Há tanto o que fazer para recuperar o Rio que é difícil escolher por onde começar. O importante, de qualquer forma, é definir o caminho e dar o primeiro passo
O Natal passou, o Réveillon vem aí e o cidadão fluminense vê crescer a sensação de que está cada vez mais difícil encontrar motivos para acreditar que o próximo ano será melhor do que este que vai embora. Tudo o que estava para resolver no final de 2020 permanece como estava — e se houve mudanças, foi para pior. Esta é forma pessimista de encarar o momento que estamos vivendo.
Ainda é possível, porém, lançar um olhar otimista sobre o cenário e encarar como uma oportunidade cada problema criado por essa crise que vem se arrastando ao longo dos últimos anos. Isso nos permite aplaudir a chegada de 2022 como um ano que pode ser o marco inicial da mudança de que o Rio de Janeiro necessita e que, se for bem trabalhada, pode servir de exemplo para o país inteiro.
Isso, claro, não depende apenas do desejo nem da intenção da sociedade e dos governantes. A solução dos problemas que afetam o Rio exigirá trabalho duro e, em alguns casos, pode ser que a situação piore antes de começar a apresentar os primeiros sinais de melhora. Mesmo assim, é preciso que a sociedade eleja suas prioridades e — ao contrário do que houve nas eleições anteriores — apresente aos candidatos às próximas eleições aquilo que deseja para resolver seus problemas.
O que está sendo proposto, como já foi dito aqui na semana passada, é uma inversão da ordem de definição dos candidatos. Ao invés de a sociedade ouvir as propostas de cada um e, depois, escolher o candidato de sua preferência, desta vez é ela que apresentará aos candidatos aquilo que deseja e, depois, ficar com aquele que se comprometa a seguir o roteiro traçado.
Seja como for, é preciso reconhecer logo de saída que, diante da quantidade e da profundidade dos problemas que se acumularam nos últimos anos, não será fácil escolher a direção do primeiro passo. Para qualquer lado que se olhe existe uma pilha de problemas atrapalhando a caminhada. Se essa pilha não for removida, será impossível vislumbrar qualquer luz no fim do túnel. Seja como for, é preciso que se definam as prioridades e que se dê o primeiro passo para resolver os problemas.
Como contribuição a esse debate — e esperando sinceramente que outras sugestões sejam feitas e outros pontos de vista sejam levados em conta na discussão — a coluna apresenta a lista dos problemas mais urgentes e as alternativas para a solução de cada um deles.
EMPREGO — Esse é o problema mais urgente e deve ser encarado de duas formas distintas. A primeira é a necessidade de um programa emergencial, que crie postos de trabalho em grande quantidade e proporcione ao cidadão uma fonte de renda que lhe permita garantir a sobrevivência digna para sua família, sem depender dos programas emergenciais criados pelo governo.
A segunda é a obrigação de, num segundo momento, pensar na oferta de empregos de qualidade, adequados às vocações do Rio. Empregos que sejam capazes de assegurar às futuras gerações condições de vida melhores do que as da geração atual.
No que diz respeito ao programa emergencial de empregos, a solução pode vir de um programa ousado de recuperação da infraestrutura do estado. Por uma razão: não existe setor com mais condições de gerar postos de trabalho em grande quantidade do que a construção pesada de rodovias, pontes, túneis e outros equipamentos de infraestrutura.
Já os chamados “empregos de qualidade” dependem da definição de políticas de longo prazo vinculadas à escolha do caminho que o Rio pretende seguir na reconstrução de seu desenvolvimento. Uma das áreas mais óbvias é a dos serviços vinculados ao Turismo — uma das vocações mais evidentes não só da capital, mas do estado inteiro.
Há outras alternativas. Uma política de estímulo à instalação de bancos e outras instituições financeiras, que seja capaz de devolver ao Rio a projeção já teve e que perdeu nesse ramo de atividade também pode ajudar. Outra alternativa seria estimular um amplo programa de investimentos na área da Tecnologia da Informação e a de outros negócios na ponta mais avançada da Economia. Como se vê, alternativas existem. Todas dependem de escolhas e da criação de um ambiente saudável para os negócios.
SEGURANÇA — Assim como no caso da geração de empregos, a solução dos problemas de segurança que afetam o Rio exige ações emergenciais e outras de médio prazo. O primeiro passo, claro, é o aperfeiçoamento do esquema de policiamento que priorize as áreas mais ameaçadas pela criminalidade — inclusive aquelas que, hoje, estão dominadas pelo crime organizado.
Além disso, é preciso levar em conta a importância do Turismo para a Economia da capital e de todo o estado e dedicar atenção especial às áreas que recebem grande quantidade de visitantes. Proporcionar a esses pontos um esquema de segurança eficaz não significa dar ao turista a proteção que é negada ao cidadão do Rio. A ideia é apenas a de criar um cinturão de segurança que, ao proteger os turistas, ajude a manter os empregos dos milhares de trabalhadores e a renda das centenas de pequenos empreendedores que atuam no turismo receptivo.
Para as medidas de médio prazo, a palavra chave é inteligência. Não é segredo para ninguém que estão cada vez mais sólidas as ligações entre as facções criminosas que dominam o tráfico de drogas nas comunidades fluminenses e as organizações que controlam o narcoterrorismo internacional. É preciso investir em ações de inteligência que cortem essa ligação e, por consequência, reduzam o poder do tráfico doméstico. Isso depende não só de ações no âmbito das forças estaduais de segurança, mas, também, das autoridades federais responsáveis pela guarda da fronteira, dos portos e dos aeroportos internacionais.
INFRAESTRUTURA — Além da enorme capacidade de gerar empregos, já mencionada neste texto, a modernização da infraestrutura fluminense é fundamental para atrair novos investidores e estimular a Economia. O problema é que não existe no caixa estadual nem no federal dinheiro suficiente para bancar as obras necessárias para recuperar as estradas, ampliar as ferrovias, modernizar o sistema de transporte público, melhorar os acessos aos portos e aeroportos, reurbanizar as comunidades, recuperar as encostas ameaçadas por deslizamentos e restaurar toda a infraestrutura que vem se deteriorando ano após ano.
A solução, portanto, é acelerar o programa de concessões e dar aos investidores a segurança jurídica necessária para garantir que os contratos assinados com os governantes de hoje serão cumpridos pelos governantes de amanhã.
Repare que não se falou aqui, por enquanto, em Saúde, Educação e habitação popular. Essas, claro, são obrigações que nunca podem ser negligenciadas pelo Estado, mas que, nos últimos anos, foram deixadas em segundo plano diante da quantidade de problemas que se acumularam. Como se vê, há muito a ser feito. O problema é que, quanto mais se adiar o primeiro passo, mais demorada será a solução. É preciso começar a trabalhar. Já.
Feliz ano novo!
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