Dom Orani Tempesta celebra missa de Finados no Cemitério da Penitência, no Caju, Zona PortuáriaCléber Mendes / Agência O Dia

Rio – Nem a chuva forte que caiu no Rio, nesta quarta-feira (2), impediu cariocas a prestar homenagens a familiares e amigos nos cemitérios da cidade, no Dia dos Finados. Muitos levaram flores e pequenas lembranças, enquanto outros ofereceram orações. O cardeal arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, às 7h, abriu a programação especial, celebrando uma missa no Crematório e Cemitério da Penitência, no Caju, Zona Portuária.

Este é o primeiro Dia de Finados celebrado após o fim das restrições impostas pela pandemia. "Mesmo durante a pandemia nós continuamos tendo a celebrações, porém à distância, com as restrições. Agora, nós voltamos com a possibilidade das pessoas poderem vir e participar. Mesmo com chuva, os fiéis lotaram tanto a igreja, como aqui fora, no pátio. É sempre uma oportunidade de recordar os entes queridos e rezar por eles, para que eles possam ter a felicidade eterna", disse Dom Orani.

Ao final da missa, a Arquidiocese do Rio e o Cemitério da Penitência lançaram a campanha Natal Solidário, que vai até o dia 20 de dezembro, com a arrecadação de kits de higiene pessoal para pessoas em situação de vulnerabilidade: "enquanto caminhamos nesse mundo, podemos passar fazendo o bem", pontuou o arcebispo do Rio.

Durante a celebração, a pastoral social abriu a campanha com a entrega de um dos kits à uma família. "Me senti muito feliz. Foi um reconhecimento que eu não esperava ter", contou Maria Isabel, emocionada. Moradora do Caju, ela é mãe solteira de três filhos: "É muito difícil, muito complicado, mas nada impossível, nada que Deus não possa ajudar".

Maria Isabel também esteve no Cemitério da Penitência para homenagear a mãe, que partiu há três anos. "É um sentimento de dever cumprido, mas também dá saudade. Estar perto de onde ela está é emocionante também", contou.

A esposa do José Luiz Mengali, de 66 anos, faleceu em 2015, em decorrência de um câncer na boca, que evoluiu para um câncer de pulmão. Após uma luta que durou um ano e dois meses, Cristina de Andrade Mengali partiu. Apesar da dor, José não deixou de visitá-la no Dia dos Finados dos últimos sete anos:

"Todo ano viemos na missa e viemos homenageá-la, colocar umas florezinhas para ela. É uma lembrança que temos para toda a vida, nunca vamos esquecer enquanto estivermos vivos. Venho em homenagem, coloco flores. Não traz de volta, mas pelo menos vemos a foto, relembramos", afirmou.

Quando José perdeu a companheira de vida, Natália, de 36, e Verônica Mengali, de 42 anos, perderam a mãe. Devido ao trabalho, Verônica não pôde comparecer, mas Natália acompanhou o pai ao cemitério. Moradores de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, eles destacaram que nenhuma distância é longe demais para homenagear Cristina. "Todo ano a gente vem. É um dia para lembrar. A gente lembra da minha mãe todo dia, mas eu sempre gosto de vir no Dia dos Finados para colocar uma florzinha no nicho dela", ressaltou a assistente administrativa.

E por falar em flores, o presente singelo vem da mão de quem divide a data com as homenagens aos entes queridos e os clientes. Há cinco anos, Vanessa Roseane dos Reis de Oliveira, de 37 anos, trabalha no Dia dos Finados como florista, no cemitério da Penitência, junto com o esposo Luiz Carlos e o sobrinho Luiz Felipe. "Os clientes contam que vão visitar as famílias. Tem alguns que conversam, outros não. É o dia dos mortos, mas fazemos nossa parte de coração", disse.

Antecipando o trabalho que viria, a florista já garantiu a visita à prima, que faleceu há dois anos devido a um infarto. Ali, Vanessa deixou de ser quem vende para ser quem homenageia os parentes com flores: "é para confortar nossos corações."
No Cemitério da Penitência ainda ocorreu uma revoada de balões pela manhã e o projeto 'Encontros Impossíveis ' fez a produção de caricaturas com as fotos dos entes queridos e seus familiares. Natália e José garantiram seus desenhos com Cristina.

"As pessoas vêm aqui procurar pelo gosto das pessoas. 'Ah, minha mãe gostava de rosas vermelhas’ ou 'vou levar amarela porque lembrava meu filho, que era a cor que ele gostava'", contou Célia Pereira de Pontes, de 45 anos. A florista trabalha há 28 anos no Cemitério São Francisco Xavier, também no Caju, vendendo flores. O local também recebeu a celebração da Santa Missa, que ficou cheia de fiéis.

Moradora de Niterói, na Região Metropolitana, além de vender flores, Célia administra um pequeno comércio em frente ao cemitério e trabalha com um casal de idosos. É o filho Marcos Antônio, de 17 anos, quem fica no estabelecimento enquanto a mãe vende as flores. "É sacrificante, mas também gratificante", desabafou, após ter contado que chegou no estabelecimento ainda na segunda-feira (31). A visita aos irmãos, mortos há mais de dez anos, é certa, mas fica para depois das 17h.

Silvana Braga da Silva, de 52 anos, foi ao Cemitério do Caju visitar o pai José Luiz da Silva, que faleceu em abril de 2020, por complicações da diabete. Muito emocionada, foi difícil para Silvana segurar as lágrimas ao lembrar dele. "Não tenho nem palavras para mensurar. Meu pai é meu tudo, meu guerreiro, meu amigo, tudo pra mim. É um amor incondicional. Só quem passa [pelo processo da perda] que sabe", falou com a voz embargada.

A visita à lápide do pai é certa nas datas comemorativas e as orações não faltam. "Sei que ali é só matéria, que o espírito dele está descansando. Eu sei que ali não existe mais nada, mas ele ficou no meu coração e na minha memória para sempre. Peço muita luz no caminho dele", concluiu Silvana.
* Reportagem de Beatriz Coutinho sob supervisão de Raphael Perucci