Rio - O fim de semana promete muitas emoções no Sambódromo. No sábado (26), é a vez das escolas da Série Ouro: Acadêmicos de Santa Cruz, Inocentes de Belford Roxo e Acadêmicos do Sossego. O dia se encerra com uma bonita homenagem ao ator Milton Gonçalves. Já no domingo (27), o Grupo Especial será representado por Unidos da Tijuca, Beija-Flor e Salgueiro, trazendo o empoderamento de indígenas e negros.
A Unidos da Tijuca entra às 20h e conta a lenda do guaraná no enredo "Waranã, a Resistência Vermelha", apresentando a disputa entre o bem e o mal na cultura Mawé. É o conflito entre Tupana, responsável pelas forças do bem, e Yurupari, a energia do mal. Sendo assim, a escola traz a ação que promete envolver o público no Sambódromo. O mestre de bateria Casagrande já está envolvido na escola há mais de 40 anos. Mesmo com tanta experiência, ainda é difícil não se emocionar com a volta ao palco sagrado.
"Estamos bastante ansiosos, até emocionados... depois de dois anos sem pisar no nosso palco principal, a escola está com uma ansiedade muito grande. Preparada para fazer um espetáculo. Foram dois anos de incertezas. Além de poder celebrar a vida, a gente vai poder celebrar o que a gente mais gosta: o nosso Carnaval, o desfile das escolas de samba, estar com o povo da nossa escola, da nossa família. O nosso desejo é que a escola esteja bem animada. Acho que a comunidade vai chegar junto no domingo. Podem esperar grandes surpresas da bateria da Unidos da Tijuca, porque a gente vai fazer a Sapucaí tremer", celebra.
Em busca do décimo quinto título, a Beija-Flor pretende valorizar o lugar de fala do negro na sociedade. Iniciando às 21h15, "Empretecer o Pensamento É Ouvir a Voz da Beija-Flor" é uma homenagem a essa contribuição intelectual para a construção do Brasil. Para abrilhantar ainda mais a Avenida, a porta-bandeira Selminha Sorriso vai para seu 26º desfile. Mas ela relata que a sensação é de primeiro vez.
"É um ensaio lindo que o povão vai para gritar pelas suas escolas e pelas demais coirmãs. Nós, sambistas, nos preparamos para um grande dia de gala, como se fosse um desfile valendo. Só não é contado nota. Tudo é testado nesse dia. Canto, as baterias, casais, harmonia, o tempo, comissão de frente... É um evento que é muito bem-vindo de volta, alegria de passar pela Marquês de Sapucaí, se preparando e se testando para o grande dia. Estou muito feliz, parece que sou uma debutante! (Risos) Quando as escolas começaram, eu só vibrei. Primeiro, tenho que passar pela Beija-flor. Depois, eu assisto as outras nas semanas seguintes. Estou muito feliz, muito agradecida", contou Selminha.
Parar encerrar a noite, entrando às 22h30, o Salgueiro prepara um espetáculo dentro e fora da passarela, se inspirando em sua própria história para também falar de resistência e valorização da cultura negra no enredo "Resistência". Segundo as informações coletadas pelo DIA, uma surpresa conjunta entre a bateria e a torcida na arquibancada deve impressionar os presentes. O mestre Gustavo Oliveira não deu dicas do que será apresentado, mas confirma que vai valer a pena assistir essa festa que tem um sentimento diferentes com relação aos anos anteriores.
"A emoção é diferente, por que são dois anos lutando contra essa pandemia, resistindo o nosso Carnaval, que não conseguimos fazer na data correta. Graças a Deus, vai ter o desfile em abril e podemos ensaiar agora. É uma emoção muito grande ter visto vários amigos, mestres de bateria também, que tem chorado e se emocionado ao subir a bateria ali no primeiro box, no Setor 1. A gente está muito feliz e ansioso. Vai dar tudo certo! De surpresa, tem um 'negocinho' para vir aí... A galera vai ver no domingo. Estamos procurando enfatizar a questão da resistência na bateria, por conta da fantasia no nosso setor. Vamos apresentar algumas coisas..."
