Rio - Baseado em um conto da etnia Sateré-Mawé, a Unidos da Tijuca traz a lenda sobre o surgimento do guaraná. No enredo "Waraná - A Reexistência Vermelha", a agremiação conta histórias de ciclos da vida com os personagens Anhyá e Cahuê, que marcam o nascimento do fruto para o povo originário. Neste ano, o carnavalesco Jack Vasconcelos assume o comando da Unidos da Tijuca.
"Pesquisamos alguns contos, livros, e tivemos o cuidado de eleger autores indígenas para ajudar nessa pesquisa. Basicamente, nós montamos o enredo com as narrativas dos próprios indígenas e de como escreveram sobre suas lendas. Foi uma pesquisa muito bacana", lembrou o carnavalesco, em entrevista a O DIA.
Para os Sateré-Mawé, o fruto nasceu após a guardiã Anhyã chorar a morte do filho Cahuê. A detentora da sabedoria das folhas é ordenada a plantar os olhos do filho e a regá-los com as lágrimas dela. Assim, o guaraná nasce como os olhos do pequeno curumim. Ao estudar as histórias do povo indígena, Vasconcelos se surpreendeu ainda mais com a pluralidade cultural brasileira.
"Tem coisas que achamos conhecer. Achamos que ouvimos de tudo, mas ficamos surpresos. Por exemplo, a lenda do Guaraná fala sobre a questão de ciclos e de equilíbrio, de força. Tem amor, que faz parte da linguagem universal. Qualquer povo de qualquer parte do mundo entenderia. É muito bonito descobrir isso", pontuou.
Para a elaboração do desfile, o carnavalesco contou com a ajuda de uma equipe da cidade de Parintins, no Amazonas. O município do interior amazonense recebe todo ano o Festival Folclórico de Parintins, reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
"Recebemos uma equipe de Parintins, que está trabalhando conosco desde meados do ano passado. Esse é um Carnaval grandioso, do tamanho da tradição da Tijuca. Ele tem uma pegada de desfile como se fazia antigamente, com os carros bem decorados. É um Carnaval muito feito a mão, super adereçado e muito colorido. Tem muito volume, as fantasias, os carros, é um 'Carnavalzão'", brincou.
Depois de dois anos convivendo com o novo coronavírus, Jack Vasconcelos não vê a hora de pisar na Marquês de Sapucaí com sua escola de samba. Para ele, foi um desafio não saber quando a competição pelo título do Grupo Especial aconteceria. "O que dificultou mais o processo foi a incerteza. Ficamos um bom tempo preparando o desfile. Não sabíamos se ia ter desfile ou não e, depois, para o outro ano. Mesmo no segundo ano, não tínhamos certeza se teria ou não. Trabalhar com essa incerteza desestabiliza um pouco. Foi barra pesada", recordou.
O enredo "Waraná - A Reexistência Vermelha" foi escrito por Anderson Benson, Eduardo Medrado e Kleber Rodrigues. Na Marquês de Sapucaí, o canto da Unidos da Tijuca será interpretado por Wantuir e Wic Tavares.
Em 2020, a agremiação do Morro do Borel desfilou com o samba-enredo "Onde moram os sonhos", assinado pelo carnavalesco Paulo Barros e escrito por Dudu Nobre, Totonho, André Diniz, Fadico e Jorge Aragão. No último Carnaval disputado na Sapucaí, a Unidos da Tijuca ficou em nono lugar.
Confira o samba-enredo:
Confira a letra:
Alto céu De Tupana e Yurupari Duas forças que vão fluir A energia de Monã Que equilibra o bem e o mal Um lugar onde as pedras podiam falar Onde irmãos desfrutavam A beleza singular Anhyã, bela e habilidosa Mas a cobra ardilosa usa a flor pra lhe tocar
E nasce Kahu’ê o curumim De olhos alegres… sempre assim Presença tão breve A ingenuidade sucumbe à maldade Renasce kahu’ê o curumim Seus olhos alegres não têm fim Pois o bem é maior, vai reexistir
Vida ligeira, passageira Plantada no solo da pura emoção De pele vermelha, os frutos de uma nação Vida inocente, vira semente E ao som de uma ave a cantar Floresce imponente o povo do guaraná E se a cobiça e o fogo chegarem na aldeia Deixa a força Mawé ressurgir E sorrir quando o sol reluzir Nesse dia eles vão temer E o amor vai vencer
Erê, essa mata é sua… é sua Erê, vem provar doce mel… doce mel Waranã da Tijuca Vem brincar no Borel
Ficha técnica:
Nome: Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca Posição do desfile: décima escola a desfilar Dia e hora: domingo, 1h da manhã Cores: Azul Pavão e Amarelo Ouro Presidente: Fernando Horta Carnavalesco: Jack Vasconcelos Rainha de Bateria: Lexa Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Phelipe Lemos e Denadir Garcia Intérpretes: Wantuir e Wictoria Tavares Composição: Anderson Benson, Eduardo Medrado e Kleber Rodrigues
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