Leandro Xavier, motorista de aplicativo, já entrou em lugares que não conhecia por causa de rota de GPSMarcos Porto / Agência O DIA
Ainda segundo ele, os rapazes que o abordaram estavam muito nervosos e perguntavam se "eles estavam malucos". "Eu falei que não, que não conhecia a localidade. As pessoas começaram a correr, foi muito pesado esse dia. No fim, eles me deixaram passar e não levaram nada meu. Até meu celular eles verificaram. Fomos embora e quando saí dali fiquei muito nervoso, um medo surreal. Os passageiros choraram muito", acrescentou.
Agora, depois dos acontecimentos, Leandro redobrou a atenção e criou até uma tática de defesa caso tenha uma emergência. "Eu estou muito escaldado, o GPS não melhorou nada. Por isso, criamos um grupo com quase cinco mil motoristas. A gente procura um cuidar do outro, avisando e informando o que está acontecendo, vendo se alguém precisa de ajuda ou não", afirmou.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Motoristas e Entregadores por Aplicativos (SindMobi), Luiz Corrêa, há diversos grupos de WhatsApp no Rio para ter contato direto com os motoristas e, esse é um dos assuntos mais recorrentes que são relatados. "O GPS joga para dentro de qualquer lugar para cortar caminho, seja comunidade ou território dominado por tráfico e milícia. Está tudo tomado, literalmente. Estamos sem segurança alguma", afirma.
Segundo Luiz, a grande maioria dos motoristas que se cadastra na plataforma não conhece todos os bairros e municípios, mas, por causa do valor ser mais alto, acabam pegando essas corridas.
Luiz disse que, para evitar acidentes e descuidos, o sindicato fez um projeto de segurança, em parceria com as plataformas de corrida e com a Polícia Militar, que começou a valer em junho deste ano. É um 'botão de pânico' dentro do aplicativo, tanto para o motorista quanto para o passageiro, caso se sintam ameaçados ou em perigo.
A Polícia Militar informou, por meio de nota, que essa parceria está em operação na capital e em outros 22 municípios. Desde a primeira semana de outubro, passaram a integrar o sistema mais nove municípios: São Gonçalo, Niterói, Maricá, Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito, Silva Jardim, Cachoeiras de Macacu e Teresópolis. Segundo a corporação, o aplicativo é integrado com o Centro de Controle Operacional da Polícia Militar (Cecopom), responsável pelo Serviço 190, possibilitando o acionamento emergencial de viaturas da PM. “Com a nova ferramenta, toda vez que um usuário ou motorista parceiro usar o botão para acionar o Cecopom da PM por meio do aplicativo, os operadores do serviço de emergência vão automaticamente receber a localização em tempo real e os dados da viagem em que foi originada a chamada”, disse parte do comunicado.
“Já tivemos muitos casos de motoristas alvejados, mortos e desaparecidos também. Esse projeto começou na Baixada Fluminense e já foi para o município do Rio”, garante Luiz. “A ideia é que até o final do ano ele alcance o estado todo. Acredito que a ferramenta vai auxiliar muito a população” disse. Segundo dados levantados pelo sindicato, atualmente, existem cerca de 300 mil motoristas de aplicativo no estado, sendo 100 mil só na cidade do Rio.
Mas, não são só os motoristas que estão suscetíveis a esse tipo de acontecimento. Moradores e turistas também acabam passando por situações perigosas por não conhecerem o percurso e confiarem no GPS. Um morador de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, Luís Lima de 51 anos, errou a entrada na Linha Amarela e o GPS redirecionou sua rota, levando-o para dentro do Complexo da Maré, Zona Norte do Rio. “O trajeto me jogou por dentro da comunidade e eu não sabia. O GPS acaba fazendo o caminho mais rápido, não importa por onde seja“, afirmou. “Em Niterói, por exemplo, quando tudo está muito congestionado, ele faz a rota pelas regiões mais tensas de lá. O ideal é conhecer o local e para onde vai, porque se o aplicativo te mandar ir por alguma rua suspeita ou que você não tenha conhecimento, poderá optar por um trajeto mais longo porém mais seguro“, conclui Luís.
Questionado, o aplicativo de GPS, Waze, declarou que desde 2016 está disponível no Rio um recurso que alerta os motoristas no momento em que eles entram em determinadas áreas da cidade que apresentam maior risco de criminalidade. O Waze acrescentou ainda que não determina o que é seguro ou perigoso, mas, baseado em informações públicas disponíveis, é possível sinalizar essas áreas na cidade para os motoristas.
Projetos
Além de alertar seus usuários sobre áreas de risco no Rio, o Waze ainda informou que possui o programa Waze for Cities, um serviço gratuito que consiste na troca de dados anônimos direcionados a vários parceiros do setor público ou que trabalham em setores de serviços públicos de empresas de transporte, a setores da mídia e gestão municipal. O objetivo, segundo eles, é criar e oferecer soluções eficientes para trazer mais segurança e melhorar a realidade do trânsito.
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