Após seis de meses de angústia, a aposentada Isaura Cardoso de Almeida, de 62 anos, conseguiu rever o neto Cauã de Oliveira, 16, que morou de favor e fez biscates para sobreviver Arquivo Pessoal

Familiares reencontraram, ontem, o adolescente Cauã Wendel Silva de Oliveira, de 16 anos, que desapareceu, há quase 6 meses, após sair de casa, no bairro Rocha, em São Gonçalo, para seguir a carreira de DJ, conforme matéria publicada com exclusividade no DIA Online, na última quinta-feira.
Assim como a letra de um rap, o roteiro do sumiço de Cauã teve angústia, drama, mas terminou com final feliz. A história do estudante gonçalense, no entanto, ilustra a realidade de milhares de jovens oriundos das periferias do país, que saem em busca dos sonhos, passam por dificuldades, vivem nas ruas ou moram de favor e, em alguns casos, nunca mais são encontrados ou se tornam vítimas de algum tipo de violência.  
Apesar de manter o sonho de ser DJ, Cauã contou que o tempo que passou longe da família, morou de favor nos fundos da casa de um casal, na região central do Rio de Janeiro, e teve que fazer biscates para sobreviver. Ele se surpreendeu ao ver sua fotografia em diversas mídias. Disse não ter sofrido violência e que a experiência o tornou mais forte, como se tivesse saído de uma “selva”.
“Foi uma experiência de vida. Sei que poderia ser de outra forma, pois minha família sofreu. Quando vi minha fotografia em jornais, televisão e que a polícia estava me procurando, fiquei assustado. Mas retorno diferente, por vontade própria, e pronto para retomar meus sonhos”, disse Cauã, que aproveitou a ‘fama momentânea’, para pedir uma oportunidade em algum estúdio. “Se algum DJ me chamar, ficaria feliz”, acrescenta.
‘Nunca perdi a esperança de rever o meu neto’
Emocionada, a aposentada Isaura Cardoso de Almeida, de 62 anos, disse que ao rever o neto, caiu em lágrimas, e lembrou o drama da família, que nunca perdeu a esperança de reencontrar Cauã. Após agradecer a todos que ajudaram nas buscas, a aposentada também ressaltou a abnegação e força dos vizinhos e parentes, e relembrou a maldade das pessoas que sempre diziam que o neto nunca mais seria encontrado.
“Estou tão feliz, que não me aguento! Foram seis meses de angústia. Quando vi o Cauã, chorei e quase caí. Nunca perdi a esperança de rever o meu neto. Serve como exemplo. Nunca podemos perder a esperança. Ter um filho desaparecido é uma dor grande. Graças a Deus vou passar o Natal com ele. Foram dias de muito sofrimento. Agradeço a todos que ajudaram. Já àqueles que falaram besteiras, fica a lição. Disseram que eu mentia, me desacreditaram, mas, o final foi feliz. Agora, é seguir em frente. Obrigado!”, comemorou a aposentada.
Caso será encaminhado ao Conselho Tutelar
De acordo com policiais do Setor de Descobertas de Paradeiros da Delegacia de Homicídios em Niterói, após dar baixa no registro de desaparecimento do adolescente, o caso será encaminhado ao Conselho Tutelar, que dará sequência a apuração sobre as circunstâncias do sumiço e apoio psicossocial à família. Cauã continua matriculado no Instituto de Educação Clélia Nanci, em São Gonçalo. A escola fez o trabalho de acolhimento à família e ajudou nas buscas.