Há 25 dias, Camila Alves busca resposta para sumiço do filho Wesley - Arquivo Pessoal
Há 25 dias, Camila Alves busca resposta para sumiço do filho WesleyArquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
 Há 25 dias, em meio à dor e desespero, parentes e amigos da família Alves se perguntam: onde está Wesley? Semelhante às outras centenas de casos misteriosos, em todo o país, o sumiço de Wesley Pires Alves Filho, de 13 anos, intriga a polícia e está mobilizando a cidade de Franca, no interior de São Paulo. O adolescente desapareceu, na tarde do último dia 28 de agosto, após sair de casa, no bairro Jardim Aeroporto I, para ir a um comércio, a poucos metros da residência. Ele vestia blusa de moletom, com personagens de desenhos animados estampados, calça de moletom preta e máscara de cor branca.
De acordo com a família, Wesley nunca saiu de casa sem avisar e não teria motivos para fugir. Era estudioso, dócil, sem envolvimento com drogas e não apresentava quadro de transtornos psicológicos. Câmeras de segurança gravaram imagens do percurso de Wesley até o desaparecimento. O adolescente foi visto, caminhando tranquilamente, em bairros vizinhos. Teria entrado numa região de mata, no bairro Vila Real, e, por último, foi visto com uma bicicleta, às margens da Rodovia Ronan Rocha, na pista em direção à cidade Patrocínio Paulista.
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Policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), em Franca, realizaram diversas diligências e buscas, com apoio do Corpo de Bombeiros, ao paradeiro de Wesley. Imagens de câmeras de diversos pontos da cidade estão sendo analisadas. Familiares e amigos de adolescente já prestaram depoimentos. Com autorização da justiça, foram quebrados os sigilos de aparelhos de telefones celulares, usados por Wesley, mas, segundo a família, nada relevante foi encontrado. Os agentes investigam informações, de testemunhas, sobre a possibilidade de Wesley ter pego carona em uma van para Ribeirão Preto e de o desaparecimento ter ligação com o suposto furto da bicicleta.

Buscas – Além da polícia, cerca de 50 colaboradores voluntários criaram um grupo de buscas, em Franca, para encontrar o paradeiro de Wesley. Segundo familiares, a equipe já resgatou imagens de câmeras de empresas e residências, usaram cães farejadores e usaram um drone (veículo aéreo não tripulado) para auxiliar na localização. O drama da família Alves e a mobilização, em toda cidade, chamaram a atenção de autoridades, defensores dos direitos humanos e da mídia. O sumiço do menino ganhou repercussão nacional. Em 2019, foram registrados 24.710 desaparecimentos no Estado de São Paulo, conforme dados da Secretaria de Segurança (SP).

‘Nossa vida acabou! Queremos nosso filho de volta’
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“Diferente de informações falsas, publicadas nas redes sociais, meu filho não tinha problemas em casa, envolvimento com drogas e nunca demostrou passar por problemas psicológicos. Sequer tinha amigos na rua. Seus contatos se restringiam aos colegas da escola. Como a maioria dos adolescentes, gostava de interagir, brincar na Internet e de participar de jogos no celular”, disse a mãe de Wesley, a operadora de caixa, Camila Pedroso de Oliveira Alves, de 32 anos, que tem outras duas filhas, de 15 e 10 anos.
Desconsolado, o pai do menino, o repositor de supermercado Wesley Pires Alves, de 38 anos, participou de todas as buscas. “Já reviramos tudo. Entramos em matas, seguimos por margens de estradas, rastreamos várias cidades e nada. É muito triste”, lamentou. “Nossa vida acabou. Não durmo, nem me alimento adequadamente, há 25 dias. Estou triste e desesperada. Queremos o nosso filho de volta. Às vezes, imagino que um sonho vai indicar a localização dele. Por favor, se alguém tiver informações, entre em contato conosco”, desabafou Camila.


Informações desencontradas, investigações falhas e drama das famílias jogam luz ao descaso em relação aos desaparecimentos no Brasil
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O Brasil registra, aproximadamente, 82 mil desaparecimentos por ano, uma média de 200 por dia e 8 sumiços a cada hora, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Apesar da relevância dos números, o tema requer debate amplo e, de acordo com militantes e especialistas, necessita entrar na pauta das políticas públicas em todas as instâncias governamentais, no país.
Fundadora do Movimento Mães da Sé, instituição paulista que agrega mães de desaparecidos em todo o país, Ivanise Esperidião admite avanços pontuais em relação ao tema, contudo, considera incipientes às políticas públicas. Esperidião denuncia os descasos das autoridades e as dificuldades das famílias, sobretudo, as de baixa renda.
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“Os avanços ocorreram nos grandes Centros, mas ainda são incipientes e não dão conta da gravidade e importância do tema. As famílias mais humildes continuam sendo vítimas da desinformação e, na maioria dos casos, tratadas com descasos nas delegacias. Apesar das leis vigentes, sequer conseguimos implementar o cadastro unificado em todo o país. Ainda sofremos com investigações falhas e a morosidade da justiça. Enquanto as autoridades olharem os casos com indiferença, teremos muitas mães e pais chorando pelos desaparecimentos dos seus filhos, sem uma resposta”, lamenta Ivanise.

Na década de 70, caso do menino ‘Carlinhos’ se tornou emblemático
O desaparecimento do menino Carlos Ramires da Costa, o Carlinhos, em 2 de agosto de 1973, se tornou emblemático. Então com 10 anos, Carlinhos, teria sido sequestrado, dentro de casa, no bairro Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Rodeado de informações desencontradas, o sumiço de Carlinhos ganhou repercussão nacional e virou ícone das causas de desaparecimentos no Brasil. Há 47 anos, a família ainda procura pelo paradeiro de Carlinhos. Nesse período, dezenas de pessoas já se apresentaram como sendo o menino, mas exames de identificações descartaram as possibilidades.