Carnavalesco Edson PereiraDivulgação

Rio - A Vila Isabel vai cantar forte e alto na Marquês de Sapucaí a história e o legado de Martinho da Vila. O cantor nascido em Duas Barras, no interior do Rio, será o grande homenageado neste Carnaval pela escola que o acolheu e lhe deu o nome artístico. Assinado pelo carnavalesco Edson Pereira, a Vila Isabel apresentará ao público o enredo "Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho". 
Batizado como Martinho José Ferreira, o cantor tentou seguir uma carreira mais tradicional ao dedicar alguns anos de vida ao Exército Brasileiro. Mas, aos 32 anos, ele abandonou o posto de sargento para se consagrar naquilo que sabe fazer de melhor — ser artista. E com mais de 50 anos de estrada, é possível dizer que a história de Martinho se confunde com a da própria Vila Isabel. 
"O enredo foi construído em cima da trajetória da vida e da história do Martinho da Vila e também da trajetória da Vila Isabel, já que o Martinho é responsável por colocar a Vila no lugar de fala dela como negritude", contou Edson Pereira, em entrevista ao DIA.
Após tantos anos se doando à escola do coração, um enredo sobre uma das grandes personalidades da agremiação do Morro dos Macacos era mais do que esperado para a comunidade. "Esse ano vamos ver uma Vila Isabel muito mais com cara da própria Vila. A história da Vila vai estar sendo contada numa vertente muito própria, no seu lugar de fala. Falar de Martinho da Vila é falar da própria Vila Isabel também", afirmou o carnavalesco.
Para ele, a aderência do público ao samba de enredo que conta a história do Martinho da Vila é um sinal importante do sucesso que a agremiação vai fazer na Marquês de Sapucaí. "Temos um samba que virou muito popular, que toda a comunidade do samba está cantando, não só a da Vila Isabel. O povo do samba aceitou muito bem o samba e o enredo. Isso favorece muito a Vila Isabel, favorece muito o desfile porque já sabemos que uma escola quando tem um grande samba, um grande enredo, tem um grande desfile e isso é muito importante para almejarmos o nosso sonhado título", pontuou. 
Durante o processo de criação do enredo, Edson Pereira acabou descobrindo alguns fatos curiosos da vida do sambista, que vão ser mostrados ao público durante o cortejo da agremiação. "O que se esperava, era fazer um enredo biográfico. E aí, acabamos entendendo que a vida do Martinho tem um comprometimento além da parte musical, porque ele é um escritor com livros premiados, além de ser um grande poeta", afirmou o carnavalesco, que continuou:
"Martinho é uma pessoa que tem uma simplicidade muito grande. Quando fomos fazer o enredo, a primeira coisa que fizemos foi entrar em contato com ele para que ele desse o mote do que era falar sobre ele, o que o representava nesse enredo. Foi muito mais simples fazer algo que ele se sentisse representado. Dessa forma, nos sentimos muito confortáveis porque o homenageado estava presente e estava completamente de acordo com o que estávamos fazendo. É muito gratificante".
Ao longo dos dois anos da pandemia, membros da tradicional agremiação do Carnaval carioca foram embora vítimas da covid-19. O carnavalesco desabafou sobre a dificuldade em manter a alegria de criar o enredo em meio ao luto e à saudade de figuras consagradas da quadra da Vila Isabel. "Falar de Martinho da Vila para as pessoas da comunidade tinha uma importância muito grande. Quando essas pessoas da comunidade da Vila Isabel se foram, fiquei muito triste. Fazer um trabalho com esse tipo de problema, nessas circunstâncias, nos deixa muito tristes porque, nós, que somos artistas, trabalhamos muito com a emoção e sentimos muito com essas perdas todas", lembrou.
Apesar de toda a dor, da falta, da saudade e do luto, recomeçar no solo sagrado da Marquês de Sapucaí pode homenagear todos aqueles que partiram. "A redenção de voltar a fazer o Carnaval, trazer de volta o Carnaval e fazer esse enredo acabou nos dando combustível para seguir em frente e conseguir construir um grande desfile, que eu acho que vai ficar na história da Vila Isabel", comentou. 
A Vila Isabel será a última escola a desfilar pelo Grupo Especial já no domingo, 24 de abril. O samba-enredo "Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho" foi composto por Evandro Bocão, André Diniz, Dudu Nobre, Professor Waldimir, Marcelo Valença, Leno Dias e Mauro Speranza e será interpretado por Tinga. 
Em 2020, com o enredo "Gigante Pela Própria Natureza - Jaçanã e um Índio Chamado Brasil", comandado por Edson Pereira, a Vila Isabel terminou a disputa em oitavo lugar. O samba foi escrito por Cláudio Russo, Chico Alves e Julio Alves. 
Confira o samba-enredo:
Confira a letra:
Ferreira, chega aí
Abre logo uma gelada, vem curtir
A Avenida engalanada
Nossa gente emocionada vai reluzir
Os sonhos de iaiá
Suas glórias e cirandas, resgatar
Não acaba quarta-feira, a saideira
Nem o meu laiaraia
Raízes da roça para o pretos forros
Tanto talento não guarda segredo
O dono do palco, o Zumbi lá do morro
Pela 28, chinelo de dedo
Se a paz em Angola lhe pede socorro
Filho de Teresa, encara sem medo

Seguiu escola do pai arraia
Reforma agrária e festa no arraiá
Em cada verso, mais uma obra prima
Ousar, mudar e fazer sem rima
(Só você pra fazer sem rima)

Profeta, poeta, mestre dos mestres
África em prece, o griô, a referência
O senhor da sapiência, escritor da consciência
A a cadência de andar, de viver e sambar
Tão bom cantarolar por que o mundo renasceu
Me abraçar com esse povo todo seu
Eu vou junto da família
Do pinduca à alegria pra brindar
Modéstia à parte, o Martinho é da Vila

Partideiro, partideiro ó
Nossa Vila Isabel, brilha mais do que o sol
Canta Negro Rei, deixa a tristeza pra lá
Canta forte minha Vila, a vida vai melhorar
Ficha técnica: 
Nome: Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel
Posição do desfile: décima primeira escola a desfilar
Dia e hora: domingo 3h
Cores: Azul e Branco
Presidente: Fernando Fernandes dos Santos
Presidente de Honra: Martinho da Vila
Carnavalesco: Edson Pereira
Rainha de Bateria: Sabrina Sato
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas
Intérprete: Tinga
Composição: Anderson Benson, Eduardo Medrado e Kleber Rodrigues