Weintraub afirmou que vai assumir cargo no Banco Mundial  - Agência Brasil
Weintraub afirmou que vai assumir cargo no Banco Mundial Agência Brasil
Por Carolina Pavanelli

Na tarde da última sexta-feira, milhões de estudantes procuraram, ansiosos, sanar uma angústia incômoda há mais de dois meses: finalmente, poderiam ver as notas do Enem, que viabilizariam o sonho de entrada no ensino superior de tantos deles. Enem este que, de acordo com Abraham Weintraub, ministro da Educação, teria sido 'o melhor de todos os tempos'. Um exemplo a ser seguido. Porém, para alguns milhares, essa angústia não teve fim. Estranhamente, as notas estavam muito discrepantes, com alunos que acertaram várias questões obtendo algo próximo a zero. O Inep se pronunciou e disse que houve 'inconsistências' na correção, o que atingiria cerca de 0,1% dos candidatos. Esse número, pouco depois, mudou para 1%. Por fim, 5.974.

'Inconsistências'. 'Equívocos'. 'Engasgada da máquina'. Termos usados por Weintraub e pelo presidente do Inep, Alexandre Lopes, para camuflar o óbvio: erraram. O medo de ambos de usar a palavra 'erro' só não foi maior do que a indignação até mesmo daqueles que não foram lesados pela troca de gabaritos, nos fazendo sentir saudades de quando tais equívocos se restringiam aos de português nas redes sociais, como 'vizualizações', virando piada, e não um risco real. Não é a primeira vez em que há problemas no Enem. No entanto, na atmosfera de incertezas em que vivemos, todo cuidado é pouco — especialmente quando se trata da vida de milhares de jovens. O Enem 2019 passou longe de ser o melhor da história.

Weintraub pediu 'desculpas pelo susto'. Disse que o problema foi pequeno, culpou a nova gráfica que imprimiu as provas (aquela mesma que foi contratada, sem licitação, por cerca de R$ 152 milhões), e argumentou que quase ninguém foi prejudicado. Era só mandar um e-mail e as notas seriam corrigidas. O que eles parecem não entender é que não importa a quantidade, cada estudante que teve sua nota errada é um indivíduo lesado pela ineficiência de um órgão que não só não poderia cometer nenhum erro dessa magnitude, mas muito menos fazer pouco caso do ocorrido.

O Enem é o exame mais importante do Brasil, envolve milhões de pessoas direta e indiretamente, e o trabalho árduo de alunos e professores durante muitos anos. Não é concebível trocar os gabaritos, não explicar efetivamente o que aconteceu e pedir desculpas pelo susto. Fosse só um susto, estaria tudo bem. Mas o assombro maior vem da dificuldade de voltar a acreditar na credibilidade e lisura desta tão importante prova e do aparente tom de normalidade com o qual o problema foi tratado. Não foi uma inconsistência, tampouco um susto. Foi um erro vergonhoso, e é assim que ele ficará marcado na história do Enem no Brasil.

 

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