Binho Cultura participa da Bienal do Livro RioReprodução

Rio - O escritor e cientista social Binho Cultura participou nesta sexta-feira da mesa "Eu posso escrever - o percurso entre o desejo de contar uma história e sua publicação", na Bienal do Livro Rio, que acontece no Riocentro, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Em sua participação na mesa, ao lado de Aline Bei, Stênio Gardel e Cristiane Sobral, Binho falou sobre como a escrita é um poderoso instrumento de libertação individual e social.
Binho é o idealizador do projeto "Palavras que Libertam", do Degase, que oferece oficinas de produção textual e convida os socioeducandos do Novo Degase a reescreverem suas histórias. "O 'Palavras que Libertam' é um projeto de escrita terapêutica, que tem como objetivo estimular a reflexão sobre a vida dos socioeducandos e seus conflitos, transformando o papel com suas histórias num espelho onde eles observam suas trajetórias, com momentos bons e ruins, onde se tornaram piores, onde se perderam, e principalmente, o ponto para virar a chave da mudança e não voltar a cometerem os atos infracionais. A principal ajuda está na diminuição da reincidência, onde a maioria dos alunos do Projeto não retorna ao crime" afirma. 
O escritor viu na prática a vida de muitos jovens ser transformada pela leitura e pela escrita. "Conseguimos que a Direção Geral (do Degase) entendesse a importância de levarem os livros para dentro das celas, o que ainda não é possível em todas as unidades de internação, porque essa prática precisa ser associada a um projeto que oriente o cuidado com o livro. Quanto à reincidência, os próprios textos escritos por eles me orientam a conduzir os diálogos e, a maioria, não todos, têm interesse em mudar de vida", explica o idealizador do projeto, que ainda encontra dificuldades em reinserir os jovens na sociedade. 
"A grande dificuldade é aqui fora, porque não encontramos oportunidades para eles. Contraditoriamente, dentro do Degase eles têm oportunidade de fazerem cursos, jovem aprendiz, esportes e acesso a políticas públicas que em seus territórios não têm, além de cinco refeições por dia, equipe técnica formada por Assistentes Sociais, Pedagogos, Psicólogos, Terapeutas. Aqui fora tudo isso se perde porque por mais que os Centros de Referências de Assistências Sociais tentem ajudar, as oportunidades são muito baixas", lamenta. 
Binho tenta levar para esses jovens uma grande variedade de autores, sempre com a preocupação com a identificação e representatividade. "Apresentei os livros de autores e autoras que têm realidades parecidas com as mães, avós ou irmãs, como Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro, Eliana Alves Cruz. E também outros que moram em favelas com a realidade atual deles, como eu, que sou autor de seis livros, moro na Vila Aliança. Também apresentei o trabalho de Jessé Andarilho de Antares, Otávio Júnior e Sérgio Vaz, etc. Temos em comum a narrativa da sobrevivência às mais variadas formas de violência, eles se identificam e as socioeducandas também". 
E o primeiro passo para que esses jovens consigam publicar seus livros já foi dado. "Vamos publicar uma Antologia com os textos deles. Tem aluno de Paraty a Campos, mas o livro só ficará pronto em março porque a gráfica não deu conta das demandas pós quarentena".