telefone, porque eu não queria ver o rosto dele. Nisso, ele se abaixou para pegar o telefone que caiu. Aproveitei, me abaixei para sair, só que o Bruno já estava gritando 'covarde, larga ela'. Sai e o vi lutando com o bandido para me defender. Mandei ele correr e corri pensando nas minhas filhas. Depois, só ouvi o tiro, que acertou o coração. Na hora que as pessoas viram, me deram suporte para levá-lo ao hospital, onde já chegou morto", lamentou.
Amanda contou ainda que eles estavam juntos há 11 anos e que o marido era um excelente pai e companheiro — ambos costumavam receber familiares e amigos. A última viagem do casal com as filhas foi este ano para Gramado, na região Sul, justamente para comemorar a vida e o aniversário das meninas. Além disso, eles tinham outra viagem marcada para novembro, dessa vez com amigos.
"O Bruno era excepcional. Um pai participativo que queria ver as nossas filhas terem o melhor, serem felizes. Todos os fins de semana, nós saíamos para brincar com elas. A gente sempre falava em fazer uma viagem de casal, mas ele era o primeiro a falar para levar as meninas porque a gente não conseguia ficar longe delas um dia. Ele ficava lado a lado comigo na educação das crianças, e as meninas amavam ele. Elas esperam toda noite ele chegar do trabalho e, quando ele chegava, era uma festa. Ele era excepcional em todas as áreas... Eu era amada, muito amada, e o amava muito. Eu tinha muito medo de perdê-lo, por ele ser um humano incrível", disse.
A sogra de Bruno, Andréia Teixeira, 52 anos, relatou que trocaria a sua vida pela do genro, para que as netas não ficassem sem pai.
"Ele era uma pessoa justa, trabalhadora. Se eu pudesse, dava minha vida no lugar dele, para ele não ficar sem as meninas. Ele amava minha filha e minhas netas. Sempre falava 'o que papai promete, ele cumpre'. Como que pode, gente? Um único disparo tirou a vida de uma pessoa. Por causa de um celular, um carro, minha filha deu tudo. Como que vem uma pessoa dessa e faz isso? Nem cremado ele pode ser porque a polícia disse que quem leva tiro não pode por causa da investigação", lamentou.
Andréia contou ainda que a filha mais velha de Bruno está em casa perguntando pelo pai, sem saber ainda o que aconteceu. "Todo fim de semana, ele pegava minha filha e as crianças para passear. Esse ano ele foi promovido duas vezes para poder dar tudo pra minha filha e minhas netas, sempre queria dar tudo pra elas. O que fica agora é um vazio, uma dor no vazio... Não sei explicar. Ele já falava que precisávamos comprar as coisas para o Natal, porque, desde quando minha filha se casou, o Natal era na casa deles. Ele sempre gostou de ficar em família", lamentou.
O cunhado da vítima, Leonardo Teixeira, 29, contou que Bruno trabalhava como líder de projetos em uma empresa no Rio, e era considerado por ele como um irmão.
"No dia, minha irmã me ligou de um número desconhecido avisando o que tinha acontecido e eu e meu pai fomos correndo para a UPA. O Bruno era um cara excepcional, um irmão pra mim... Minha família é muito unida, ele sempre queria o melhor das filhas e fazia realmente um papel de pai. Era um homem trabalhador, corria atrás", disse.
Falta de segurança
Amanda lamentou o crescimento da violência na cidade. "Meu marido já se foi, minha filhas vão levar marcas pro resto da vida. Mas as verdadeiras vítimas vão continuar sendo nós, que estamos em uma sociedade sem segurança e caótica. O pessoal tem feito denúncia em vários bairros do Rio, e o que tem sido feito para combater esse crimes? Hoje dói na minha família e amanhã vai ser outra. Qualquer pessoa que se vai é querida por alguém, tem uma família, amigos... A gente não tem dado voz às pessoas que se foram. A gente só vira uma notícia e amanhã virá outra notícia dessa. É preciso a gente cobrar a nossa segurança pública, que é nosso direito", desabafou.
A sogra de Bruno disse ainda que a família teve a vida destruída por causa da falta de segurança no bairro.
"A vida não está valendo nada. Por causa de um celular, a gente perde alguém. As pessoas já sabem que ali é uma área muito ruim, que não tem efetivo. Tem que fazer alguma coisa ali, a polícia presente tem que estar em área carente. Um dia antes meu filho quase foi assaltado na rua onde a gente mora, mas ele percebeu e deu ré. Quando contei para o Bruno, ele falou que a gente tinha que sair daqui e ele morreu no dia seguinte", disse.
Em relação à violência, o cunhado também lamentou e destacou que Bruno será "apenas mais uma estatística". "Ele não foi o primeiro e não será o último. O Rio está entregue na mão dos bandidos. A segurança está horrível e quem paga somos nós. A vítima é ele, eu que perco um grande amigo, minhas sobrinhas que perdem um pai e minha irmã que perde um marido. Agora é aprender a conviver com isso", finalizou.
"As equipes do batalhão seguem fazendo ações ostensivas com rondas, abordagens e prisões em flagrante na região. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), houve redução de 11% no total de roubos na área de policiamento do 9°BPM quando comparados os períodos janeiro-agosto de 2022 e janeiro-agosto de 2021", disse em nota.
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