Arte coluna Atila Nunes 08 janeiroArte Paulo Márcio

Todos, absolutamente todos, já sentiram muita, muita raiva. É humano. A raiva é um sinal de alerta informando que seu território está sendo invadido, que seu senso de identidade está sendo menosprezado. Por isso, não há porque se sentir mal e arrependidos quando temos raiva de alguém. Raiva e mágoa são primos próximos. Aliás, um provoca o outro.

O maior desafio é como administrar a raiva. O que fazer para dissipar a mágoa. Cada um acaba achando sua maneira de lidar com esses sentimentos. Alguns, se valem da violência para aplacar sua raiva. Outros, recolhem-se e evitam qualquer conversa, qualquer contato. E têm os que caem em profunda depressão.

Em qualquer uma dessas opções, uma coisa é certa: os custos físico e emocional. A saúde é fortemente afetada inevitavelmente. E dependendo da opção, além da saúde, até mesmo podemos pagar o preço da falta de liberdade. Os que foram parar na prisão em razão de suas explosões de raiva que o digam.

Tem gente que literalmente morre de raiva. São muitas as consequências físicas e emocionais: estresse, depressão, doenças do fígado, problemas cardíacos e dermatológicos, enxaquecas e por aí vai. O câncer está incluído nessa lista, assim como os ataques cardíacos. Só que é impossível dissociar a raiva da mágoa, um sentimento que pode levar à morte.

A raiva é o gatilho de males que, em alguns casos, só aparecerão anos mais tarde. Alguns males são imediatos, notadamente no nosso corpo. E não falamos ainda nos males causados a terceiros, principalmente aos que nos cercam.

Ainda bem que existem condutas que podem evitar tudo isso. Quem guarda sentimentos negativos dentro de si precisa urgentemente expulsá-los de seu coração. Sentimentos de raiva e mágoa não são para ser guardados, muito pelo contrário. Cultivar mágoa é como guardar dentro de casa um barril de gasolina que, ao explodir, é capaz de matar você e os que você ama e até matar inocentes. Ou não é isso que acontece com aquelas explosões de raiva na rua em que o sujeito pega um revólver e sai atirando em todo mundo?

É fundamental, portanto, que você desabafe com um amigo, com um terapeuta, seu líder religioso ou quem você achar melhor. Confessar as razões de nossa raiva é meio caminho andado para diminuir esse sentimento negativo que faz mais mal a você do que a quem é dirigido. O objetivo é libertar-se muito mais do sentimento que lhe faz tanto mal, do que propriamente do motivo que está causando essa mágoa.

Existem fatos em nossas vidas que não podemos mudar. Maridos e esposas que vivem juntos à sua revelia, mas que não podem separar-se por várias razões. Viver com alguém que não se ama pode causar raiva. Isso decorre da profunda insatisfação da vida em comum sem sintonia afetiva. Nos casos insolúveis, a saída é conformar-se com a situação e buscar minimizar as causas das explosões de raiva.

Se um de seus filhos só lhe traz problemas na escola e no lar, o que fazer? Dá raiva? É claro que dá, mas são raríssimos os pais ou mães capazes de simplesmente expulsarem de casa seus filhos problemáticos. Se seu pai tem Alzheimer, você o abandonará numa calçada? Se um filho nascer com problemas físicos ou mentais, é possível descartá-lo numa lata de lixo como um produto estragado?

Reconheço que para alguns é dificílimo praticar o perdão, o remédio mágico para curar nossos ressentimentos. Perdoar os que nos feriram é libertador! Perdoar é tão ou mais importante para nós do que para os perdoados. Aliás, cá entre nós, quantas pessoas já devemos ter magoado sem nos apercebermos? Perdão é uma das formas de terapia espiritual, lembra o José Carlos De Lucca. Eu acrescentaria dizendo que perdoar é evoluir espiritualmente. Quem tem a capacidade de perdoar está anos-luz a frente dos incapazes de fazê-lo.

Quando perdoamos, estamos reconhecendo que somos seres humanos frágeis, vulneráveis e imperfeitos, capazes de inconsequência e crueldade. Ninguém nasceu mau e que somos muito mais do que o pior que fizemos na vida.

“Porque o ódio que sentirmos ou a cólera que alimentemos recai sempre sobre nós, no sentido de doença, de abatimento, de aflição e só pode causar mal, já que deixamos, há muito tempo, a faixa da animalidade para entrarmos na faixa da razão” (Chico Xavier)
Átila Nunes