Por O Dia
Neste domingo, dia 15 de novembro, 147,9 milhões de eleitores poderão ir às urnas para escolherem prefeitos e vereadores. Nas eleições municipais nós decidimos quem irá administrar nossas cidades e fazer suas leis.

Para aqueles que acham que política é algo desimportante, sugiro pensar duas vezes. E, no caso das eleições municipais, lembrar disso toda vez em que um imposto municipal aumentar, ou não; em que você chegar à noite em casa e a rua em que você mora estiver iluminada, ou não; em que a rua onde você trafega estiver asfaltada ou esburacada; se o transporte municipal for pontual ou inexistente; se o hospital municipal estiver funcionando ou fechado; se a escola municipal tiver turno único e der uma, duas ou três refeições para os alunos; se há população de rua na sua cidade e como ela é tratada. 

Em suma, em como o dinheiro é arrecadado e em como ele é usado.

A política é uma atividade essencial à gestão da vida em comunidade. Quanto maior e mais complexa a comunidade, mais difícil e desafiadora é a tarefa dos políticos com mandato. Não podemos escolher qualquer um para lidar com isso. Muitas vezes é o que acaba acontecendo e ficamos frustrados, decepcionados ou irritados. Achamos que determinada pessoa não era suficientemente qualificada, bem intencionada, proba ou capaz. 

Escolher mal não é um problema novo. Ainda no século 19, o escritor escocês Robert Louis Stevenson (de “O Médico e o Monstro” e de “A Ilha do Tesouro”), lamentou que a política fosse a única atividade para a qual nenhuma preparação fosse considerada necessária.


Mas não adianta criminalizar a atividade política. Isso mina a democracia. E a alternativa à democracia é o totalitarismo, com a supressão de direitos e garantias, com o desrespeito à visões contrárias, com o controle autoritário pelo Estado da vida pública e privada.

Ficamos sem poder votar durante muito tempo para presidente. O golpe militar cassou esse direito pelos 21 anos de duração do regime (1964-1985). Ainda tivemos que esperar mais quatro anos para ir às urnas, em 1989. Como a última eleição havia sido em 1960, muitas pessoas da minha geração votaram pela primeira vez para presidente junto com os pais. 

A OAB foi uma voz importante na luta pela reconquista desse direito. Participamos das campanhas pela volta da democracia. O direito ao voto — e o respeito à vontade do eleitor — é um dos pilares da democracia, embora não seja o único. Um outro pilar importante da democracia é a pluralidade, o respeito à diferença. 

Por mais que vejamos os políticos como um grupo apartado, eles são membros da nossa sociedade, nem melhores, nem piores. E se o voto serve para eleger candidatos, também serve para mandar eles para casa. 

Precisamos refletir bem ao delegar a terceiros como lidar com as questões comuns que afetam a todos ou a grandes parcelas da população. É algo tão importante que o presidente norte-americano Dwight Eisenhower disse certa vez que "a política deveria ser a atividade em meio período de todo cidadão”. E, como estava no auge da Guerra Fria, completou que ela “consiste em proteger os direitos e privilégios das pessoas livres”. Reforçando assim o que a propaganda de então chamava de “mundo livre”.

Independente disso, "a proteção de direitos e privilégios”, no fim das contas, também é uma boa definição da política. Que direitos e privilégios queremos para nós e para os outros, e quais estamos dispostos a manter ou cortar?

Com pouca verba e muitas coisa a fazer é preciso escolher com cuidado e atenção se os políticos que escolhemos têm a mesmo escala de prioridade para “direitos e privilégios”. Nesta eleição, todos devemos buscar os candidatos com os quais nos identificamos, aqueles que esperamos que irão melhor defender nossos interesses e visões para a comunidade. E que tenham capacidade para tanto.
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Luciano Bandeira é presidente da OABRJ.