Rio - Na madrugada desta segunda-feira, o sambista Moacyr Luz foi assaltado quando estava dentro de um táxi, a caminho da Marquês de Sapucaí. O compositor conta que estava entre a Central do Brasil e o Campo de Santana, quando três homens armados abordaram o veículo em que ele estava. "Estava distraído, estávamos parados num sinal, mas tinha um pouco de trânsito também. Sei que ali tem assalto, mas levei fé que com o movimento nada aconteceria", lembra.
"Eles bateram no vidro do motorista para que ele abrisse e os outros dois ficaram com as armas apontadas para mim. O que bateu no vidro do motorista arrancou logo o celular dele e pegou o dinheiro. Me pediram também o celular e dinheiro, mas levaram tudo. Inclusive minhas fantasias do Paraíso do Tuiuti e da Mangueira, que desfilei como convidado".
Moacyr diz que a ação foi muito rápida: "O sinal abriu e eles saíram andando normalmente, com todo mundo em volta. um pouco à frente já podíamos ver a concentração das escolas".
REALIDADE
A Paraíso do Tuiuti desfilou no domingo pelo grupo especial, e levou à avenida um enredo sobre escravidão ('Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?'). Luz, um dos compositores do samba da escola, recordou hoje a sensação de chegar a Sapucaí depois da violência sofrida.
"Fiquei sem saber o que fazer porque fiquei com a roupa do corpo. Fiquei atordoado. Mas fui em frente e fui acolhido. O desfile da Tuiuti foi emocionante, e adorei sair na homenagem da Mangueira", diz. "Não dei queixa ainda, mas pretendo dar. Não tive tempo, dormi duas horas".
O sambista afirma ainda, que não pretende ficar refém do medo. "Vivo desta cidade, mas me sinto constrangido como compositor de defender a minha cidade nas letras, convidar as pessoas...cadê a cidade maravilhosa?", reflete. "Estamos desamparados. Não temos pra quem recorrer. As pessoas saem da Sapucaí depois dos desfiles e ficam expostas a tudo. Estamos com a dura face da verdade na nossa cara. Fitando a violência".
E faz um paralelo ao enredo do samba que compôs para a 'Paraíso'. "São dissonantes condições sociais que o Brasil vive, o samba fala disso também. Vivi na pele um pouco dos versos que escrevemos. Mas em compensação, a emoção de ver as pessoas na avenida, cantando nosso samba emocionadas, compensou tudo". E conclui: " Nada vai mudar na minha rotina. Hoje vou as 16h fazer minha roda de samba no Renascença Clube. Precisamos viver".