Fernando MansurO DIA

Ponte Nova, Minas Gerais. Bairro de Palmeiras ou, mais propriamente, Guarapiranga. Uma casa linda, colorida de quadros, plantas, fadas e gnomos. Neste pequeno castelo vivia Dona Laene Teixeira Mucci, professora de décadas, autora de livros, poetiza imortal.
D. Laene acompanhou o nascimento e o desenvolvimento de gerações de pontenovenses. Mente aberta, cidadã do mundo, visão de vida mágica e impressionante.
Marido e filhos a circundavam, juntamente com os alunos que diariamente a visitavam em busca de orientação e guarida. Mulher rara, na noite em que seu corpo expirou as luzes de Ponte Nova também se apagaram, tal a força e luminosidade dela. Quando eu morava em PN, costumava procurá-la para conversar. As horas passavam sem nos darmos conta. Quando me mudei, toda vez que voltava à cidade, telefonava para ela, perguntando sobre a melhor hora de ir vê-la.
Depois que me casei, levei minha esposa para conhecer essa pessoa de quem eu tanto falava com admiração e espanto. E me aconselhou a cuidar bem dela. Dona Laene era um porto seguro, onde ancorávamos nossos barcos naqueles momentos raros, e contribuiu de modo indelével para a cultura da cidade, com impecáveis aulas de português, com seus livros de poesia, peças de teatro, artigos, pinturas, gestos e sentimentos.
Ela amava viver e compartilhar a vida que jorrava pródiga de seus corações, pois certamente tinha mais de um. Laene agora deve morar na Via-Láctea – que ela tanto amava – mas viva nas sementes que deixou em cada um de nós.
Fernando Mansur