Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Daniel Castelo Branco

Acabei de receber uma intimação via telefone. Foi no exato momento em que estava revirando a memória para selecionar a história deste sábado. E, ainda bolando como iria lançar uma campanha nacional, tipo "Uma Galinha em Cada Panela", ou "Uma Panela para Cada Fogão", ou mesmo "Azeite para Todos", algo parecido, entenderam ?
Mas, deixa eu voltar à intimação que chegou via telefone fixo. Pelo bina, verifiquei que se tratava do Júlio Mecânico. Pensei logo no meu Golzinho do Vovô. Ora, o carro tá na garagem, comportado, imóvel, quase virando múmia. Que será ? Dominei a curiosidade e aguentei as preliminares da conversa, tipo como vai? e a família? saúde? já tomou a terceira dose?, coisas assim.
E, logo Júlio engatou uma segunda e falou: "Ô Luar, tem alguma coisa séria para domingo? Os amigos tão
promovendo um encontro no bar do Refogado e todos esperam sua presença.... Caramba, logo no dia que eu tirei para ir até à Feira dos Aperreados, em São Cristóvão. É lá que encontro velharias, tipo telefones antigos, luminárias do Século XX, essas coisas bem mais velhas do que eu.
Raciocínio rápido, perguntei ao Júlio o horário do furdunço no estabelecimento do Refogado: "Dez horas, meu amigo. O Fred ficou de levar um panelão com carne cozida e batatas, ao molho suíço. E todos têm que mostrar que já estão com a terceira dose em dia. 
Raciocínio rápido, pensei logo em ir à feira bem cedinho, lá pelas 6h. Às 10h, já estaria de volta. E, topei a agenda quase alcóolica com carne e batatas. "Feito, Júlio. Estarei por lá. Então, vou levar bolinho de mulato-velho. "Esse encontro vai ser de arromba. É o óbvio ululante. Mas, não vou faltar". Mas, afinal qual o motivo do encontro? Júlio esqueceu de contar.
Então, telefonei de volta para saber. Fiquei em alerta com a resposta: "Estamos preocupados com você. As últimas Histórias do Luar não mostram nada dos vizinhos. Vamos tentar achar mais personagens e os causos para você ter assuntos".
Céus, estão me espionando (ou lendo?) Os caras adoram quando conto detalhes dos outros. Não pode virar fofoca. Mas, esquecem que tenho que dosar os assuntos. Lembro de coisas, de vidas, de mortes, de histórias, de pessoas. E até de fatos ! São mais de 70 anos vivendo e vendo coisas diferentes, ou mesmo de detalhes e pedaços de vivência, ou sofrência.
Isso vai do meu primeiro porre, aos 4 anos de idade, até os dias de hoje. Haja memória, amigas e amigos. Já imaginaram quantos personagens passam pela minha mente diariamente ? E ainda conto as minhas vitórias e, também, as derrotas. Tô no meio do fogo. Sei que posso me queimar.
Mas, aguardem. Vou no encontro. Não levarei celular e nem mesmo gravador. Afinal, acreditem, o tal do alemão - Alzheimer - ainda não chegou por aqui. Acho eu...Ah, aproveito para contar sobre as campanhas que estou tentando lançar. Aquelas que contei no primeiro parágrafo. Ainda lembram? Quem sabe abracem a ideia e ajudem ? Mas, gostaria de explicar uma coisa. Tem gente que nunca ouviu falar (ou mesmo provar) um mulato-velho. Quando eu ainda era um menino de uns dez anos de idade, provei pela primeira vez.
Tinha escutado meu avô contar que, quem come esse petisco atrás de porta, fica mais bonito. Entenderam porque eu fui logo comer o tal peixe atrás da porta ? Bem, nada mais é do que um bagre defumado e desidratado. Parece, e tem gosto de bacalhau. O importante na atual época de inflação e crise financeira (além dos vírus que nos rondam), é que a diferença do preço entre bacalhau e mulato-velho é incrível.
Para quem vai beber umas cervejinhas, o bolinho é fenomenal. Isso associado à carne assada com batatas ao molho suíço do Fred. Se vou lembrar dos novos causos e personagens que vão me contar no encontro dominical, só mesmo o mulato-velho é quem sabe.