Estamos a oito meses da eleição que escolherá o próximo presidente da República ou que indicará os dois nomes que disputarão o segundo turno. O mesmo vale para o governador do Rio de Janeiro e dos demais estados. Também estarão em jogo, além de uma das três vagas a que o estado tem direito no Senado, as 44 cadeiras destinadas ao Rio na Câmara dos Deputados, em Brasília, e as 70 posições na Assembleia Legislativa.
Por mais que o dia 2 de outubro, data prevista para que isso aconteça, ainda pareça distante, agora não tem mais jeito. O calendário eleitoral começou a correr e chegou a hora de discutirmos os nomes daqueles que escolheremos para nos governar e para nos representar das casas legislativas.
Até aqui, nenhuma novidade. Democracia pressupõe alternância no poder e a cada quatro anos o cidadão comparece a sua seção eleitoral com liberdade e autoridade para escolher quem ele deseja ver exercendo um mandato em seu nome. Existe, porém, um aspecto que torna o encontro com as urnas deste ano ainda mais importante do que foi nos anos anteriores. E que faz de nosso voto um instrumento ainda mais importante do que sempre foi.
Trata-se da circunstância em que a eleição será realizada. Os problemas sociais que já não eram poucos foram ampliados pela pandemia da covid-19. E a solução para a crise, que já não era simples, foi dificultada pela piora do ambiente econômico. Num cenário como este, antes de começar a ouvir os candidatos em busca de propostas que coincidam com nossas expectativas, como sempre foi feito, talvez seja a hora de definir o que queremos e ir atrás de candidatos dispostos a fazer aquilo que desejamos.
MAUS POLÍTICOS — Antes de falar em nomes, talvez seja hora de refletirmos sobre o significado de nossas escolhas. Cada campanha eleitoral atrai uma quantidade enorme de candidatos que se apresentam como capazes de fazer o que os políticos da leva anterior prometeram e não fizeram. A pergunta é: se os antigos não resolveram o problema, por que os novos resolverão?
Atenção! Não se trata, aqui, de insistir na crítica barata de que todos os políticos são iguais e que sempre colocam seus interesses adiante dos interesses dos cidadãos. Nada disso! A proposta é diminuir a responsabilidade dos políticos e aumentar a do cidadão. Assim como os políticos não podem ser responsabilizados por tudo o que acontece de errado no país, o eleitor também não deve ser visto apenas como vítima indefesa dos políticos. Como já foi dito aqui em outros momentos, está passando da hora de o cidadão chamar para si a responsabilidade que lhe cabe pelos resultados das ações daqueles que serão eleitos com a ajuda de seu voto.
Maus políticos existem aos montes, sem dúvida. Da mesma forma, existem maus empresários, maus funcionários públicos, maus policiais, maus jornalistas, maus motoristas e assim por diante. Existe, porém, uma diferença notável entre eles. Enquanto as pessoas escolhem a profissão que desejam abraçar, os políticos são escolhidos para a atividade que exercem. Portanto, se ele comete algum erro, ele não erra sozinho. Com ele também erram o partido que o abrigou (e que deveria ser legalmente responsável pelas consequências dos atos de seus filiados) e o eleitor que lhe confiou o voto.
Já passou da hora, como esta coluna já insistiu em outros momentos, de o eleitor se envolver com a escolha de seus representantes e de assumir a responsabilidade pelos atos, ideias e propostas dos políticos que ajudar a eleger. Isso mesmo. No dia em que o eleitor deixar de ver o candidato apenas como um número e passar a exigir ao longo do mandato o respeito aos compromissos assumidos durante a campanha, aí então ele poderá se sentir representado por aquele a quem ajudou a eleger. Simples assim.
O voto é uma espécie de procuração que passamos para alguém que agirá em nosso nome. Nos últimos anos, as pessoas se habituaram a olhar para as casas legislativas de Brasília como redomas sob as quais são tomadas decisões pelas quais o eleitor não tem a menor responsabilidade. Tem sim! As decisões que saem lá de dentro são tomadas por pessoas a quem delegamos a responsabilidade de escolher por nós. E isso vale para muito mais situações do que podemos imaginar.
O DEDO DO ELEITOR — Nos últimos anos, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF) passou a ser criticado por qualquer decisão que toma. Até manifestações pedindo a cabeça de ministros já foram feitas na orla do Rio e em outros pontos do Brasil. O que poucos levam em conta, porém, é que os magistrados só chegam àquela Corte depois de serem indicados por um presidente eleito e, em seguida, sabatinados e aprovados por senadores igualmente eleitos.
O que isso tem a ver com as próximas eleições? Tudo. Se você está entre os que se queixam das decisões do STF, verifique qual foi a postura dos senadores que você ajudou a eleger na escolha do ministro cujas ideias não correspondem às suas!
Não! Ninguém está pedindo que o Senado intervenha e tire do STF os ministros contrários a essa ou aquela posição política. O que está sendo dito é que a escolha de um magistrado do STF segue um determinado rito legal que se conclui no momento em que os senadores aprovam o nome da indicada ou do indicado. Ou seja, o dedo do eleitor se faz notar até na escolha dos nomes que integrarão a mais alta corte do país. É bom levar isso em conta.
OS NOMES DA DISPUTA — A pergunta é: em quem você pretende votar para senador nas próximas eleições? Os nomes já estão nas ruas. Romário, atual ocupante da vaga, terá que lidar dentro de seu partido com a concorrência de postulantes ao cargo que chegaram ao PL junto com o presidente Jair Bolsonaro. Num cenário de composição, o deputado Otoni de Paula, do PTB, também desponta como um nome na disputa.
Pela raia da esquerda, o deputado estadual André Ceciliano, do PT, mantém a intenção firme de se candidatar. Conhecido como bom articulador e como um político mais pragmático do que os petistas admitem ser, Ceciliano conta com o apoio do candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas disputará a preferência da esquerda com o deputado Alessandro Molon, do PSB.
Há outros nomes na raia. O ex-prefeito Marcelo Crivela tem a intenção de voltar ao Senado — embora seus correligionários do Republicanos prefiram vê-lo como um puxador de votos para a Câmara dos Deputados. O nome de Washington Reis tem força no MDB, e Clarissa Garotinho, do PROS, já se movimenta em busca da vaga. Outro que vem sendo mencionado como candidato, embora seu nome não tenha surgido nas pesquisas, é o babalaô Ivanir dos Santos, professor da UFRJ e militante antirracista.
Ainda é cedo para apontar um favorito, mas se fosse o caso de fazer isso agora seria inevitável destacar as chances de Romário. Atual ocupante do cargo, ele lidera as pesquisas feitas até aqui. Ainda é cedo, porém, para afirmar que ele manterá o fôlego. Caso Bolsonaro abrace a candidatura de Otoni e Lula resolva patrocinar Ceciliano ou Molon, é inevitável supor que a disputa pelo Senado no Rio sofrerá a influência direta da disputa presidencial.
A vaga do Rio no Senado, de acordo com os dados disponíveis até o momento, ficará com um desses quatro. Procurar saber o que eles pensam e quais foram as decisões que tomaram em outros momentos. Da mesma forma, é bom olhar para as centenas de postulantes às vagas na Câmara e escolher entre eles alguém que fale por você. A política sempre foi coisa séria e será ainda nas próximas eleições. Séria demais para que o eleitor dê seu voto a alguém que não mereça sua confiança.
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