Mãe segura o cartaz com a fotografia de Wesley, desaparecido há 2 meses - Arquivo Pessoal
Mãe segura o cartaz com a fotografia de Wesley, desaparecido há 2 mesesArquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
Após dois meses de buscas e investigações, o sumiço do menino paulista, Wesley Pires Alves Filho, de 13 anos, em Franca, no interior do Estado de São Paulo, ganhou repercussão nacional, mas continua sem solução. Afinal, onde está Wesley? A pergunta que ecoa emblemática na cidade ainda não tem respostas e só faz aumentar, a cada dia, a dor de familiares e amigos. O adolescente desapareceu, no dia 28 de agosto, após sair de casa, no bairro Jardim Aeroporto I, para ir a um comércio, a poucos metros da residência. Ele vestia blusa de moletom, com personagens de desenhos animados estampados, calça de moletom preta e máscara de cor branca.
Câmeras de segurança gravaram imagens do percurso de Wesley até o desaparecimento. O adolescente foi visto, caminhando tranquilamente, em bairros vizinhos, e, por último, foi visto com uma bicicleta, às margens da Rodovia Ronan Rocha, na pista em direção à cidade Patrocínio Paulista. Com autorização da justiça, foram quebrados os sigilos de aparelhos de telefones celulares, usados por Wesley, mas, segundo a família, nada relevante foi encontrado. A polícia investiga informações, de testemunhas, sobre a possibilidade de Wesley ter embarcado em uma van para Ribeirão Preto. A hipótese de o desaparecimento ter ligação com um suposto furto de bicicleta foi descartada pelos investigadores da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), em Franca.
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Abalados, familiares reiteraram as boas credenciais de Wesley e refutaram a possibilidade de fuga. “São 60 dias de luta, à procura do meu filho. Ele nunca saiu de casa sem avisar e não teria motivos para fugir. Era estudioso, dócil, sem envolvimento com drogas e não apresentava quadro de transtornos psicológicos. Abdicamos de nossos empregos para nos dedicarmos exclusivamente às buscas. Saímos de casa com esperança e dormimos com um sentimento de frustração. A maioria das informações é checada. Semana passada, nos telefonaram informando ter visto um menino, muito semelhante ao Wesley, em uma cidade a cerca de 500 quilômetros de distância. Estamos abalados, mas não podemos desistir”, disse, emocionado, o pai do adolescente, Wesley Pires Alves, de 38 anos, que chegou a reunir, no início das buscas, um grupo de 50 voluntários, com auxílio de cães farejadores e um drone.
‘Não consigo mais viver. Preciso saber o que aconteceu’
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Em um apelo dramático postado, semana passada, nas redes sociais, a mãe de Wesley, a operadora de caixa, Camila Pedroso de Oliveira Alves, de 32 anos, pediu ajuda em meio à dor pela ausência do filho. “Não consigo mais viver. Preciso saber o que aconteceu. Se alguém souber de alguma notícia sobre o meu filho, por favor, faça contato”, disse a mãe do menino, que tem outras duas filhas, de 15 e 10 anos.


Ativistas reivindicam apoio das autoridades e reiteram indiferença em relação aos desaparecimentos
A despeito da repercussão nacional e ampla mobilização, o caso do menino Wesley continua sem solução e, segundo ativistas, reitera a indiferença das autoridades em relação aos desaparecimentos. “Mesmo com toda a repercussão, a própria família do Wesley, com recursos próprios, em meio à dor da ausência, precisa reunir forças para fazer as buscas e tocar as investigações. É mais um caso emblemático, que representa a luta de todas as famílias de desaparecidos, no Brasil. Por não ser considerado crime, os desaparecimentos continuam sendo vistos com indiferença pelas nossas autoridades. Lutamos, há muitos anos, para mudarmos essa realidade e ainda movemos muito pouco, diante da gravidade do problema”, ressalta Ivanise Esperidião, fundadora do Movimento Mães da Sé, instituição paulista que agrega mães de desaparecidos em todo o país. Em 2019, foram registrados 24.710 desaparecimentos no Estado de São Paulo, conforme dados da Secretaria de Segurança (SP).

Na década de 70, caso do menino ‘Carlinhos’ se tornou emblemático
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O desaparecimento do menino Carlos Ramires da Costa, o Carlinhos, em 2 de agosto de 1973, se tornou emblemático. Então com 10 anos, Carlinhos teria sido sequestrado, dentro de casa, no bairro Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Rodeado de informações desencontradas, o sumiço de Carlinhos ganhou repercussão nacional e virou ícone das causas de desaparecimentos no Brasil. Há 47 anos, a família ainda procura pelo paradeiro de Carlinhos. Nesse período, dezenas de pessoas já se apresentaram como sendo o menino, mas exames de identificações descartaram as possibilidades.