Aniceto é professor da Uerj, onde criou em 1996 um grupo de pesquisa sobre a história do município, o qual já promoveu cursos, palestras, exposições e livros do assunto - Divulgação
Aniceto é professor da Uerj, onde criou em 1996 um grupo de pesquisa sobre a história do município, o qual já promoveu cursos, palestras, exposições e livros do assuntoDivulgação
Por Irma Lasmar
SÃO GONÇALO - Uma ações que celebram este ano o dia do padroeiro da cidade - São Gonçalo do Amarante, no próximo domingo (10) - foi o lançamento nesta sexta-feira (08) do livro Um ilustre desconhecido - Gonçalo Gonçalves, os processos de colonização lusa nas terras guanabarinas e identidade local, de Rui Aniceto Nascimento Fernandes, pela Editora Visão (Cabo Frio). A obra traz a história do português Gonçalo Gonçalves, que se confunde com o nascimento do município, quando em 1579 ergueu a Paróquia de São Gonçalo do Amarante para homenagear o seu santo de devoção, dando origem à cidade. Aniceto é professor da Uerj, onde criou em 1996 um grupo de pesquisa sobre a história do município, o qual já promoveu cursos, palestras, exposições e livros sobre o assunto. Esse trabalho pode ser conhecido em historiadesaogoncalo.pro.br .
Rui Aniceto e sua equipe são hoje organizadores do Museu de Imigração da Ilha das Flores, junto com a Marinha, e do Memorial da Igreja Matriz de São Gonçalo. Desta última parceria, iniciada há cinco anos, surgiu seu livro, cujas pesquisas iniciaram direcionadas a levantar as características arquitetônicas da construção católica ao longo do tempo e munir o pároco de dados técnicos para embasar um minucioso trabalho de restauração. "O templo não é tombado porque sofreu muitas descaracterizações, daí o interesse em restituir sua originalidade, atendendo as necessidades dos institutos do patrimônio histórico, e solicitar seu tombamento", comenta ele, cujas atividades e descobertas relativas à Igreja Matriz estão em memorialmatrizsg.wixsite.com/memorialdamatrizsg .
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Originalmente a fachada da igreja possuía estilo Barroco, porém, com sucessivas reformas, hoje exibe o estilo neoclássico. Na década de 70, as paredes e os pisos de madeira, atacados por cupins, foram substituídos por concreto e azulejos. Em 2012, na Semana Santa, foram inauguradas as placas da Via Sacra, que saem do pátio até o cruzeiro fincado no morro próximo. O templo histórico fica na Alameda Pio XII nº 86, no bairro Zé Garoto. O memorial criado pelo grupo tem restaurado mais do que a arquitetura do prédio: através de documentos e a história oral pública, o passado de São Gonçalo ganha forma e valor.
Há dois anos, os pesquisadores criaram um programa para comemorar os 440 anos da paróquia e os 400 anos de morte do construtor dela, Gonçalo Gonçalves, personagem-título do livro de Rui Aniceto. "Conseguimos sensibilizar o poder público pelo reconhecimento da data, que é o início da colonização da cidade pelos portugueses: em 1579 foi doada a sesmaria onde se ergueu a capela que hoje é a matriz e o ano de morte de seu construtor, que foi 1620, também considerado o fundador de São Gonçalo, mas cuja biografia pouco se difunde nos ambientes socioculturais e nas escolas e é muito importante no processo de ocupação do solo fluminense", explica o escritor.
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Gonçalo Gonçalves foi um navegador português, piloto da nau que o trouxe à Baía de Guanabara, e justamente por seu conhecimento técnico em direção e medições que ele foi nomeado o funcionário régio incumbido da demarcação das sesmarias, ou seja, os lotes de terra controlados pelo rei na região. Ele ganha terras no sopé do morro do Castelo, na região onde hoje se situam a Santa Casa de Misericórdia e a Igreja de Santa Luzia, no centro do Rio de Janeiro. Ele consegue a propriedade também de terrenos nas Bandas d'Além - como era chamado o lado leste da Baía - que hoje correspondem a boa parte da atual São Gonçalo que conhecemos. Em 1644, a região onde ele construiu a capela de seu santo padroeiro é elevada pelo monarca ao status de freguesia, a terceira da província (estado) depois da Candelária e da Sé - o primeiro passo para a promoção à vila e depois cidade. 
"Analiso no meu livro o papel de Gonçalo Gonçalves no processo de colonização da região e a sua apropriação como símbolo de fundação da localidade. Uma figura que durante longo tempo a historiografia só mencionou como primeiro sesmeiro. Na década de 1990 surge um movimento dos historiadores gonçalenses para retomar o mito do personagem e construir uma identidade positiva para o município, que passou a segunda metade do século XX relegado ao processo de periferização, na tentativa de reverter o caminho de cidade-dormitório a partir da busca por origens valorosas. Positivando essa história, as pessoas passariam a ter orgulho de suas raízes e se sentir continuadores dessa trajetória que começa no século XVI e não no XIX quando se emancipa", conta o professor, que na obra de sua autoria traz conteúdos inéditos de documentos históricos, como a reprodução da certidão de doação das terras a Gonçalo. A publicação foi patrocinada por instituições de ensino locais e sua venda será revertida para as obras de recuperação da Igreja Matriz.
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Já o padroeiro da cidade é considerado o santo protetor dos ossos e também santo casamenteiro, graças à tradição - ou lenda - de que quem toca em seu túmulo é abençoado com um casamento feliz e próspero. Gonçalo era um homem alegre, que gostava de cantorias e de rodas de viola, tocava a guitarra portuguesa e a usava para propagar a Palavra de Deus. Por isso, ele é considerado também o padroeiro dos violeiros. Nasceu no final do século XII em Tagilde, Portugal. Era de família nobre cristã, que o encaminhou aos primeiros estudos como sacerdote. Um dia, Gonçalo viajou para visitar os túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, deixando os paroquianos aos cuidados de seu sobrinho, que, invejoso, não o aceitava como pároco, e por isso mentiu para toda a cidade que Gonçalo tinha falecido na viagem.
Enquanto isso, Gonçalo seguia viagem, pregando o Evangelho. Em Amarante, ergueu uma ermida sob a guarda de Nossa Senhora da Assunção e se recolheu ali como eremita. Mais tarde no mesmo local, seriam fundadas a igreja e convento de São Gonçalo. Foi através de uma aparição que Maria o convocou a procurar a Saudação Angélica ou Ordem dos Pregadores, e assim o fez. Ele operou conversões, conduzindo o povo à prática da vida cristã. Novamente Nossa Senhora se revelou para Gonçalo no dia de sua morte, 10 de janeiro de 1259, sendo até hoje reconhecido em muitos milagres. Foi beatificado em 16 de setembro de 1561, após abertos os processos canônicos.
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Amanhã, domingo 10, data de aniversário do santo, haverá missas no município fluminense com público reduzido às 7h, 9h, 11h e 19h, a serem transmitidas pelo canal do YouTube da paróquia. Obedecendo à exigência de distanciamento social, o número de participantes será limitado a 150 pessoas, que deverão se inscrever pela internet. A tradicional procissão, contudo, não será realizada em virtude da pandemia. O endereço virtual para se inscrever nos eventos é eventbrite.com.br/o/paroquia-sao-goncalo-de-amarante-30451752504 . O link para o canal de YouTube da Igreja Matriz é youtube.com/channel/UCU3bj5zCgLygrfZ65X1XvyQ .