Delegado Allan Duarte, responsável por concluir o inquérito sobre a morte do pastor Anderson do CarmoMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - O delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito que investigou a morte do pastor Anderson do Carmo, disse não ter dúvidas de que Flordelis premeditou o assassinato juntamente com os filhos. Ele foi a segunda testemunha a prestar depoimento no Tribunal do Júri, no Fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, na noite desta segunda-feira (7).
"Depois de investigar o fato, eu não tenho dúvida que, se a justiça for feita, a situação deles é a de condenação. Foi um crime premeditado, com várias tentativas, das mais diversas formas, incluindo envenenamento e contratação de pistoleiros. Para mim ela é a pessoa mais perigosa dessa organização criminosa familiar", disse o delegado na área externa do Tribunal do Júri. 
Segundo Duarte, o pastor só não morreu nas tentativas anteriores por circunstâncias que fugiram do controle dos mandantes. No caso do envenenamento, Anderson do Carmo foi levado a um hospital da região para ser medicado. Já no episódio em que pistoleiros foram contratados, o crime não foi efetuado pois no dia o pastor trocou de carro, o que teria confundido os atiradores.
Durante 1h30, o delegado rebateu a tentativa da defesa de Flordelis em citar uma possível violência sexual ocorrida dentro de casa. "As questões sexuais foram analisadas e levadas em consideração, mas em relação a motivação do crime, foi concluído que foi interesse financeiro. Não havia vestígio de violência sexual e também não havia a possibilidade de coleta de provas nessas pessoas. Por que o fato não foi levado à delegacia há três, quatro anos? Agora estão acusando uma pessoa morta de violência sexual", disse.
O julgamento de Flordelis dos Santos de Souza e outros quatro réus pela morte do pastor Anderson do Carmo teve início às 11h no Tribunal do Júri, no Fórum de Niterói. A primeira testemunha a ser ouvida foi a delegada Bárbara Lomba, que foi titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) na época do crime. Em depoimento, ela relembrou a relação conturbada da família e as questões dos privilégios vivenciados pelos filhos biológicos da pastora.
Por volta das 19h45, foi iniciado o terceiro depoimento do dia com Regiane Ramos Cupti Rabello. Na época do crime, ela narrou em juízo e ao Ministério Público que sofreu um atentado com artefato explosivo ocorrido em residência. Segundo a testemunha, o atentado em questão foi uma forma de "passar um recado para Lucas, para que ele calasse a boca e não mais relatasse a verdade". Lucas foi funcionário de Regiane em uma oficina. Outras 26 testemunhas de acusação e defesa, algumas delas por vídeo conferência, ainda serão ouvidas. 
Testemunha teme pela vida
Em depoimento, Regiane contou sobre o episódio marcante da bomba jogada em sua residência. Segundo ela, Flordelis a considerava uma "pedra em seu sapato" por criar uma barreira entre Lucas e a ex-deputada.
"Eles [filhos da ex-parlamentar] estavam com muita raiva porque a Flordelis não podia visitar o Lucas. E eu era essa barreira, o calo no sapato deles. Na verdade, é uma família perigosa. Hoje, quando sair daqui, nem sei o que os netos dela vão fazer comigo. É processo, é tudo. Essa bomba é mais uma coisa. Daqui a pouco vão estar me matando como mataram o pastor. Eu até repensei vir depor, porque essa defesa da Flordelis está me coagindo", desabafou na frente da juíza. "Eu fui citada pela defesa da Flordelis ali na sala de audiência. Mandaram essa citação justamente para me fazer perder minha coragem de sentar aqui", completa.
Quando questionada sobre as relações na casa de Flordelis, a ex-patroa de Lucas disse que via o comportamento dos membros como um relacionamento de uma seita. "É como se fosse uma seita. As pessoas continuam lá, até porque dependem financeiramente para poder viver", comentou.
Acusações
Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e poderá responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira poderão responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.