Emoção vai tomar conta
Na história do ator Milton Gonçalves tem muito samba. Sendo assim, uma homenagem na Sapucaí é mais do que justa. Por isso, a Acadêmicos de Santa Cruz fecha o sábado (26) de ensaios contando a vida do artista que tantas vezes esteve presente sambando nas passarelas. Apesar da ausência de Milton, sua filha, Alda Gonçalves, comparecerá tentando conter toda a emoção que deve tomar conta do Sambódromo.
"Estamos muito nervosos, por vários motivos. Meu pai está se recuperando do AVC, não vai desfilar. Tomamos essa decisão de não levá-lo porque é muita emoção. Ele ainda está em recuperação, a gente fica com medo de que ele passe mal. A gente ama samba, meu pai é muito sambista. Ele sai em todas as escolas, é super carnavalesco. A gente tem medo de que vire meio 'Dona Zica', de passar mal. Eu sou 'Dona Zica' da família, passo super mal. Então, estamos poupando emoção ao máximo porque sabemos que no dia 21 vai ser uma explosão incontrolável. Estar com todos os amigos dele, com a família, vem parente de São Paulo, filhos do irmão dele que não vemos há muito tempo. Vai ser bem emocionante", diz.
Alda também conta que o enredo "Axé Milton Gonçalves! No Catuapé da Santa Cruz" é um momento muito aguardado pelo ator homenageado. Ela garante que a excelência de Milton não fica guardada nas telinhas, mas também é marcante em sua vida pessoal.
"Tem um aspecto muito bacana, que meu pai nunca revelou muito publicamente. Ele sempre quis ser homenageado por uma escola. Ele é um cara popular e sempre tomou muito cuidado para que essa loucura da vida artística não tomasse conta da nossa vida. É uma profissão bacana, reluzente, mas ele nunca deixou que esse aspecto invadisse nossa vida particular. Todo mundo conhece o Milton artista, mas talvez não tenham tanto conhecimento do Milton pai de família, marido... Contar a história dele é abrir esse álbum de fotografias da família. Nesse sentido, a gente fica deslumbrado. Ele tem sido bom em tudo que se propôs a fazer na vida. Excelente marido, pai, amigo, filho, irmão, artista... É uma honra fazer parte dessa história. Os valores que ele ensinou para gente estão gritando. Representando ele, triplica essa emoção ao máximo", afirma.
Antes disso, a Inocentes de Belford Roxo inicia o fim de semana dos ensaios às 19h. O jovem carnavalesco Lucas Milato apresenta "A Meia-Noite dos Tambores Silenciosos" com objetivo de retratar o povo preto de uma maneira não convencional. O trabalho é fruto de muito estudo na ancestralidade presente na noite dos tambores silenciosos. Dessa maneira, o presidente Reginaldo Gomes espera um bonito show para ser campeão.
"A expectativa é muito grande com relação a essa pisada na Sapucaí, depois de dois anos, desde 2020. Os ensaios, nós estamos fazendo porque houve a liberação por parte das autoridades aqui em Belfrod Roxo. Estão com muita força, com muito canto. O que a gente espera é que essa força, que vem aumentando a cada ensaio aqui em Belford Roxo, tenha um grande momento amanhã na Marquês de Sapucaí. Somos a primeira escola no sábado e a gente vem pisando forte na Avenida para construir esse caminho rumo ao título do Grupo de Acesso."
O Sossego também fica só no nome, porque a escola promete fazer a Sapucaí pegar fogo. Não por acaso, o tema "Visões Xamânicas" foi anunciado no Dia do Índio, 19 de abril, em 2021. Ele traz uma saga imaginada entre presente e futuro, inspirada nos relatos de David Kopenawa, Xamã e líder do povo indígena Yanomami. O presidente Hugo Júnior conta com a força de sua comunidade para fazer a Avenida ferver.
"É um retorno triunfal. Todas as coirmãs estão fazendo grandes ensaios técnicos. Amanhã, é o ensaio do Sossego, segunda escola a ensaiar. Estamos indo com força total, mostrar a força do Largo da Batalha. Mostrar a grandiosidade que o Sossego tem em sua história. Estamos indo com todos os componentes, todos os segmentos, com surpresa... Acho que a grata surpresa vai ser o canto da comunidade, o trabalho feito pela Harmonia, pela direção de Carnaval vai ser demonstrado. O nosso intérprete, Nino do Milênio, que vai levar esse grande samba junto a toda comunidade. As expectativas são as melhores, faremos um grande show, pintando a Sapucaí de azul e branco."
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