A garantia de permanência no cargo é justamente um dos maiores atrativos que leva profissionais a prestarem concursos e ocuparem funções públicas. Porém, o Executivo federal e setores do Congresso apontam que esse direito é, muitas vezes, um entrave para melhorar a prestação do serviço público à população.
Nessa linha, técnicos da Economia já estudam medidas que foram apresentadas e que tratam da questão da estabilidade. Entre elas, uma minuta de projeto de lei elaborada pelo economista e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já demonstrou apoio à reforma administrativa, e citou o texto de Fraga logo após a aprovação em primeiro turno da Reforma da Previdência na Casa.
Há ainda um texto tramitando no Senado — PLS 116/2017, da senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE) — que regulamenta a demissão de servidor estável. O projeto já foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado, e liberado para votação no plenário.
Para Rudinei Marques, presidente do Fórum Nacional das Carreiras Típicas de Estado — entidade que representa mais de 200 mil servidores da União —, mudanças são "bem-vindas". Entretanto, ele pede conversas entre governo e categorias para que avancem em melhorias no serviço público.
"Os servidores não são contra o aprimoramento da máquina pública e à melhoria do desempenho e produtividade. Isso é ponto pacífico", disse. Marques acrescentou, porém, que isso não deve ser feito unilateralmente. "Gostaríamos de poder discutir com o governo os caminhos que promovam essas melhorias. Não há diálogo, e temos insistido com eles para participarmos do debate".
Sobre o projeto que trata de demissão, Marques faz observações sobre os riscos de se dar poder a um gestor que, muitas vezes, está no cargo por indicação política. Por isso, ele defende que haja garantias para servidores, sobretudo aos que estão em áreas de controle e fiscalização de ações de ministros e gestores indicados, e do poder público em geral. Há receio de retaliações a esses profissionais.
Compromisso é com o Estado
"Os servidores têm mais compromisso com o Estado e não com o governo. É nosso dever preservar a Constituição e as leis, independente do governante do momento. Por isso, não se deve entregar para um chefe que eventualmente poderá ser fiscalizado o poder de demitir", disse Marques.
"Regras de avaliação de desempenho precisam de proteção adicional a carreiras de estado que desempenham atribuições de fiscalização, regulação, controle, investigação, tributação etc. Não podem demitir esses profissionais sem um processo administrativo que veja se não houve perseguição política. A garantia às carreiras é prevista no Artigo 247 da Constituição", complementou.
Condsef: produção é em fábrica
Secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva fez críticas aos projetos do Executivo.
"Nossa visão do serviço público é diferente que a do governo, que enxerga o setor como se fosse uma fábrica e uma indústria que tem que produzir e produzir...", declarou. "Serviço público tem que se prezar pela qualidade e eficiência. A produtividade é para ser exigida em fábrica, onde se pensa em ter produção para gerar lucro. Imagine esse pensamento em um hospital?", reclamou ele, dizendo que reestruturação administrativa é para "melhorar" e não "piorar" o setor público.
Reforma tem 4 itens centrais
A proposta elaborada por Armínio Fraga em conjunto com a também economista Ana Carla Abrão e o jurista Ari Sundfeld tem quatro itens centrais.
O primeiro deles prevê a obrigatoriedade da avaliação de desempenho de cada funcionário público. Isso terá que ser discutido em uma outra legislação ou de alguma outra maneira.
O segundo ponto barra as promoções automáticas. A ideia é que se acabe com o fator tempo, para que as progressões na carreira sejam em função do mérito e não de forma automática.
O terceiro abre possibilidade de demissão, e cria o afastamento em decorrência de eventual mau desempenho.
Já o quarto e último item é para a consolidação dos planos de carreiras, cargos e salários das categorias. Na prática, seria reformular os PCCS, para que seja feita uma unificação.