Vejo pequenas matas ao meu redor; montanhas ao longe e um mar na outra margem.
Um simples pássaro pousado numa árvore rara de galhos secos. Outros chegam e se revezam no palanque improvisado.
Quando amanhece, viro-me para um lado da casa e vejo o astro-rei se elevando. À tardinha, me dirijo para o poente e vejo os quadros mudarem a cada dia, numa profusão de cores e nuvens de formas distintas.
Nesses dias, estou morando numa casa com um pequeno gramado à frente. Bananeiras e pés de goiaba se acotovelam fartos em cada esquina.
Vivo na altura do chão, sem prédios à minha volta. Por isso posso observar o espetáculo indescritível da chuva caindo na grama e se espalhando em pequenas poças passageiras.
Já não me lembrava que isso existia, morador longevo de prédios e apartamentos.
Há tempos escrevi sobre o absurdo que é o sol não poder bater em nossos rostos, por conta da altura dos prédios à nossa volta. Não há horizontes, não há perspectivas, é tudo uma massa de concreto armado até os dentes, com pequenas frestas como respiradouro.
Só quando podemos pisar no chão de terra, descalços e desnudos de vaidades, é que podemos sentir a grandeza das pequenas coisas.
Que ainda tenhamos tempo para usufruir dessas simples formosuras, peças que somos da Unidade escanteada pela pressa cotidiana.
Merecemos fazer parte deste espetáculo, colorindo a tela da vida com os pinceis atômicos do nosso sentir. O coração pede passagem.
Podemos dar. Vamos!