Império Serrano se tornou favorita na briga pelo título Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Depois de dez anos longe da avenida, a Lins Imperial abriu a segunda noite dos desfiles com o enredo "Mussum pra sempris - traga o mé que hoje com a Lins vai ter muito samba no pé". A agremiação da Zona Norte do Rio se destacou pela forma como contou a história do humorista Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum; pelas fantasias reluzentes, em especial a da ala das baianas, que representavam Dona Malvina, mãe do comediante; e pelo carro abre-alas "O Morro da Cachoeirinha, onde nasceu Carlinhos".
Segunda da noite, a Inocentes de Belford Roxo teve destaque com as fantasias bastantes coloridas e volumosas, com a comissão de frente e com o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Douglas Valle e Jaçanã Ribeiro. Entretanto, as dificuldades ao longo do desfile, que terminou com 54 minutos, podem prejudicar a colocação da agremiação. Com o enredo "A meia-noite dos tambores silenciosos", a escola levou para a Sapucaí a preservação da tradição afro-brasileira.
Grande destaque do desfile, a comissão de frente "O elo entre os dois mundos" foi coreografada bailarina Juliana Frathane e representou o Ritual do Pátio do Terço, quando os ancestrais são louvados e os mundos se ligam. A apresentação empolgou o público quando uma integrante surgiu de dentro de um elemento cenográfico representando Oya. No tecido branco das fantasias dos componentes, estavam estampadas figuras de ícones pretos importantes na luta contra a opressão.
Com a fantasia "A penumbra da meia-noite", o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira representaram a troca de energia que há entre òrun-àiyé no horário da meia-noite. A dupla fez movimentos em referência a alguns orixás e aos terreiros de religiões de matrizes africanas. A agremiação da Baixada Fluminense sofreu com a evolução logo no início do desfile, com as dificuldades do carro abre-alas para entrar na avenida. A alegoria seguiu com dificuldades e buracos foram abertos na primeira cabine de julgadores, na altura do setor oito até o setor dez, e outro após o segundo recuo da bateria.
Coreografada por Ariadne Lax, a comissão de frente levou vestiário e o clima pré-jogo para o Sambódromo. Com os rostos pintados em vermelho e preto, os componentes apresentaram passos de dança populares nas redes sociais. A troca da roupa colorida pelo "Manto Sagrado" e a camisa do Flamengo sobrevoando a avenida levada por um drone, empolgou quem estava nas arquibancadas. No final da performance, bolas de futebol foram jogadas para o público.
Fantasiados de "Cobra Coral", em referência ao primeiro uniforme da história do Clube de Regatas do Flamengo, o casal de mestre-sala e porta-bandeira encantou pela sincronia e sintonia nos olhares e gestos. Ao fim da apresentação, Feliciano fez o "Vapo", gesto em 'X' com os braços no pescoço, popularizado pelo meia Gerson, ex-jogador do Flamengo. Apesar do ter tido um bom início e finalizado com 54 minutos, a escola teve pontos negativos em algumas fantasias, que não ajudaram na leitura do enredo e ainda na qualidade do último carro alegórico, que destoou dos dois primeiros, devido à simplicidade e o acabamento ruim.
A comissão de frente da Santa Cruz representou a dança do catupé e a coroação dos reis negros. O grupo foi coreografado pela dupla Marcelo Chocolate e Marcelo Moragas e chamou atenção pelo momento em que um casal era erguido nos braços de outros componentes. No fim da apresentação, o casal se ajoelhava para receber uma coroa dos bailarinos, que se abaixavam em reverência à realeza. Com os integrantes de cabeça baixa, a parte superior dos chapéus formava a frase "Preto é rei".
Apostando na criatividade, em um dos trechos das bossas, os ritmistas da bateria reverenciaram o público, enquanto seguravam o ritmo e voltavam. Entretanto, a agremiação teve problemas em evolução, abrindo um buraco no setor seis, em frente a última alegoria, e em harmonia, por não ter conseguido manter a mesma intensidade de canto em todas as alas.
Entre os destaques positivos está a comissão de frente, coreografada por Handerson Big e intitulada de "Histórias Negras Importam". Com os componentes representando os negros trazidos da África para o Brasil, a performance mostrou como o Cais do Valongo foi a porta de entrada para que inúmeras histórias negras fizem parte da sociedade brasileira. A agremiação emocionou a arquibancada quando abriu um saco e revelou o rosto de crianças negras mortas em confronto nas comunidades do Rio. O apresentação foi finalizada com a frase "Vidas negras importam".
A Comissão de Frente da Império da Tijuca, coreografada por Lucas Maciel, foi batizada de "Ancestralidade e raiz", mostrou a raiz negra das escolas de samba e fez uma homenagem à agremiação criada pelo mestre Candeia para dar destaque à história preta. Divida em três danças, sendo elas ritos africanos, cultura afro-brasileira e a tradição do samba atual, a apresentação contou ainda com um tripé representando um trono, como altar para uma rainha africana e a bandeira da agremiação homenageada.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, representarem pilares da Quilombo, como a resistência e a proteção. Renan estava fantasiado como um guerreiro do quilombo dos Palmares, enquanto Laís fazia referência à proteção espiritual, vestida como o orixá Oxum. A dupla mostrou entrosamento nos olhares e gestos e a dança encantou a arquibancada. Com quase todas as alas cantando empolgadas o samba-enredo, a Império passou pela avenida sem problemas, organizada e animada. A bateria não teve dificuldades para entrar e sair dos boxes.
Os elementos acabaram seguindo, o que abriu um grande buraco entre os setores seis e oito. A escola da Zona Oeste ainda sofreu com uma evolução irregular e corrida ao longo do desfile, que só melhorou após a saída da bateria do segundo recuo. A harmonia, comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira, foram destaques positivos.
A comissão de frente de Patrick Carvalho, batizada de "Besouro e Império da patente de Ogum" representou a crença de que Manuel Henrique Pereira, o Besouro Mangangá, era um homem que lutava com a força protetiva de seu orixá. A apresentação trouxe um bailarino representando o "Besouro Mangangá" e outros representando as entidades do orixá. A coreografia teve bastante sincronia entre os orixás e o capoeirista. A performance ainda contou com a transformação do componente por um drone, representando o besouro, que voava pela avenida, empolgando a arquibancada.
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