Rio - Rotina no Rio, situações de conflito em túneis e vias expressas deixaram motoristas e passageiros de transportes públicos encurralados pelo medo quatro vezes nas últimas duas semanas.
A última foi na segunda-feira à tarde, quando o Túnel Santa Bárbara foi interditado por moradores do Morro do Fallet, em Santa Teresa, que protestaram a morte de dois jovens. Segundo eles, Wesley de Paula, 15 anos, e Davi Renan da Rocha, 16, foram mortos na madrugada em uma ação do Bope.
Das 13h às 15h, o grupo seguiu do Catumbi até o Palácio Guanabara, em Laranjeiras. Parentes disseram que os rapazes não tinham envolvimento com o crime. A Polícia Militar negou que fez operação na favela.
Na madrugada do mesmo dia, o terror tomou conta do Zuzu Angel, na Gávea. Duas pessoas foram baleadas em um tiroteio no túnel. Um homem atingido no ombro e uma mulher, nas costas, foram levados para o Hospital Municipal Miguel Couto. Na ocasião, dois homens suspeitos, em uma moto, atiraram contra policiais ao serem abordados, iniciando confronto. Os criminosos fugiram e o caso foi registrado na 14ª DP (Leblon).
Acontecimentos como esses que fogem ao controle das forças de Segurança Pública impactam a mobilidade. Desde que ficou encurralado em um tiroteio na Avenida Brasil, próximo ao Into, o gerente de Marketing Rodrigo Nascimento, de 33 anos, se viu obrigado a mudar sua rotina. Ele seguia do Centro para a Ilha do Governador em uma quinta-feira de fevereiro, por volta das 19h20. Com medo, escapou pela contramão.
“Depois desse dia evito passar pelo local. Não circulo mais na Brasil à noite. Passei a usar ônibus para trabalhar e, quando saio à noite, uso táxi ou Uber”, lamenta.
No início do mês, o motorista Wladimir de Mattos, 42, foi vítima de um arrastão na saída da Linha Amarela para a Avenida Pastor Martin Luther King. Teve dinheiro e relógio roubados. “Tenho evitado sair à noite para o trabalho e lazer”, disse.
Em nota, a PM afirmou que “realiza ações de abordagem e revista, além de operações policiais para combater práticas criminosas nas vias expressas”. Disse ainda que todos os batalhões “estão atentos aos índices criminais para continuar aperfeiçoando o policiamento empregado nas localidades e fazerem seu planejamento a partir da análise da mancha criminal”.
Saiba como se proteger
Pesquisador do Laboratório de Análises de Violência da Uerj, Robson Rodrigues da Silva diz que não há receita exata para se proteger em conflitos no trânsito. Mas o ideal é evitar reações abruptas em assaltos e, em caso de tiroteios, abaixar-se. “Se o motorista ou passageiro avaliar que não representa risco sair do veículo, fique agachado atrás da roda até se abrigar em local mais seguro”, ensina.
O especialista cobra que a Secretaria de Segurança Pública passe a adotar diálogo franco com a população e divulgue informações úteis sobre o comportamento criminal nas vias mais visadas por bandidos.
Motoristas que seguiam da Zona Sul para a Zona Norte, na noite do dia 8, relataram arrastão no Túnel Rebouças. Veículos voltaram na contramão. Outros roubos teriam ocorrido na saída do túnel, em São Cristóvão. No dia anterior, manifestação de moradores da Cidade de Deus fechou a Linha Amarela por 2h30 em plena noite de sexta-feira, causando congestionamento em vários bairros.