Reginaldo Norberto Soares, de 40 anos, morreu dois dias após as agressõesRede Social
A delegada Natacha Oliveira da 12ª DP (Copacabana), que investigou o caso, solicitou a prisão preventiva de Fábio junto ao Ministério Público (MPRJ). No entanto, em audiência realizada no último dia 11, a Justiça do Rio não acatou a decisão.
“O acusado possui trabalho lícito e residência fixa (...) O réu compareceu espontaneamente à delegacia para prestar esclarecimentos no dia seguinte ao óbito da vítima, não havendo também, indicações de que tenha, por qualquer meio, buscado constranger ou ameaçar testemunhas (...) Ao que tudo indica, trata-se de réu trabalhador, sem envolvimento com a criminalidade habitual (...) Portanto, a meu ver, nem o Ministério Público, nem a autoridade policial, em sua representação foram capazes de apontar qualquer elemento concreto que indicasse o risco que a liberdade do acusado pode impor ao processo, limitando-se a basear seus requerimentos em suposições”, justificou a juíza Elizabeth Machado Louro, do II Tribunal do Júri.
Inicialmente, a vítima compareceu à 12ª DP na manhã do dia 24 de julho relatando ter sido agredida no dia anterior, por volta das 22 horas, pelo vigia no local onde dormia, na garagem do prédio, argumentando que a agressão iniciou após ele ter chamado a atenção de Fábio sobre o atraso no horário de chegada ao trabalho. Segundo ainda relatado pelo zelador, ao final das agressões, o vigia teria dito: "Eu não te mato agora porque não quero!". No entanto, não houve testemunhas do ocorrido e o local onde ocorreu o crime não possuía câmeras de segurança.
Ainda no dia 24, o zelador foi para casa onde morava com a mulher e os dois filhos, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, reclamando de fortes dores, calafrios e também apresentou febre. Preocupada, a família o levou para receber atendimento em uma UPA da região, mas o médico apenas passou alguns remédios para dor e o liberou. No dia seguinte, Reginaldo voltou a sentir dores no peito e morreu em casa. Uma equipe de emergência do SAMU foi acionada e, segundo a médica responsável pelo atendimento, ele tinha diversos hematomas na cabeça.
No dia 26 de julho, o vigia Fábio de Freitas compareceu à delegacia espontaneamente negando as acusações e informando que conhecia Reginaldo há 22 anos e que durante esse período, não teve qualquer desentendimento com a vítima. Ele confirmou ter sido questionado pelo zelador sobre o horário de chegada, mas alegou que a vítima estava alcoolizada, alegando que o desentendimento que tiveram foi apenas verbal, com ofensas mútuas, no interior do quarto dos porteiros. Posteriormente, ele disse que deu um empurrão em Reginaldo a fim de parar as ofensa e disse: “Sua mamata vai acabar, acabou a bebedeira e prostitua dentro do prédio, vou avisar ao síndico”, que depois disso, a vítima teria informado que o denunciaria à polícia.
Uma testemunha, que também trabalha no prédio contou ter presenciado Reginaldo sentado ao lado da porta do quarto dos porteiros, na parte de fora, no dia do crime e que, inicialmente pensou que ele estivesse bêbado, pois em outras ocasiões já tinha se deparado com colega alcoolizado, mas que logo percebeu que algo tinha acontecido e em seguida o zelador relatou as agressões, afirmando que teria sido arremessado na cama e enforcado por Fábio, que teria colocado o joelho na altura do seu peito e o sufocado. A testemunha relatou ainda que notou um semblante de dor na vítima, além de uma lesão na orelha e marcas de sangue naquela região.
Ele disse ainda que Reginaldo tinha personalidade tranquila, sem qualquer comportamento agressivo com as pessoas ao seu redor, mas que ele tinha costume de ir à praia e beber caipirinha nas horas vagas. Outro colega de trabalho relatou que Reginaldo afirmou ter sido surpreendido pelo vigia enquanto descansava e que quase perdeu a consciência durante o espaçamento. Durante as agressões, Fábio teria dito frases como: “O que estou fazendo com você ficará por isso mesmo, pois aqui não tem câmera filmando” e “Pode ficar tranquilo que você não terá marca nenhuma, pois sou lutador e sei bater”. Um zelador que também trabalha no edifício contou que o vigia “tem fama de violento no condomínio”.
De acordo com a Polícia Civil, Fábio já possui uma anotação criminal pelo crime de lesão corporal, por ter agredido uma pessoa no interior de um ônibus, também por motivo fútil. A delegada Natacha Oliveira destaca que há indícios sólidos de que o vigia praticou o crime, estando devidamente demonstrado por meio dos depoimentos prestados pelo porteiro na delegacia, além das provas testemunhais e técnicas
“O denunciado, professor de muay thai, grau preto, com treinamento específico para competidores, sabia exatamente o que estava fazendo, inclusive falando isso para a vítima, e, dolosamente, causou sofrimento desnecessário, revelando uma brutalidade fora do comum, em contraste com o mais elementar sentimento de piedade, e provocou propositalmente lesões corporais que fizeram o sujeito passivo agonizar por dois dias até morrer. O zelador não percebeu o ataque do ofensor, uma vez que a ofensiva foi sorrateira (enquanto a vítima descansava) ficando claro que o resultado morte foi facilitado em razão da emboscada praticada pelo denunciado”, relatou.
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