Por karilayn.areias

Rio - Estudo de instituição que avalia e propõe políticas de transporte em diversos países do mundo criticou a autorização dada pela Prefeitura do Rio à circulação de táxis em um trecho de 6,5 quilômetros do BRT Transcarioca. O Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) divulgou nota técnica condenando a medida, tomada há duas semanas. Na avaliação da entidade, a permissão compromete os passageiros do transporte público e contraria a Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Prefeitura autorizou táxis em trecho de 6%2C5 km do corredor Transcarioca%2C perto do Aeroporto do Galeão%2C de segunda a sexta-feira%2C das 7h às 20hMaíra Coelho / Agência O Dia

“A Política Nacional de Mobilidade Urbana, instituída em 2012, é clara em determinar que, para o acesso universal à cidade, os municípios devem priorizar os modos de transportes sustentáveis (ativos e coletivos) sobre o transporte individual motorizado”, afirma a nota divulgada pelo ITDP. Ressalta ainda que, “para que um corredor seja considerado BRT, deve ter circulação exclusiva para ônibus e não permitir veículos de uso individual”.

Os táxis estão liberados desde o dia 12 deste mês na calha do BRT entre a rotatória da Avenida dos Campeões, em Ramos, até o Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador. A autorização vale de segunda-feira a sábado, das 7h às 20h. O embarque e desembarque são proibidos na via. O prefeito Marcelo Crivella explicou na ocasião que a medida visa a agilizar a chegada de táxis ao aeroporto. O vice-prefeito e secretário municipal de Transportes, Fernando Mac Dowell, chegou a estimar que o tempo de viagem dos táxis até o Galeão deveria ser reduzido em até 30 minutos nos horários de pico. Outra justificativa alegada para a decisão foi o impacto da retomada das obras do corredor Transbrasil no trânsito.

O engenheiro Gabriel Oliveira, coordenador de Transporte Público do ITDP Brasil, pondera que é válido o interesse da prefeitura em valorizar a categoria dos taxistas, tendo em vista a crise financeira que o Rio atravessa. Mas cobra a apresentação de estudos sobre as vantagens da medida para a mobilidade. “Essa fala (da prefeitura) evidencia que não apresentaram nenhuma justificativa técnica que aponte que a medida não vai aumentar o risco de acidentes e que não vai afetar o fluxo dos BRTs. Se teve estudo, não foi apresentado. Isso gera esses tipos de dúvida sobre a segurança, o tempo de viagem e a regularidade do serviço do BRT”, observa Oliveira. 

Secretaria nega prejuízos ao fluxo do BRT e à segurança

No início do mês, o Consórcio BRT Rio afirmou que a medida colocará em risco motoristas e passageiros. A empresa informou que ainda é cedo para avaliar os transtornos provocados pela circulação de táxis até o momento, mas prometeu consolidar esses dados em breve.

Já a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) informou que faz monitoramento constante e não houve nenhum registro de acidente no trecho em questão até o momento. “Não há impacto na fluidez do trânsito”, afirma, em nota, a secretaria.

A SMTR lembra que o trajeto já foi utilizado por veículos credenciados durante os Jogos Olímpicos, sem nenhum prejuízo à operação do Transcarioca e sem riscos à segurança.

Por outro lado, taxistas como Francisco Dugulin, de 43 anos, defendem que a liberação seja estendida para outros trechos de corredores BRT. Ele diz que já economiza de 20 a 40 minutos, em horários de rush, entre a Avenida dos Campeões e o Aeroporto do Galeão e que a permissão prioriza os táxis em relação a motoristas particulares de aplicativos como o Uber. “O benefício é a economia na mobilidade. Serviço legalizado tem suas vantagens”, opinou o motorista.

Em São Paulo, a prefeitura passou a autorizar, em maio de 2016, que táxis com passageiros usem os corredores de ônibus da cidade (como os BRSs do Rio) também nos horários de pico. Antes, a circulação era proibida das 6h às 9h e das 16h às 20h.

Dados divulgados em outubro pela SPTrans, órgão gestor do trânsito, apontaram que a velocidade média dos coletivos caiu em 11 dos oito corredores da capital paulista em 2016 em relação ao ano anterior. A SPTrans classificou, na ocasião, as variações como sendo normais. O único sistema BRT de São Paulo, o Expresso Tiradentes, ainda é exclusivo para ônibus.

Em Belo Horizonte, os táxis podem trafegar, desde março, no Move Antônio Carlos, um dos dois sistemas de BRT da cidade. A partir de amanhã, poderão circular também no corredor Cristiano Machado.

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