Outro advogado negro de importância capital para a advocacia foi Francisco Gê Acaiaba de Montezuma (1794-1870), fundador e primeiro presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros e que teve destacada atividade na vida pública nacional.
Hoje, temos importantes advogados e advogadas fortalecendo a Ordem e sendo vozes importantes no combate ao racismo, como Ivone Caetano, desembargadora aposentada, e Humberto Adami, presidente da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil.
Nos anos recentes, é preciso destacar a atuação do advogado, jornalista e parlamentar Carlos Alberto Oliveira, o Caó, que deu nome à lei de 1989 que tornou o racismo um crime inafiançável e imprescritível. Até então os atos de discriminação racial eram tratados apenas como simples contravenções penais. Foi um passo importantíssimo e necessário.
Cito um exemplo banal e revoltante de quando eu era jovem, antes da lei: era comum que negros fossem obrigados a usar entradas e elevadores de serviço. Isso não existe mais. Mas há ainda muito a fazer para que a igualdade racial seja estabelecida.
A discriminação racial continua, de forma brutal e estrutural. E afeta fortemente a qualidade de vida, como provam diversos indicadores socioeconômicos. Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade entre jovens brancos de 15 a 29 anos era de 34 para cada 100 mil habitantes em 2017. Entre jovens negros, na mesma faixa etária, a taxa de homicídio chega a 185 por 100 mil habitantes.
Nesse momento de crise, o mercado de trabalho é ainda mais difícil para negros. No terceiro trimestre de 2018, a taxa de desocupação registrada entre a população branca era de 9,4%, bem abaixo daquela observada entre negros (14,6%). Entre esses, também é muito maior o número na informalidade.
Embora a força de trabalho negra seja maioria no país, uma pesquisa do Instituto Ethos revelou que ela ocupa apenas 4,9% das cadeiras nos Conselhos de Administração das 500 maiores empresas do Brasil. E preenche 4,7% dos quadros executivos.
Isso reflete no rendimento das famílias. Em média, pretos e pardos recebem a metade dos brancos. E, segundo o Banco Mundial, a taxa de pobreza e pobreza extrema afeta o dobro da população negra: 32,9% vive com menos de US$ 5,50 por dia, em comparação a 15,4% dos brancos. Em 2016, a taxa de analfabetismo entre os brancos era de 4,2%. A de pretos e pardos era mais que o dobro (9,9%).
No Judiciário os dados são ainda mais díspares. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, em 2013, último ano disponível, apenas 1,4% dos magistrados no Brasil era negro. A própria participação dos negros na advocacia ainda é inferior à sua participação no resto da sociedade.
Esta semana tivemos uma boa notícia. Pela primeira vez, negros são maioria nas faculdades públicas. É algo a se comemorar, mas ainda é pouco. A luta contra o racismo não pode ficar restrita a um dia – e deve ser de toda a sociedade.