Paulo márcioPaulo márcio

Nas últimas semanas, o Brasil tem sido sacudido por cenas chocantes que culminaram numa onda de protestos. O congolês Moïse foi massacrado a pauladas por três homens num quiosque no Rio. Um chefe da família negro foi assassinado por um vizinho que achava que iria ser assaltado. Mais duas entre tantas tragédias que assistimos país afora e que, além de mexer com nossas emoções, devem servir para reflexão e mudanças porque trazem à baila o chamado racismo estrutural, que tem o preconceito como origem.

Como é visto, entretanto, o preconceito na visão espírita? Se somos todos iguais perante Deus, devemos pregar a igualdade, igualdade esta que deve ser disseminada e principalmente, praticada. As manifestações de protesto por todo o país mostram que cada vez mais os brasileiros conhecem a necessidade de respeito a todo ser humano, independente de raça, credo, condição social ou religião.

É importante que possamos aproveitar esses tristes episódios para refletirmos de que forma podemos combater todo tipo de discriminação. Uma doutrina que prega a igualdade e ensina a lei da reencarnação, obviamente, é contrária a todo tipo de comportamento preconceituoso por uma simples razão: todos os seres humanos são iguais perante Deus.

Todos tendem para o mesmo fim e Deus fez as suas leis para todos. Não podemos nos autointitular espíritas cristãos e sermos indiferentes aos comportamentos preconceituosos. Aliás, não basta que sejamos antirracistas: é preciso que tenhamos uma postura antirracista, condenando e combatendo sempre todo tipo de preconceito e segregação por conta de raça.

O mesmo vale para outros tipos de discriminação e a prática da igualdade deve permear todos os nossos passos. Não devemos pregar o ódio contra qualquer pessoa, nem tampouco apelarmos para a violência ou vandalismo, mas devemos sim, nos indignar diante de situações como as recentemente ocorridas no Rio de Janeiro.

Não existem espécies distintas de seres humanos, pois todos são ‘sapiens’. Essa variedade aparente — negros, indígenas, asiáticos, brancos —, compõe frutos da mesma árvore, já que todos os seres humanos são, na verdade, espíritos. Todos estão destinados à perfeição. Por isso, a inexistência de racismo entre os espíritos.

Qualquer espírito poderá encarnar como branco ou negro, asiático ou indígena, ao longo do seu ciclo de reencarnações. Não existe raça superior ou inferior. Uma das mais fortes características do espírito é a superioridade da inteligência sobre a matéria. E isso faz com que desapareçam, naturalmente, todas as distinções estabelecidas entre os homens que criaram as castas e os estúpidos preconceitos de cor.

Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos, pois o mesmo espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. A reencarnação está assentada numa lei da natureza baseada no princípio da fraternidade universal, da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, da liberdade. Quem abraça uma doutrina religiosa tem o dever de ensinar a perdoar os inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa.

Os espíritos encarnados em tribos incultas e selvagens que passam a ter contato com a civilização, acabam sofrendo transformações nem sempre benéficas. Pelo contrário. O que se fez com os africanos é considerado imperdoável. Foram igualados à animais num clima de embrutecimento quase total, escravizados impiedosamente. E arrastados – como os indígenas – para uma civilização estranha aos seus hábitos, costumes e crenças. E o pior: sob o argumento de que precisavam evoluir. Um absurdo.

Civilizado de verdade é quem é bom, humano e generoso com todos, respeitando a cultura, a raça e a crença do outro. No fundo, o que move o preconceituoso é o desejo de criar segmentos forjados pela ignorância para manter os seres humanos separados. Por isso, a ignorância não fica tão distante da verdade quanto o preconceito, já que este é o bom senso de espíritos inferiores encarnados.
Átila Nunes