Roberta Castro aparando as pontas dos cabelos em casa  - Divulgação
Roberta Castro aparando as pontas dos cabelos em casa Divulgação
Por Priscila Correia
Rio - De alguns anos para cá, muito tem se falado sobre autocuidado e como esse movimento é importante para a autoestima e crescimento pessoal das pessoas, especialmente de mulheres e mães. Mas com a chegada da pandemia no ano passado, muitas precisaram aprender a cuidar de si, literalmente. E o aprendizado adquirido nesse período, seja em relação ao autocuidado pela parte estética ou emocional, foi enorme.

Exemplos de mulheres que se dedicaram a aprender nesses últimos meses não faltam. A fotógrafa e blogueira Thays Cubos, mãe de Mariana, de 8 anos, conta que depois que percebeu que o isolamento e a pandemia não durariam apenas 40 dias, resolveu aprender a fazer luzes e depilação em casa e sozinha. Para isso, pesquisou produtos na Internet, fez a compra do que precisaria por Whatsapp, assistiu a vídeos no Youtube que ensinavam os processos e escalou o marido para ajudar no que fosse necessário. “Eu realmente comecei a sentir a necessidade de pintar as unhas, de arrumar meu cabelo, de me enxergar arrumada. Fui fazendo e aprendendo aos poucos. Não ficava como eu queria? Fazia novamente e, assim, fui me aperfeiçoando. Tanto que o salão voltou e, mesmo assim, continuei fazendo em casa”, comenta.
Já a relações públicas Roberta Castro, mãe de Filippo, de 4 anos, conta que embora sua relação com o autocuidado já existisse há muito tempo, ficou oculta durante o final da relação com seu ex-marido, que coincidiu exatamente com o início da pandemia.
“Foram dois momentos muito difíceis acontecendo ao mesmo tempo e ainda com um filho pequeno. Naturalmente, e com tanta coisa acontecendo, fui deixando de olhar para mim sob todos os aspectos, não apenas estético. Então, quando comecei a fazer terapia para vivenciar esse turbilhão, passei novamente a me enxergar. Aos poucos, fui me resgatando e voltando a sentir vontade de me arrumar. Mas como estava no meio da pandemia e sem poder sair, comecei a pintar as minhas unhas sozinha; aprendi a cortar meu próprio cabelo e do meu filho vendo tutorial e com dicas do meu cabeleireiro; comecei a fazer a sobrancelha etc. Pode parecer bobo, mas esse aprendizado ajudou muito no meu caminho para reconstruir a minha autoestima e retomar a minha rotina de autocuidado, ambos fundamentais tanto para eu me reencontrar após a separação, quanto para enfrentar esse pesadelo da Covid”, fala.

Mas houve também quem tenha preferido pausar ou alterar os tratamentos que costumava fazer. Esse foi o caso da bióloga Paula Silva, mãe de João e Luiza, de 9 e 11 anos. Há tempos dependente de colorações para cobrir os fios brancos e da rotina de frequentar salões uma vez por semana, fosse para cobrir os fios, fazer a unha, depilação etc, ela resolveu, com a pandemia e a impossibilidade de sair de casa, dar um tempo e se redescobrir. Passou a assumir o grisalho que sempre protelava por causa algum evento ou ocasião em família, deixou as unhas “respirarem” sem esmaltes por um tempo, e abriu mão de maquiagens e afins – a única rotina que manteve foi o uso de hidratantes para o corpo e rosto.
Publicidade
“Acho que esse é um movimento que muitas mulheres querem fazer, mas, por imposição da sociedade, acabam sucumbindo. Se arrumar é ótimo, eu adoro me sentir linda. Mas não pode ser uma obrigação. Tenho amigas que entraram em parafuso por não conseguirem fazer em casa o que antes faziam no salão. Mas eu encontrei nesse período uma motivação para me conhecer novamente. Posso voltar a pintar os cabelos, ir à manicure etc, mas gosto de mim sem tudo isso também”, explica. E continua: “E ao contrário do que muitos pensam, ficar ao natural não significa ser desleixada. Eu continuo tomando banho, penteando o cabelo, cortando a unha, só não sou mais refém disso”, brinca.

