Tia Surica vai juntar os amigos da vila onde mora para comemorar o carnaval entre elesEstefan Radovicz

Rio - Com a chegada de fevereiro, a ansiedade para o Carnaval toma conta dos apaixonados pela folia, principalmente para grandes nomes do samba que sempre estrelam os desfiles das principais agremiações do Rio de Janeiro. Neste ano, ainda com uma festa diferente do normal, os desfiles acabaram sendo adiados, assim como os blocos de rua, mas o feriado carnavalesco segue de pé no calendário dos cariocas.

Como bons amantes do Carnaval e tudo o que representa, os grandes sambistas Tia Surica, de 81 anos, Noca da Portela, de 89 anos, Iba Nunes, de 87 anos, e Aluísio Machado, de 82 anos, deixam claro que o adiamento não vai deixar de fazer com que aproveitem a folia à sua maneira e contam como pretendem curtir o feriado diferenciado, que já começa nesta sexta-feira (25) e segue até a próxima terça-feira (01).
Confira:

Tia Surica, matriarca da Portela, eterna pastora da Velha Guarda da escola e dona de uma das mais famosas feijoadas do Rio, lamenta pela falta dos desfiles que tanto ama, mas garante que não vai deixar que o feriado passe em branco, já que considera o Carnaval e sua escola de coração como partes muito importantes da sua vida.

"Nós vamos reunir quem mora aqui na vila onde eu moro, vamos fazer uma comida e curtir com uma cervejinha, enquanto estamos aguardando a chegada de abril. Nós vamos ouvir muitos samba, claro que vamos relembrar os carnavais. Eu fico muito triste que o carnaval tenha sido adiado, porque tivemos que esperar mais de um ano naquela expectativa e agora não vai ter. Quer dizer, vai ter, mas não na data certa que nós estávamos esperando, é uma tristeza, né, mas tudo que Deus faz está bom [(risos)", conta.

Seu Noca da Portela, baluarte da escola, compositor com mais sambas na azul e branca de Madureira e figurinha certa em todos os desfiles ainda está apreensivo quanto a sua participação nas festividades em abril, mas já afirmou que durante esses dias, pretende se divertir com o que faz de melhor: compondo mais sambas.

"Eu vou sentir uma falta imensa (dos desfiles), porque eu desfilo há 60 anos. Não vai ter desfile nesse carnaval, vai para abril. Eu pretendo ficar na minha casa, a minha idade, 89 anos, é meia perigosa com essa pandemia. Apesar deu estar imunizado, estou botando minha barba de molho. Meu passatempo, automaticamente, é seguir compondo. Já fiz 18 obras e pretendo fazer mais esses dias. Mas eu tenho certeza absoluta de que não vou botar a cara na rua, isso eu posso garantir", afirma.

Nomeando o tempo recluso de “prisão sem grade”, o sambista ainda completa dizendo que gostaria de fazer coisas que sente falta no feriado, mas entende que o certo a se fazer no momento ainda é permanecer em casa.

"Eu estou há dois anos numa prisão sem grade, em que sinto uma falta imensa da liberdade, de abraçar os amigos, de bater papo, de tomar um rabo de macaco (risos), sinto falta disso tudo. Mas, como é para o bem de todos, eu me comporto dignamente. E o meu Carnaval vai ser isso. Talvez, eu vá para uma casa na Região dos lagos, talvez", garante seu Noca.
Alguns outros já parecem ter começado a aproveitar a diferente festa, como Aluísio Machado, baluarte da Império Serrano e compositor do samba campeão da escola de samba de 1982 “Bum Bum Paticumbum Prugurundum”, com a comemoração dos 40 anos do enredo.

"Eu vou comemorar o Carnaval dentro de casa, em ‘prisão domiciliar’, porque realmente não vai ter carnaval nas ruas e na Sapucaí. Aliás, eu já comemorei com os 40 anos do enredo ‘Bum Bum Paticumbum Prugurundum’. Pretendo ouvir uns sambinhas aqui durante esses dias, ou até mesmo ir na Cidade do Samba ver os mini-desfiles que vão ter, mas fora isso não me arrisco a sair, não", conta o compositor.

Nesta semana, a escola promoveu o lançamento de um documentário especial contando toda a trajetória do desfile, desde a escolha até a avenida, e toda a superação que enfrentaram durante aquele ano, após ficarem em último lugar um ano antes. Para Aluísio, o adiamento dos desfiles foi importante devido ao momento, mas espera que as coisas estejam melhores para desfilar em abril.

"Eu acho que foi uma medida certa, acho que a gente tem que respeitar o que está acontecendo na natureza, é coisa séria. É importante que tenham mudado essa data e que até lá as coisas melhorem né? Até porque eu vou desfilar no Salgueiro como convidado e Império Serrano, que é minha escola", completa.

Iba Nunes, compositor e fundador da Escola de Samba Unidos do Cabuçu, também pretende passar a data comemorativa em casa, com a família e com amigos, curtindo seu aniversário de 88 anos.

"O Carnaval desse ano eu vou passar em casa com a minha família. Eu faço aniversário na terça-feira de Carnaval, completo 88. Eu, com meus amigos, a gente gosta de tomar uma cervejinha, conversar com alguns amigos, mas bem mais novos, porque agora não tenho mais amigo velho (risos). às vezes também gosto de ficar ouvindo sambas antigos", expõe.

Iba ainda conta que é totalmente contra adiamento dos desfiles, mas também está ansioso para o mês de abril para poder ir em pelo menos um dia de desfiles na Sapucaí ver as escolas de samba passarem.

"Eu vou ser franco, eu achei errado o adiamento dos desfiles, porque é o seguinte, o Carnaval vai perder a graça, porque o desfile das escolas de samba são feitos no Carnaval e não vai ter. Mas esse ano eu estou com vontade de dar uma chegada lá, eu acho que vai ser um Carnaval diferente também", confessa o sambista.