Por roberta.campos

Rio - Mirante do Soberbo, cartão de visitas de Teresópolis para quem passa pela BR-116. Um casal senta na mureta e se beija. A mulher puxa o celular e tira uma selfie, com o Morro Dedo de Deus ao fundo entre as nuvens. Carros estacionam ali durante o dia todo. É o ponto de partida do City Tour feito por guias cadastrados pelo Ministério do Turismo.

Henrique Silva é um deles. Ao chegar, cumprimenta os vendedores de água de coco e começa a contar a história dos morros que desenham o céu da cidade na tarde ensolarada de quinta-feira, apesar dos 15 graus. “Esse é um dos lugares mais fotografados do Brasil. Muitas pessoas que estão só de passagem param pra tirar foto”, diz o guia de turismo Jairo Lourenço.

Kevin Cox tira foto da mãe%2C Karen%2C com o Dedo de Deus%3A Cena comum entre quem passa pela BR-116Herculano Barreto Filho / Agência O Dia


Composta por três parques ecológicos, Teresópolis é a única cidade do mundo com três áreas de conservação e é apontada como a capital do montanhismo no país. Até o fim do mês, a prefeitura irá criar um aplicativo para celular, indicando o mapa das trilhas do Parque Municipal.

O desafio dos guias de turismo é fazer com que esses visitantes conheçam uma cidade com 137 opções de restaurantes da culinária internacional, uma feirinha com 650 expositores e um roteiro de mais de 30 cervejarias artesanais. Embora o principal público de visitantes seja da capital, Teresópolis também costuma receber pessoas de outros países. Profissionais do setor querem atrair estrangeiros que estejam no Rio em agosto, para a Olimpíada. Como? Pelo tradicional Festival de Inverno, que ocorre em meio aos Jogos.

Mesmo sem falar português, quem chega de fora consegue obter informações no Centro de Atendimento ao Turista, que atende os visitantes em inglês e libras.Mas nem é preciso esperar os Jogos para ver gringos por ali. No Parque Nacional da Serra dos Órgãos, visitado por 180 mil pessoas no ano passado, de acordo com o registro do local, o polonês Michael Michalski aproveita a tranquilidade do local e o contato com a natureza para treinar esgrima. “É um lugar lindo!”, sorri.

Um silêncio interrompido quando uma turma de mais de 30 alunos do terceiro ano do ensino fundamental de um colégio particular do Rio de Janeiro passa por ali, numa atividade para mostrar o ecossistema de um local que possui trilha de 200 quilômetros percorrida em três dias entre Teresópolis, Petrópolis e Guapimirim até a Pedra do Sino, ponto mais alto da cidade, com 2.263 metros, onde a temperatura chega a até cinco graus negativos. 


Comércio pretende integrar visitantes em área central de cidade serrana

Quando o tempo esfria e os turistas deixam de procurar as praias cariocas, o interesse pela Região Serrana aumenta. Com a chegada da temporada de inverno, o desafio dos comerciantes é criar atrativos para fazer com que o turista não limite o seu interesse na Alta e Granja Comary, cartões postais da cidade e áreas mais visitadas pelos viajantes. A discussão fez parte da sétima etapa do Mapa Estratégico do Comércio, do Sistema Fecomércio RJ, que terminou na sexta-feira.

No município, 8,5% do emprego formal são ligados à área de turismo, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. Índice acima do estado e do país, com 6,5% e 4,5% respectivamente. Mas bem abaixo das cidades fluminenses com maior vocação turística, como Búzios e Paraty, que empregam 43% e 37% da mão de obra nesses municípios, os primeiros no ranking do estado.

O economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), um dos palestrantes do evento, acredita que Teresópolis tem potencial turístico para gerar ainda mais empregos, ampliando as atividades para as outras estações. Segundo ele, o turismo local pode tirar proveito da própria crise econômica no país. “O turista deixa de ir para o exterior e passa a viajar pelo Brasil. Com a crise, ele não vai mais para Miami. Vai para Teresópolis. É preciso explorar esse momento e explorar o turismo mesmo fora de estação”, argumenta.

Para Cleber Mello, consultor de negócios, é preciso aproximar a região central de Teresópolis do turismo. “Existe um roteiro turístico nos parques, na Granja Comary, nos restaurantes e na feirinha, que deixa de fora o Centro. Há espaço para mudar esse cenário, principalmente no setor de hotelaria, trazendo hospedagens para a área central. Também precisamos trabalhar para oferecer mais opções para o turista na cidade. Uma ideia seria deixar os comércios abertos depois das 22h. Só é possível virar uma cidade turística com o envolvimento de todos os setores”, sugere.


Parceria para ampliar funcionamento do comércio

Cerca de 80% do comércio local fica no Centro de Teresópolis, segundo dados do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Teresópolis. Área ainda pouco explorada pelo turismo. Mas já há medidas sendo adotadas pelo setor. Como um acordo firmado nos últimos anos com o sindicato dos empregados para abrir o comércio nos feriados e finais de semana, envolvendo cerca de 6 mil funcionários de comércios em Teresópolis, Guapimirim e São José do Vale do Rio Preto.

Ambulantes aproveitam o congestionamento na entrada de Teresópolis para vender produtos Herculano Barreto Filho / Agência O Dia


Aos sábados, o comércio pode ficar aberto até as 20h. Aos domingos, até as 14h. Também foi feita parceria envolvendo a rede hoteleira e guias de turismo. Para Rodiney Turl, presidente do Sincomércio, é necessário que sejam feitas melhorias no transporte público para minimizar esse efeito e fazer com que o comércio se beneficie da alta temporada do turismo na cidade. “A cidade poderia contar com um ônibus que faça roteiro turístico, integrando todas as áreas da cidade. Isso só pode acontecer se houver um trabalho integrado entre os empresários e o poder público”, propõe.

Trabalho integrado, aliás, é a receita do sucesso da feirinha do Alto. Criada há quatro décadas, a área funciona aos finais de semana e feriados. E é apontada como uma das maiores do país, com 650 feirantes. O negócio cresceu, gerando 4,2 mil empregos diretos e indiretos, com rendimento de R$ 500 mil por fim de semana. “O segredo do sucesso da feira é a capacitação, sem depender do poder público”, analisa Nauridio Cardinot, conselheiro da Associação Livre da Feira do Alto.

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