Prazer em se cuidar, e não obrigação

Embora, normalmente, as pessoas liguem autocuidado à estética, esse movimento é muito mais que isso. E durante a pandemia, ajudou muita gente a evitar pensamentos depressivos. Para a psicóloga Luciana Lima, esta é a qualidade fundamental para atravessar períodos de crise como o atual. Porém, é importante lembrar que esse “se cuidar” vai muito além da aparência. “Faz parte também desse processo a higiene dos pensamentos, uma dieta alimentar equilibrada, exercícios físicos, o acolhimento dos próprios sentimentos e emoções etc”, diz.

Luciana lembra, ainda, que embora muitas mulheres tenham aprendido a se cuidar para se sentirem mais bonitas e fortes, outras enxergaram essa necessidade de aprender algo como uma obrigação – e isso não é legal. “O autocuidado é um processo para aceitar-se e valorizar-se, e não para estar mais próximo de uma imagem ideal. É um processo que deve ser guiado por motivação e necessidades individuais e internas, e não deveria ser para atender padrões de beleza vigentes. Essa normatização da beleza que escraviza muitas pessoas em rituais de beleza podem ser agressivos e exaustivos”, analisa.

Donata Hamada, que é psicóloga e supervisora de saúde mental da Amparo Saúde, explica, também, que ser vaidosa é saudável e alimenta a autoestima, mas é preciso ter muito cuidado com a busca pela perfeição. “Padrões de beleza existem há séculos, mas a fixação por uma aparência perfeita pode representar riscos físicos e psicológicos, fazendo com que a pessoa tome atitudes impensáveis, com consequências irreversíveis”, enfatiza. E complementa: “O autocuidado também engloba respeitar o nosso corpo, nossas vontades e limites. Esses cuidados nos deixam mais dispostos para realizar as tarefas diárias”.


Dicas extras

A seguir, pedimos algumas dicas para especialistas sobre como dar aquele up em casa.
Sobrancelhas:
Publicidade
“É importante que a mulher tire apenas os pelos em excessos das sobrancelhas e não mexa no molde, para não estragar o design. Então, a pessoa pode retirar os pelos que ficam no meio - entre as duas sobrancelhas (para não ficar “monocelha”) – e embaixo da pálpebra o mais distante possível do desenho. Para quem tem os pelos que crescem muito e, às vezes espetados, devem ser cortados apenas no início das sobrancelhas e os que realmente estão excedentes. Jamais corte do meio para o final, pois um fio cortado a mais pode acabar com toda a modelagem e fazer “buracos”. E uma dica muito válida é passar óleo de rícino uma vez por semana, que além de ajudar no crescimento dos pelos, eles ficam mais maleáveis” - Aline Vieira, especialista em embelezamento do olhar, terapeuta em saúde do cílio e criadora do Aline Beauty Academy.

Fios brancos:
“Crie uma rotina de hidratação. Quem quer manter os cabelos brancos hidratados, deve incluir produtos como creme de tratamento, óleos capilares, manteigas e ceramidas na rotina de cuidados. Faça também um protocolo intercalando tratamentos de nutrição, hidratação e reconstrução capilar, que podem ser feitos no salão ou em casa. Evite produtos que ressequem os fios brancos. Se tem o hábito de usar produtos como mousse e spray fixador para finalizar o cabelo branco, saiba que essa não é uma boa ideia. Os fios grisalhos são frágeis e podem não reagir bem à fórmula desses produtos, resultando em fios mais secos e amarelados. E para resolver a questão do amarelamento dos fios, invista em um máscara roxa, produto específico para esses casos” - Hector Cubilos, hair stylist do Mais Bonita Centro de Beleza, em Niterói.