Família denuncia demora em transferência hospitalar em Cabo Frio "Não sabia que a saúde da região era precária desse jeito"Sabrina Sá (RC24h)

A família de um paciente, cansada do descaso, está denunciando as péssimas condições da rede pública de saúde de Cabo Frio, município da Região dos Lagos. De acordo com o relato, Sidney Campos, de 45 anos, está na luta por uma transferência desde junho, ele precisa urgentemente ser internado em uma unidade que tenha um centro cirúrgico com recursos para cuidar de um caso de suspeita de linfonofomegalia.

Segundo a irmã de Sidney, mesmo com pedido de três médicos para drenar o líquido do abdômen e da pleura, ele estava há seis dias na sala amarela da Unidade de Pronto Atendimento do Parque Burle sem fazer o procedimento. Antes disso, mesmo com dor e com a piora do quadro, o paciente viveu uma verdadeira peregrinação para conseguir a internação na unidade.

“Só davam injeção e mandavam pra casa. Corremos atrás pra fazer os exames. Conseguimos com muito custo um pedido de internação pelo posto de saúde do bairro. Chegando na UPA, ele ficou seis horas sentado na emergência esperando pra fazer exames, porque não aceitaram o que já tinha pronto. Nesse dia ele chegou na UPA às 14hrs com muita dor e só conseguiram uma cadeira reclinável pra ele às 19hrs. A internação só aconteceu às 00h40”.

Depois disso, os familiares contam que Sidney ficou apenas dois dias lá e depois teve alta por falta de recursos. O médico afirmou que “não tinha o que fazer por ele lá”.

O paciente voltou pra casa e ficou quase 15 dias tomando analgésico e indo no posto do bairro. A família conseguiu novamente uma internação para fazer um procedimento pra retirar o excesso de líquido do corpo dele. Nesta ocasião, o colocaram na sala vermelha da UPA e disseram que ele seria avaliado por um médico no Hospital São José Operário, mas quando ele foi levado, os médicos não quiseram fazer o procedimento porque estava de noite. Com a recusa, ele voltou para a UPA e ficou o dia inteiro em uma maca no corredor, até que voltou para a sala amarela para aguardar a transferência.

Com a sensação de impotência e o medo de perder, para sempre, alguém especial, a família decidiu procurar ajuda. “Essa vaga nunca aparece. Já saíram em torno de 12 pacientes de internações em hospitais e ele continua lá na sala amarela sem nenhum cuidado específico pro caso dele. Continua na fila pra uma possível internação que nunca chega. A cada instante que passa piora o estado de saúde dele. Ele está tão inchado, que está com dificuldade para andar e se vestir. Ele está implorando por ajuda porque já está sentindo falta de ar por causa do líquido do abdômen e da pleura, que a cada dia aumentam mais. Se depender desse Sistema Único de Saúde, ele morre antes de sair essa vaga pra internação. O estado dele é muito grave. Ele precisa urgentemente de um hospital equipado para cuidar do caso dele. A UPA não tem nenhuma estrutura pra manter ele lá”, desabafa a irmã.

O próprio paciente relatou o sofrimento:
Procurada, a Prefeitura de Cabo Frio disse que o paciente em questão “já está no sistema de regulação, para ser transferido para uma vaga de clínica médica hospitalar”.

De acordo com o município, ele está classificado como prioridade, de forma que a transferência ocorra o mais rápido possível, tão logo ocorra a vacância de leitos tanto na rede municipal quanto na estadual.

Nesta quarta-feira (28), o paciente passou por procedimento para a retirada de líquido, no Hospital São José Operário, em São Cristóvão, retornando em seguida para a UPA Parque Burle, onde aguarda a transferência.

Família teve que intervir

Ainda nesta quarta-feira (28), exaustos com a espera e preocupados com a piora do quadro de saúde de Sidney, que ainda não tinha diagnóstico conclusivo, a família teve que pagar mais de R$4 mil em uma ambulância particular para fazer a transferência dele da UPA para o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, onde eles mesmo conseguiram atendimento.

“Se a gente não trouxesse para o Rio, ele não ia ter chance. Ele está radiante sabendo que vai. É como se ele tivesse vendo a vida do outro lado da ponte Rio-Niterói. Eu não sabia que a saúde da Região dos Lagos era precária desse jeito”, declara um sobrinho.