Julgamento do caso Viviane Vieira do Amaral, morta a facadas na frente das filhas em 2020Brunno Dantas/TJRJ

Rio - O engenheiro Paulo José Arronenzi, de 52 anos, acusado de matar a facadas a ex-esposa, a juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, 45, na frente das filhas, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, foi condenado a 45 anos de prisão.

A condenação de Paulo José foi por homicídio quintuplamente qualificado em regime inicial fechado. As qualificadoras que contribuíram para o aumento da pena foram feminicídio; o fato de o crime ter ocorrido na presença de três crianças; o motivo torpe, já que o acusado a matou por não se conformar com o fim do relacionamento; por um meio que dificultou a defesa da vítima, que foi atacada de surpresa quando descia do carro; e o meio cruel utilizado, uma vez que as múltiplas facadas no corpo e no rosto causaram intenso sofrimento à vítima.

O julgamento, iniciado nesta quinta-feira (10), durou mais de 13 horas e terminou na madrugada desta sexta-feira (11). A sentença foi anunciada às 4h pelo juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, titular da 3ª Vara Criminal da Capital.

O crime ocorreu no início da noite do dia 24 de dezembro de 2020, véspera de Natal, na frente das três filhas do casal, quando a magistrada levava as crianças para passarem a data com o pai. Após esfaquear a mulher 16 vezes, Arronenzi foi preso em flagrante por guardas municipais. Segundo a Polícia Militar, o caso ocorreu por volta das 18h, na Avenida Rachel de Queiroz, 380, em frente ao Colégio Januzzi.

Como Paulo José estava em prisão preventiva há um ano e 11 meses, o juiz determinou o cumprimento de 43 anos de reclusão. A defesa do engenheiro anunciou que vai recorrer da condenação. De acordo com os advogados, o réu " em virtude de perturbação da saúde mental, era parcialmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, anunciou que vai recorrer da condenação."

O magistrado apontou que o réu demonstrou "conduta arquitetada, fria e obstinada, o que de per si prova a maior intensidade de dolo". Na sentença, o juiz também destacou outros pontos sobre a personalidade do réu.

"A personalidade do acusado é adversa e corrompida. Tal se evidencia pelo padrão hostil adotado a partir de certo período com sua ex-esposa e parentes próximos. As testemunhas ouvidas no decorrer da instrução criminal atestam uma postura descontrolada, cercada de rompantes de raiva tal como na ocasião em que chegou a arremessar um copo de vidro na parede, ferindo com estilhaços a perna de uma de suas filhas menores".

Depoimentos impactam julgamento

A primeira testemunha a falar por parte da acusação foi a mãe de Viviane, Sara Vieira do Amaral. Ela contou, em depoimento, que a sua família não era tão acolhida na casa da filha e que soube do crime através da neta mais velha que, na época, tinha apenas 10 anos.

"Paulo sempre estava muito nervoso, estressado. As crianças não ficavam à vontade nem de fazer chamada de vídeo comigo. Minha filha era muito alegre e foi ficando cada vez mais introspectiva", contou ela.

Vinicius Vieira do Amaral, irmão da vítima, também prestou depoimento durante o julgamento. Em sua fala, ele relembrou que a irmã abriu mão da escolta armada no mesmo mês em que foi morta pelo ex-marido.

"Ele queria compensações financeiras. Minha irmã deu R$ 640 mil para ele. Em troca, ele deu a morte pra ela. Todas as vezes que penso nela, lembro da cena de terror do dia do crime. Tenho dificuldade de manusear facas. Ele começou a matá-la muito antes do crime e até hoje ele segue matando toda a minha família", contou Vinícius.

Viviane era juíza e integrou a Magistratura do Estado do Rio de Janeiro por 15 anos. Ela atuava na 24ª Vara Cível da Capital. No julgamento, juízes que conviveram com a magistrada, amigos e parentes dela estavam presentes.

Além dos dois depoimentos, o motorista de aplicativo Márcio Júlio Romeu, que passava pelo local do crime e presenciou a cena, relatou ao juiz o que viu. Por parte da acusação, também foram ouvidas Roberta Borges de Azeredo, melhor amiga da vítima; e Lara Bastos Pinto, testemunha que estava perto do local do crime e filmou parte do ataque.

Já pela defesa de Paulo Arronenzi, testemunharam Rosane Arronenzi; irmã do réu; e Josemar Oliveira de Souza, guarda municipal que chegou ao local logo depois do crime; Viviane Nieto Blanco, colega de trabalho, e o médico psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro.