‘Madame Satã: Resistir para Existir’ é o tema do enredo da escola de samba Lins Imperial para o Carnaval 2023Ilustração de Edu Gonçalves, Ney Júnior e Igor Damásio

Rio – A Sociedade Recreativa Escola de Samba Lins Imperial divulgou que levará para a Sapucaí, em 2023, a história de João Francisco dos Santos, também conhecido como Madame Satã, personagem emblemático do Rio de Janeiro no século XX.
O enredo da agremiação de Lins de Vasconcelos, na Zona Norte, é uma releitura de seu tema de 1990, mas com proposta contemporânea e em forma de manifesto sobre a primeira transformista do Brasil, símbolo de resistência.
A composição inédita será encomendada e divulgada em breve, assim como a sinopse do enredo. Com 'Madame Satã: resistir para existir', que será desenvolvida pelos carnavalescos Edu Gonçalves e Ray Menezes, a Lins Imperial será a 2ª escola a desfilar na sexta-feira de Carnaval, dia 17 de fevereiro de 2023.
A escolha também tem a ver com o desejo da escola de falar sobre personalidades pretas e celebrar a sua comunidade. O enredo faz parte da agenda dos 60 anos da escola, que será comemorado em março.
"Hoje, as manchetes dos jornais, infelizmente, pouco destacam a representatividade de pessoas como Satã no Brasil. Colocar Madame Satã como destaque de um jornal é reafirmar a importância de vozes como a dele não serem silenciadas. Vamos estampar Satã por aí. É preciso aplaudir – incansavelmente – a bicha que não treme no salto!", comentou o carnavalesco Edu Gonçalves.
O cartaz foi assinado pelo Edu, pelo designer Ney Júnior e pelo diretor cultural Igor Damásio, e faz referência ao "O Pasquim", jornal de grande circulação na época de Satã, que divulgava recorrentemente os causos envolvendo "o bicha malandro", como ele próprio se chamava.
Em 2020, Satã foi retirado da lista de personalidades pretas homenageadas pela Fundação Cultural Palmares, fundada pelo Governo Federal para a promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira. Foi preciso uma ordem judicial para que ele fosse recolocado em 2021.
"É um exemplo de como pessoas pretas são tratadas no atual momento político do país. É preciso, em vista disso, deixar corpos bichas pretos, abjetos, passarem! Deixem Satã dançar, rascunhar infinitos movimentos no espaço como a impetuosidade de um vendaval", afirmou Igor Damásio.
"Segundo o relatório de 2021 da Transgender Europe (TGEU), responsável globalmente pelo monitoramento de dados levantados por instituições trans e LGBTQIAP+, embora a transfobia seja tipificada como crime desde 2019, o Brasil é o país que mais mata trans e travestis no mundo. Falar de Satã, nesse sentido, é necessário e urgente. Deixem Satã serpentear sobre o asfalto, ora ou outra tirando o chapéu e saudando aos seus!", disse o diretor cultural Mateus Pranto.