A escritora, de 42 anos, é professora e psicólogaDivulgação / Paula Sader

Carina Alves, 42 anos, é múltipla: executiva, professora, psicóloga, escritora. Sobretudo é, como nós, sobrevivente do novo coronavírus. Quando a Terra praticamente parou na pandemia, ela também freou uma frenética agenda de trabalho, resultado de 20 anos de trânsito profissional na iniciativa privada e no terceiro setor. Ela fez do recolhimento da quarentena um tempo de escuta, virtude que possui dentro e fora da profissão, transportando cada palavra e sentimento para o papel. Esse processo resultou no livro Covid-19: Emoções em Colapso (editora Brazil Publishing). 

A obra reúne 56 relatos de pessoas de todo o Brasil, de negacionistas a enlutados, de empresários falidos a gente que precisou mudar de estado para sobreviver, todos com a vida atravessada pela Covid-19. Este é o primeiro livro adulto de Carina Alves e abre uma trilogia sobre saúde mental e inteligência emocional. O prefácio é do escritor Pedro Salomão. 

“Escutar salva vidas e pode vir a ressignificar a história das pessoas. Creio que a escuta e a empatia nos permitem ter a dimensão da dor e do universo do outro. Dessa maneira, o livro também soma à reflexão acerca do sofrimento emocional que pode chegar até ao suicídio, tema da fundamental campanha Setembro Amarelo”, destaca a doutoranda em Educação pela UFRRJ, mestra em Letras e Ciências Humanas, especialista em Psicologia do Esporte, com formação em Biopsicologia e Wellness na University of Wisconsin, e agora presidente do Instituto Incluir, hub que conecta ações de inclusão social, esporte, meio ambiente e cultura.

Covid-19: Emoções em Colapso contém letra ampliada em todo o texto e descrição das imagens, contribuindo para a acessibilidade de pessoas com deficiência visual e surdocegos (que possuam resíduos visuais e/ou auditivos), idosos, pessoas com síndrome de Down, autismo, dislexia, sequelas temporárias e/ou permanentes de isquemias, AVCs, disfunções neurológicas e o público em geral. A iniciativa reafirma a ênfase dada às publicações do Instituto Incluir, que têm como público-alvo também a formação de professores, entre outros acordos com instituições na Europa.

O que motivou o livro foi a certeza de que “contar nossas histórias é uma forma de curar as que foram silenciadas”, como diz a autora. Vai além: “Eu pensava: como um indivíduo dá conta de tanta tragédia? A que preço o mundo interno de alguém se refaz após uma crise sanitária mundial que entrou na vida, na casa, em tudo na nossa existência?”, argumenta. 

Os 56 relatos surgiram em diversos contextos, de conversas com amigos, desconhecidos, conhecidos, papos de telefone, WhatsApp, conversas em espaços públicos, casos próximos e distantes. O resultado é um livro sem julgamento ou busca por culpados. Faz um tributo à memória de uma fase que dividiu até o momento o século 21 em antes e depois da Sars-Cov-2.

Carina se notabilizou com a premiada e pioneira coleção “Literatura Acessível”, 10 livros infantis acessíveis, ou seja, com multilinguismo (português e alemão) e multiformato (leitura simples, libras, braile, audiodescrição, e pictograma), em parceria com o Instituto Politécnico de Leiria, por meio do Centro de Referência em Inclusão Digital, CRID, em Portugal, Fundação Dorina Nowill, em SP, Senac, e Burburinho Cultural, no Rio de Janeiro.

Os títulos dão protagonismo a pessoas com deficiência (cegos, autistas, cadeirantes, pessoas com paralisia cerebral que vivem tramas sobre suas rotinas no mundo). São distribuídos de graça para escolas, bibliotecas e instituições brasileiras. Chegar até a série Literatura Acessível foi um desdobramento imprevisto do mestrado em Letras e Ciências Humanas, quando abordou sua experiência como psicóloga na equipe das Paralimpíadas. A escritora também foi analista de projetos de Esporte e Lazer da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), respondendo pela criação de iniciativas para contemplar funcionários de 21 unidades do Sesi. Em 2018, Carina Alves fundou o Instituto Incluir, resultado de toda a sua caminhada.
Este é o primeiro livro desta autora, após dez títulos infantis publicados - Reprodução
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