Parada LGBTQIA+foto de divulgação

Através de eventos e uma política voltada para o segmento, o Rio de Janeiro busca recuperar o terreno perdido como preferido destino LGBTQIA+ da América Latina. A agenda do segundo semestre foi preenchida com atividades destinadas a atender a este segmento. Isso porque ainda são grandes entraves mundiais também refletidos por aqui: o preconceito, a falta de um cronograma consistente, pouca qualificação da mão de obra receptiva e apoio insuficiente do poder público e de empresas.
“Eu, como hoteleiro e especialista em diversidade, acredito que Rio, apesar de estar evoluindo ano a ano, ainda precisa caminhar bastante. O mercado esta cada vez mais promissor, e além disso, as empresas já estão entendendo a importância de dar atenção ao publico LGBQIA+ e principalmente, de respeitar, capacitar e aprender sobre nós, pois sempre estevemos ao redor, mas agora abrimos o espaço e temos vozes” - avalia Andre Loyola - representante da Câmara LGBT do Brasil.
Pesquisa recente feita em 25 países pelo site de hospedagens Bookink.com aponta que 82% já vivenciaram experiências desagradáveis, sendo que 55% já sofreram discriminações em viagens, sendo 28% por conta do estereótipo e 18% sentindo-se ridicularizados ou atacados verbalmente. Não é a toa que, 60% dão preferência a destinos que respeitem a cultura LGBTQIA+
“É importante ressaltar que a comunidade valoriza viajar para lugares onde a história LGBTI+ é valorizada e onde a convivência comunitária é mais respeitada. Precisamos avançar mais ainda na formação continuada do trade do turismo e qualificar os serviços de atendimento” - endossa Claudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Iris.


Rio em busca da recuperação da economia LGBTQIA+
Pesquisa da Organização Mundial do Turismo aponta que este segmento é quatro vezes mais rentável do que o convencional. Movimenta mais de 100 milhões de dólares na economia global.
E por conta de uma administração que praticamente boicotou e ignorou esse mercado, o Rio de Janeiro tenta voltar atrás para recuperar os milhões perdidos nos anos anteriores. E não foi somente para a vizinha São Paulo que o Rio vinha perdendo terreno. Na avaliação de Alex Bernardes, criador e diretor da LGBT+ Turismo Expo, a grande quantidade de atrativos e a vocação natural da cidade fez com que os administradores se acomodassem abrindo espaço para destinos mais trabalhados na América. 
"O Rio nunca deixou de ser um dos destinos mais desejados do mundo para os turistas LGBT+, mas talvez pela alta confiança, a cidade deixou de se promover para esse público e outros destinos na América Latina, como Buenos Aires. Eles trabalham fortemente na promoção e acabaram por tomar essa liderança na nossa região. Além disso, esses destinos, além de autopromoção, fizeram um trabalho de capacitação do seu trade, trabalharam para sensibilizar seus equipamentos de segurança pública e conseguiram diminuir a sensação de insegurança dos seus turistas da comunidade LGBT+, e isso é um ponto crucial para quem quer atrair esse público".
Preparando o terreno para os ápices que são a Parada de Copacabana e o Carnaval 2023, eventos menores começam a colorir o calendário. E não falta potencial para essa alavancar essa recuperação. A cidade foi apontada como uma mais desejadas por esse público em pesquisa feita pós-pandemia. Isso sem contar que a Praia de Ipanema foi eleita, no início do ano, a segunda melhor do mundo pelo site GayCities, ficando atrás apenas de Los Muertos, no México.
Junho, mês conhecido como do Orgulho LGBTQIA+, foi preenchido por várias ações pulverizadas.  Abrindo julho, aconteceu o “Amor em todas as Cores”, que misturou desfiles, expositores, shows e ações humanitárias e de solidariedade na Lapa, terreno demarcado historicamente pelo emblemático símbolo gay Madame Satã.
“Esse ano com um trabalho em conjunto da Câmara LGBT, RCVB, CEDS e RioTur, tivemos uma série de celebrações e projetos acontecendo. Isso tudo nos coloca em evidencia por pontos positivos, e isso, sem duvida, começa a atrair mais e mais turistas para a cidade. Sabemos o quanto o turismo movimenta a economia, independente das cores das bandeiras ou das orientações sexuais.” explica André Loyola

EXPO e Qualificação do receptivo
Ainda esse mês a LGBT Turismo Expov vai ocupar o Hotel Fairmont em Copacabana. No dia 26 vai reunir mais de 35 expositores e 50 empresas que trabalham com esse segmento no turismo. O evento conta com apoio da Setur e Turis-Rio.
"Para essa edição teremos uma novidade. Devido a grande demanda de empresas como hotéis, restaurantes, guias de turismo e receptivos em participar e enriquecer seus conhecimentos no tema,  teremos uma sala extra com treinamento exclusivo para esse perfil de negócios. O objetivo é capacitar o trade com relação as boas práticas de atendimento" - antecipa  o organizador Alex Bernardes. 
A Expo já conta com 450 profissionais inscritos, o que representa 30% mais do que a última edição 100% presencial em 2019 em São Paulo.

Parada Gay pioneira
Os envolvidos trabalham a todo o vapor para garantir o retorno com a 27ª Parada do Orgulho de Copacabana, confirmada para o dia 25 de Setembro. A expectativa é grande após a interrupção por conta do isolamento.
“Estamos em processo de produção. Depois de 03 anos, após grave crise de COVID 19, com mortes de tantas pessoas, vamos reocupar a Praia de Copacabana, trazendo mensagens de celebração da vida, de esperança de um futuro melhor… Nossa expectativa é a de que retomemos o espaço das ruas para fortalecer a nossa agenda por cidadania e respeito a diversidade” - prega Cláudio Nascimento, um dos organizadores.
A Parada de Copacabana é a mais antiga e a segunda maior do Brasil. Contou com 1,2 milhões de pessoas na última edição presencial, em 2019, mesmo sofrendo com a falta de apoio de parte do poder público. André Loyola evita as comparações, ressaltando as distinções entre os eventos carioca e o paulista.
“A parada do Rio é diferente da SP ... Ela é mais um grande ato politico, e não visa tanto o lucro para a cidade. Nem por isso nem posso dizer se está certo ou errado.”.
A primeira Parada de Copacabana foi realizada em 1995 pelo Grupo Arco Iris, organizador até hoje do evento. Participantes da 17ª Conferência da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, a ILGA, realizaram uma marcha pela Princesinha do Mar no encerramento do evento. Na ocasião foram aplaudidos e apoiados pelos moradores e visitantes que passavam pela orla de Copacabana sendo chamados de simpatizantes, que formavam o S da sigla que começou como GLS e foi ganhando novas letras e representatividade com o tempo.
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