Deputado Átila NunesThiago Lontra/Alerj

Julgar e criticar: tem alguma diferença? Ao julgar algo ou alguém significa estar embutida uma crítica? Um juiz, ao julgar um processo, está ao mesmo tempo fazendo uma crítica de quem – na visão da lei – errou? O fato é que julgar é um dos atos de maior seriedade para o ser humano. Não apenas para juízes, mas para nós também.

O problema é que banalizamos os julgamentos. Alguns de nós fazem disso um hábito, travestidos de críticas aparentemente inofensivas. Simplesmente julgamos sem nos dar ao trabalho de nos colocarmos no lugar das pessoas criticadas. Não importa a versão do outro lado. Nosso julgamento já está consolidado, recheado de críticas muitas vezes infundadas. Resumindo: todo mundo está errado, menos nós. E não adianta ponderações. “Sou assim mesmo!”, não é comum ouvir essa frase?

Tirando os magistrados, honestamente, quais são as vantagens de julgar os atos dos outros? Vá lá que é impossível extinguir nossa capacidade de observação, de ver e analisar o que está ao nosso redor. É óbvio que pessoas, objetos, cores e formatos agradam a uns e não a outros, o que nos leva às críticas. Se para mim o azul me traz paz, para outros, esta cor pode ser considerada depressiva. Já o vermelho, para muitos, transmite energia, enquanto para os demais, transmite uma energia negativa. E assim é com o verde, o amarelo, o preto, o branco e por aí vai.

E as pessoas? A aparência é uma das razões mais fortes para uma crítica sobre o que parece fora dos nossos padrões. Magros, gordos, pretos, brancos, portadores de deficiência física ou mental, tudo que nos chama atenção pode ser passível de um julgamento. Até mesmo comportamentos. Para alguns, podem parecer nobres e para outros, condenáveis.

O problema é quando julgamos por hábito, simplesmente pelo prazer (mania?) de criticar. Isso pode se tornar uma mania horrorosa. Ao ser apresentado a uma pessoa, você só vê o lado negativo: se o cabelo combina com o rosto, se tem uma verruga proeminente, se as roupas são adequadas e os sapatos condizem com o traje. Esse comportamento é um dos mais marcantes exemplos de atraso espiritual.

Quem vive criticando com julgamentos desnecessários não acrescenta nada à sua evolução espiritual. O José Carlos De Lucca chama atenção para a utilização indevida da palavra “pessoa”. Repare na frequência com que usamos a expressão "as pessoas". "As pessoas isto”, “As pessoas aquilo”, “As pessoas têm a mania”... Por isso, a importância de se evitar a todo custo a generalização. Isso denota, como ele diz, arrogância, preconceito e tentativa de exclusão. No fundo, é um julgamento. É como se disséssemos que aquelas “pessoas” não estão à altura de conviver conosco. Parafraseando o Bruno Henrique do Flamengo, estaríamos em outro “patamar”. Somos superiores, infalíveis, seres superiores. E os outros? Ora, são só isso: os outros.

O julgamento afasta os seres humanos. O preconceito tem essa característica: dividir os habitantes desse planeta. Isso acontece na religião, nas etnias e na orientação sexual. São duas categorias: nós e eles. E não adianta recorrer ao velho chavão de que está sendo feita uma crítica “construtiva”. Por trás dessa crítica teoricamente construtiva, pode se esconder o desejo de disputa.

O mais cruel é que fazer críticas mostra a inveja dos que são mais felizes. Por isso, a necessidade de criticar, de julgar de forma aleatória tudo e todos. No fundo, ao criticarmos, achamos que nós é que nos tornaremos felizes. E é uma forma de defesa para quando erramos. Invés de reconhecer o erro, parte-se para o ataque na forma de críticas severas. E mesmo quando reconhecemos nossos erros, a tendência é guardar este reconhecimento para nós mesmos, escondendo-os dos demais. Afinal, achamo-nos infalíveis, certo?

Nem todo mundo se coloca no lugar do outro. O egoísmo nos leva ao julgamento irresponsável como forma de defesa. Poucos perguntam, como diz o De Lucca, por que Fulano agiu assim ou assado. Que ação o levou a ter tal reação? O que se passava na cabeça dele? Essas perguntas nos colocam no lugar do outro para que possamos entender melhor seu modo de pensar e agir. E entendendo, fica muito mais fácil perdoar. Ou melhor, nem existe necessidade de perdoar. Havendo compreensão, nada há a perdoar.

A reencarnação é o processo evolutivo do espírito advindo de outra existência. Não podemos incorrer no erro de julgar levianamente quais são os espíritos bons e ruins. Ao reencarnamos, também somos pessoas, gente, seres humanos, invólucros de nossas almas. Erros e acertos fazem parte, da mesma forma como a Lei do Livre Arbítrio aí está para nossas escolhas. Os que erram, precisam muito mais de atenção do que os que sempre acertam. Trocar a crítica pelo hábito saudável de ouvir e entender as razões de um comportamento é o caminho para ajudar a evolução tanto do nosso espírito quanto do nosso semelhante.
As únicas coisas que estão sob seu controle são seus julgamentos, opiniões e valores. É neles que você deve manter seu foco.

Por Átila Nunes